Beijos de Takô

A partida

23 de Outubro

Querido Will,

Acordei hoje com os gritos de Jane: " A primavera chegou, olhem às flores, às flores", o céu estava mais lindo que nunca, o cheiro de orvalho nos convidava a passar o dia no deck, ouvindo os pássaros cantarem, então tratei de levantar-me e preparar o café, mamãe estava de saída e eu teria de me virar para o almoço, eu não ligava, qualquer macarronada me servia para forrar o estômago, eu só teria de levar Jane para casa de papai e o dia me seria livre. Livre para que né? Para dormir ou estudar física quântica? Se engana quem pensa que isso me animava, sua falta me fazia desenvolver atividades absurdas como frequentar as aulas de vôlei.
A torradeira apitou, o café estava pronto e minha bolsa estava arrumada quando papai bateu a porta para buscar Jane (o final de semana seria lento para alguém pelo visto), tratei de pôr logo para dentro a comida e segui a pé para o colégio, no caminho encontrei Dani, aquele seu amigo dos jogos de rpm, fomos caminhando até o posto 7 e lembrei do quanto você gostava daquele lugar, era ali onde almoçavamos todas as terças e sextas. Me despedi de Dani e em poucos minutos estava nos corredores do Centro Educacional Mackenzie, peguei o material das aulas de hoje e fui correndo para a sala, atrasada como sempre, no caminho sempre encontrava algo para me distrair e acabava esquecendo dos meus horários, diferente de você que sempre era pontual e vivia para comprar relógios, acho que sua maior obsessão depois da música era relógios...
O dia certamente não queria acabar, aquela aula de biologia já me dava náuseas, e sem você aqui para zombar das roupas da professora Andréia ficava mais sem graça ainda. Demorou, mas acabou, eu estava a caminho de casa quando a estranha da Chris gritou para que eu parasse, eu realmente acho que aqueles piercings todo danificaram o cérebro dela, mas como eue ia dizendo , ela parou-me para lembrar que havia uma festa na casa de Greg hoje, eu a disse que iria pensar, mas como me sinto deslocada demais para encontrar drogados e loucos por peitões em uma sexta ficarei por aqui assistindo revenge. Você sabe eu nunca fui de festas, ainda mais ir a uma festa sozinha, era como pedir para ser devorada pelos olhares de urubu daqueles garotos esportistas. Fala sério, meu seriado preferido, a receita do nosso sorvete de flocos e um edredom era o que me bastava. Em poucos minutos devorei uma tigela de sorvete, consequência de quem esqueceu de almoçar. A geladeira estava vazia e minha única opção era sair de casa e ir atrás de algum fast food aberto, e olha só o mais próximo ficava a um quarteirão da casa de Greg, eu só teria que rezar para sair de lá sem ser vista e com a minha comida, que era o que importava.
O burguer king estava aberto (por sorte Oh Deus às 2 da manhã), engraçado que você nunca gostou daqui, mas sempre me esperou quando vinhamos aqui. A moça do caixa perguntou por você, e sem deixar que eu respondesse, supôs que estivesse dormindo, se você estivesse aqui dormindo eu não deixaria barato por me fazer andar sozinha a noite em plena madrugada, eu teria feito você preparar uma daquelas suas especialidades que era lasanha e estrogonofe, saudades das suas comidas, por enquanto só das comidas, estar com fome me irritava bastante.
Na volta para casa o que eu previa aconteceu, Greg me viu de moletom e calças desbotadas, sem contar nos meus cabelos que estavam feito palha de vassoura, não havia menor necessidade de me gritar em meio aquelas pessoas, tudo bem que éramos amigos e eu adorava as piadas dele, mas desta vez ele ia me lagar ôh se ia, só que no momento eu não estava afim se ficar em festa alguma, passei a calçada, para piorar havia um idiota fumando, sabe eu odiava aquela nicotina exalando no ar e ele ainda fez questão se tragar na minha cara, "seu mal educado" eu o disse, ele estava tão chapado, mas quem não entendeu nada fui eu, pense no disperdício que era o azul daqueles olhos estarem naquele momento avermelhados.
Retornei para casa, enfim comi, rezei por você e pedi que o amanhã fosse melhor que o hoje.

Com carinho e beijos de takô,

Ema.