Capítulo 2

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Quando o pretinho se vai, tudo o que se passa na cabecinha de Marie, é como aquele atrevido ousou pisar aquelas patas imundas em sua residência. Oras, teria que mandar a empregada limpar de novo o piso dos fundos, que era onde mais ficava. Nem que quisesse muito iria deitar ali, imagina como ficariam seus lindos e macios pelos deitando onde aquele vira-lata tinha pisado?

É claro que não sujou, mas por algum motivo só a presença do pretinho irritou-o. Aquele cheiro tão agradável e gostosinho de laranja... deixou ele tontinho. Os outros gatos do condomínio eram alfas com cheiro fortíssimo e marcante, dava dor de cabeça nele, mas o do alfinha preto não, bem diferente disso. Secretamente ele se pegou aproveitando disso enquanto ele ainda estava ali perto dele, que jogou seu charme de uma lady sobre ele, ondulando o quadril lentamente enquanto passava a cauda peluda no focinho dele.

No entanto, Jungkook só foi ousado a esse ponto com Eunwo. Com os outros gatos que apareciam nos fundos da mansão ele se mantinha arisco, mesmo devendo ser dócil por se tratar de um ômega, Marie fugia dos padrões, inclusive fisicamente. Seu corpo era maior do que o comum visto em bichanos ômegas, e ai de quem tentasse chegar perto de seu potinho de ração ou petisco.

Um dia desses um felino sem raça alguma apareceu, exalando um forte odor de alfa, que logo irritou Jungkook pela dor de cabeça, tentando inutilmente roubar um pouco de carne que estava na pia descongelando. O branquinho foi rápido em defender o filé mignon que seria o prato principal daquela noite, dando patadas e mais patadas no olho do bichano alfa, arranhando-o bastante.

Marie afiava suas unhas diariamente com uma lixa, em especial, quando estava em forma humana, deixando-as no formato stiletto. Jungkook gostava de sua forma animal, em especial, do mimo que recebia de sua dona Mia, que ficava boa parte do dia em casa, enquanto o marido, Faustus, trabalhava em uma multinacional.

Mia, uma híbrida de gato ômega, era estéril, por esse motivo, adotou Jungkook junto de seu marido, um híbrido de gato alfa que a entendeu e continuou amando mesmo sabendo que não teriam filhotes legítimos. Apoiou-a em sua decisão desde o início, e quando ela colocou na cabeça que seria um gatinho branco ômega, ninguém foi capaz de fazê-la mudar de ideia.

Diferente dos padrões estabelecidos sobre ômegas serem tratados como somente seres férteis e de enfeite, Mia sofreu tanto tentando engravidar, que não se importava se viesse um filhote ômega, alfa ou beta. Como dizem as melhores mães grávidas: o importante é que venha com saúde. Ela pensava desse jeito, e por isso, o Angorá teve a sorte de ser adotado.

O abrigo onde ele morava se chamava "Lar Temporário", e ficava numa região bem movimentada de Seul. Abrigava somente gatos, a maioria trazida das ruas da cidade ou alguns que foram deixados na porta do abrigo. Existiam aqueles que nunca eram adotados, que em sua maioria eram gatos rajados, adultos, deficientes, tricolores ou pretos. Os gatos pretos nem estavam nesse abrigo, nenhum sequer, pois infelizmente a sociedade da grande Seul era racista e acreditava em superstições envolvendo os pobrezinhos.

Uma ninhada de gatinhos brancos peludinhos chamou a atenção de Mia assim que entrou no local de convivência dos bichanos, eles estavam mamando na mãe gata, que não aparentava ser tão adulta, pois era pequena. Mas um dos filhotinhos estava distante, isoladinho num canto onde só tinha ele, e foi justamente ele que Mia escolheu naquela tarde.

Não tinha nenhum tipo de preconceito ou racismo, se tivesse um pretinho ali ela o escolheria sem problemas, mas aconteceu como alguns dizem: foi amor à primeira vista. Ela se perguntou o porquê do branquinho estar isolado e logo foi permitido que ela o pegasse no colo. Ao sentir a pelagem macia e cheirinho de leite com cereja, viu que se tratava de um pequeno macho ômega e não encontrou nenhum problema nisso.

Assinou o termo de responsabilidade pelo gatinho e então se retirou dali, com um pouco de dor no coração, pois vários outros gatinhos ficaram a olhando, como se esperassem que fossem levados também. Assim que saiu do abrigo, se encaminhou para o shopping e comprou tudo o que era necessário para o pequeno Angorá.

O gatinho do condomínio (JJK-PJM) ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora