Berlim e suas baladas industriais.

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    O dia parecia um tanto nublado, mas mesmo assim, o sol aquecia o centro de Berlim, que mostrava-se maravilhosa em toda sua magnitude. Red parecia fascinada, desempenhando papel de turista. Um boné preto e óculos escuros compondo o básico disfarce, mesmo que os lábios estivessem vermelhos como sempre. Era reconfortante estar passeando por aí, indo às compras. Quem diria que um dia poderia estar fazendo aquilo, quando até tempos atrás não tinha um tostão no bolso e nem lugar para dormir. Nunca importou-se muito com dinheiro, porém, ele quebrava o galho e trazia pequenas doses de satisfação.
  - Red! – Lilly chamou a amiga, que era bem avoada às vezes. – Red! Tá ouvindo? – Insistiu, passando a mão frente ao rosto dela.
  - Tô aqui. – A ruiva sorriu, voltando a realidade. – O que foi? – Indagou, encarando a amiga. – Cadê a Cass e o Matt? – Deu falta da dupla, que os acompanhava até pouco antes.
  - Estava brisando de novo, não é? – A morena riu baixo, passando um cigarro para a vocalista. – O Matt e a Cass foram dar uma olhada num brechó, logo ali na frente. Eu estava te falando que vamos parar pra comer mais tarde, naquele restaurante da esquina. 
  - Ah sim... Agora compraremos mais algumas coisas. – Red informou, avistando uma vitrine escura com manequins diferenciados. As roupas num estilo alternativo, chamaram imediatamente, a atenção da jovem. – Preciso ver aquilo. – Apontou para a pequena entrada.
  - Que novidade... – Lilly debochou, sabendo do gosto da ruiva. Era claro que ela escolheria aquela loja, cheia de adornos e coisas em látex, couro e camurça. - Muito que bem, vamos entrar.
  - Sim! - Red parecia uma criança, empolgada para fuçar em tudo. Pisaram no ambiente de paredes escuras, os olhos da mulher brilhando de excitação. Tudo ali era lindo. Passou os dedos pelas araras, sentindo as peças em couro. Ficaria falida, com certeza. Fitou um vestido longo com duas fendas perigosamente grandes. - Quero. - Falou, indo até a roupa.
  - É um lindo vestido. - Lilly opinou, sincera. - Experimente. - Encorajou a amiga, que parecia um tanto insegura. - Pelo amor! Mostre estas pernas! Sempre usa meia calça, escondendo as belas tatuagens e as coxas grossas.
  - Tem razão. Vou pedir um número maior, porque esse aqui não vai passar no meu peito. - A ruiva brincou, se apegando as palavras da morena. Logo uma vendedora se aproximou, as ajudando no que precisavam. 
  Podemos dizer que Red acabou ficando por um longo período ali, provando e desfilando em frente ao espelho, combinado peças diversas e que a deixavam cada vez mais empolgada. Lilly não ficou atrás, escolhendo coisas para si também. Pareciam duas adolescentes deslumbradas, comprando a primeira meia arrastão e batom preto. Não foi surpresa ao serem reconhecidas por alguns clientes e vendedoras. Aquilo só fez com que elas lhes empurrassem mais roupas e acessórios, como perucas e brincos maravilhosos. Distribuíram alguns autógrafos, ainda um tanto chocadas pela fama.
  - Red, olhe este brinco! É a sua cara! – A baterista apontou o objeto, sorrindo maliciosa. – Lhe parece familiar?
  - Heartagram. –  A jovem respondeu, rindo baixo. – O pior é que eu amei. Vou levar. – Deu de ombros, pedindo a bijuteria para a funcionária. – Acho que está bom. Escolhemos quase tudo da loja. – Olhou ao redor, vendo a pilha de tecidos.
  - Tem razão. – Lilly concordou, observando a amiga recolocar o boné e os óculos. – Vamos pagar e ir comer.
  - Por favor. – Red suspirou alto. – Toda essa coisa de consumismo dá uma puta fome. – Resmungou, indo até o caixa. O resto foi rápido e minutos depois estavam andando por aí, levando mais e mais sacolas. Optaram por uma mesa externa quando chegaram ao restaurante combinado, felizes em torrarem grana em coisas bonitas.
  - Tô vendo que compraram o mundo. – Matt brincou, se aproximando das amigas. Ele também carregava uma boa quantidade de embalagens.
  - Pelo jeito sou a mais ajuizada. – Cassie zombou, colocando as coisas adquiridas no chão e sentando ao lado da vocalista. – Tô morrendo de fome! Passear abre o apetite.
  - Vamos pedir, então. – Lilly sentenciou, chamando o garçom. Não demorou muito e todos se deliciavam com a culinária alemã.
  - Peguei esse folheto com um cara. – Matthew começou, tirando o papel do bolso e o colocando sobre a mesa. – Balada alternativa na zona industrial da cidade. – Proferiu sereno, mas, seus olhos denunciavam a animação que sentia. – Nós iremos, não é? – Questionou, esperançoso.
  - Não sei não... – Red ponderou. – Não conhecemos Berlim. E se entrarmos numa furada?
  - Ela tá certa. – A baterista concordou com a amiga. – Como iremos saber se não é uma daquelas festas flopadas?
  - Só tem um jeito de sanar a dúvida. – O loiro sorriu de lado. – Indo. – Deu uma garfada na comida, satisfeito. – Para que não tenha perigo, podemos chamar os caras do HIM, que tal? Um grande grupo, onde todo mundo se protege.
  - É... olhando por esse lado. – Red pensou por alguns segundos. – Convide eles e se aceitarem, eu topo ir. - Deu de ombros, negando internamente os outros motivos de ter gostado da ideia.
  - Como desejar. – Matt pegou o celular, discando rapidamente para Mige, com quem desenvolvera um rápido laço. Falou sobre sua ideia de sair, explicando o temor das companheiras e após uma rápida resposta, desligou o aparelho. – Escolham suas melhores roupas, garotas. – Soltou, vitorioso.
  - Balada desconhecida, provavelmente regada a Sisters of Mercy, aí vamos nós... – Cassie comentou zombeteira, fazendo os amigos rirem. Aquilo certamente iria prometer, o que somente tornava tudo mais divertido. Ficaram por ali mais um pouco, rodando pelas outras lojas, aproveitando a folga e apostando a primeira besteira que fariam no decorrer da noite, pois era claro que aprontariam, só não sabendo quem iniciaria as peripécias. 


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  - Tá muito exagerado? – Red perguntou, olhando-se no espelho. Estava no quarto de Lilly, com Cass e Mirkka completando o bando. – Tô achando curto demais...
  - Cale a boca. – A morena resmungou, impaciente. – Sabe que está linda neste vestido. – Pontou, observando a amiga em um tubinho de veludo molhado, preto. A alça fina evidenciando as tatuagens. Havia alisado os cabelos, que caiam pelos ombros. Nos lábios, o batom vermelho tão chamativo. Os grandes e espertos olhos adornados com rímel e singelos pontos de luz, nos cantos internos. Parecia uma boneca.
  - Está um arraso, Red. – Mirkka elogiou, sincera. – O corte do vestido lhe caiu muito bem.
  - Obrigada. Geralmente uso coisas mais folgadas. – A ruiva justificou, analisando seu reflexo uma última vez.
  - Bem, acho que já podemos ir, então. – Cassie levantou-se do colchão macio, indo até o frigobar e tirando algumas garrafinhas de vodka. – Vamos fazer um aquecimento. – Falou, marota. Passou os vidrinhos para cada um dos presentes, aguardando que abrissem. – No três. Um, dois... três! – Levou a bebida aos lábios, virando todo o conteúdo. Coisa que todas as outras fizeram. – Agora sim! – Sorriu abertamente. – É melhor descermos. Ainda temos que chamar um táxi. O restante do pessoal já deve estar lá. – Avisou, indo para a porta.
  O percurso até a recepção do hotel foi rápido. Lá, pediram a atendente que lhes arrumassem o veículo e logo o quarteto estava a caminho do bairro industrial. Era inegável a sensação de ansiedade. Todas as expectativas em relação a festa crescendo consideravelmente, cada uma delas imaginando como seria o local por dentro. Demorou alguns minutos até chegarem ao galpão, pois ficava do lado oposto da cidade. Não havia muita movimentação na entrada, apenas alguns seguranças e meia dúzia de pessoas, a maioria sendo de rostos conhecidos. Pagaram e desceram do automóvel, Red bufando e ajeitando o vestido, que havia subido muito.
  - Pensei que não viriam mais! – Shaun disse, impaciente, não dando-se o trabalho de um “olá”.
  - Culpe a Red. – Lilly deu de ombros, arrumando a bolsa no corpo.
  - Calem a boca. – A ruiva mandou, com cara de poucos amigos. – Estamos aqui, não estamos? Vamos entrar nessa porra logo, antes que eu desista. – Encerrou o assunto, tomando a frente da situação. Ninguém ousou revidar, surpresos pela súbita rabugice.
  Passaram pelos seguranças, ganhando pulseiras verde limão, não sem antes desembolsarem alguns trocados. A grave batida ritmada ficava cada vez mais forte e alta, conforme adentravam o ambiente escuro. Alguns focos de luzes tremeluzentes aqui e ali, ditavam o clima misterioso, somada a fumaça de gelo seco que percorria o chão, como névoa espessa. Nada poderia ser mais gótico.
  - É isso. Estamos em algum filme de terror adolescente dos anos oitenta. – Lilly comentou, sarcástica.
  - Eu gostei! – Cassie gritou, exibindo um sorriso de pura excitação. – E tá tocando Temple of Love! - Riu, lembrado da piada de horas antes sobre o Sisters of Mercy.
  - Vamos dançar? – Mirkka propôs, já puxando a baterista para o meio da multidão. Não era fácil identificar as faces, o que se tornava uma vantagem, não havendo margens de serem reconhecidos.
  Red observou os amigos sumirem entre as pessoas, os olhos acostumando-se lentamente com a falta de claridade. Tirou o maço de cigarros do decote, acendendo um e metendo o foda-se. Avistou um bar improvisado mais à frente, rumando com ânimo renovado até lá. Pediu uma cerveja, ajeitando novamente o vestido. Aquilo estava lhe incomodando profundamente. Encostou no balcão improvisado, cantarolando distraída enquanto a bebida não chegava, mal dando conta da figura alta que lhe encarava não muito distante.
  - Olá, querida. – A voz grave soou perto do ouvido da ruiva, assustando-a.
  - Meu Pai do Céu! – A vocalista sobressaltou-se, rindo em seguida. Era impossível não reconhecer o dono do tom profundo. Virou o rosto para a origem do maravilhoso som, encontrando os olhos verdes que lhe hipnotizaram por alguns segundos. – É... e aí, o que tá achando? – Apontou para o redor.
  - É tudo bem escuro. Eu gosto. – Ville sorriu, trazendo a atenção de Red para a boca tão convidativa. – E você, está apreciando? – A pergunta parecia inocente, mas, a jovem sabia que havia muitos sentidos escondidos.
  - Estou sim. Os maquinários dão todo um charme. – A mulher brincou, rindo baixo na orelha de Valo, que se encontrava um tanto curvado. Só assim para manterem a conversa.
  - São ótimos esconderijos, também. – O moreno continuava soando dúbio, querendo ver onde tudo aquilo poderia chegar.
  - Tá sabendo bem... – Red retrucou, maliciosa. Neste momento o barman chegou com a cerveja, cortando o clima momentaneamente. – Servido? – Indagou, levantando a garrafa.
  - Agradeço, mas já tenho a minha. - Valo mostrou seu copo com uma dose de algo rosado.
  - Que cor linda! - A ruiva exclamou, encantada. - O que é? - Seus olhos transpareciam uma curiosidade quase infantil.
  - Não faço a mínima ideia. - O músico confessou, divertido. - Vi uma mulher tomando e pedi igual. - Riu, dando de ombros. - Quer provar?
  - Posso? - Red o viu assentir, antes de pegar o copo e levar aos lábios. Um forte gosto de cerejas tomou-lhe o paladar, somado ao que parecia ser gin e alguma especiaria. Pimenta rosa, talvez? Não saberia dizer com plena certeza, porém, o resultado final mostrou-se muito saboroso. - Eu gostei. - Sorriu, tomando mais um gole e devolvendo o drink ao dono.
  - Pode ficar com ele, então. - Ville empurrou delicadamente a bebida de volta a jovem, que lhe olhou surpresa.
  - Vamos fazer assim, dividimos esse coquetel e a cerveja. Quando acabarem, pedimos algo diferente. - A vocalista propôs, colocando sua garrafa nas mãos do rapaz, reparando em como eram grandes. Foi inevitável não as imaginar lhe apertando em lugares específicos. Respirou fundo, tirando aqueles pensamentos da cabeça ou o atacaria ali mesmo. Mudou de posição, bufando ao constatar que o vestido subira novamente. Ajeitou-o, sendo assistida pelos orbes verdes.
  - O vestido lhe caiu muito bem, querida. - O moreno elogiou, seu semblante indecifrável.
  - Muito obrigada, de verdade. Esse cacete fica subindo e mostrando o meu útero, mas quer saber? Foda-se! Eu tô gostosa! - Decretou, cansada de ficar se policiando.
  - Está certa. - Valo comentou, dando um gole na cerveja.
  - Sobre meter o foda-se? - Red perguntou, o encarando.
  - Também... - Foi a resposta dele, que sorriu ladino. Queria puxar a mulher para si e provar dos lábios rubros, ainda mais quando a percebeu corar com a simples palavra proferida. Não saberia dizer o motivo de deseja-lá tanto. Poderia ser o senso de humor, a gentileza ou apenas a beleza. Se conheciam a menos de uma semana e havia acabado um namoro na manhã anterior, entretanto, parecia tão certo investir... provocar e ceder aos instintos. Aproximou-se alguns centímetros, parando perigosamente perto.
  A ruiva prendeu a respiração, engolindo em seco pela antecipação. Ele iria lhe beijar. Ele iria lhe beijar e Deus sabia, seria correspondido com uma vontade ímpar. Era completamente certo que no instante que sentisse aquela boca bem desenhada, não teria quem a fizesse desgrudar. Aproveitaria os lábios de Ville de tal modo que ficariam inchados de tanto sugá-los. Conseguia sentir o hálito do moreno batendo em sua bochecha. Seria agora...
  - Red! - Matt gritou, puxando a amiga, mal percebendo o que fizera. - Red! - Abraçou a ruiva, rindo alto. - Eu te amo, sabia? É claro que sabe! - Riu mais um pouco, antes de botar os olhos em Valo. - E aí, Ville? - Saudou-o, sorrindo abertamente. Recebeu um ligeiro aceno, como resposta.
  - Matt, não faz uma hora que estamos aqui. O que você usou? - A vocalista analisava o amigo, evitando os olhos verdes. Seu corpo ardia, pedindo o rapaz. Queria matar Matthew por estragar seu momento. Decidiu empurrar aquilo para longe, por enquanto. A urgência ali, sendo a atitude do loiro.
  - Tomei uma bala. - O guitarrista confessou, animado. - Tô me sentindo tão bem! - Pulou no próprio lugar, como uma criança hiperativa. - Vamos dançar? Quero dançar! - Gritou, praticamente arrastando a ruiva para a pista, não lhe dando tempo de protestar.
  Red, arregalou os olhos e se concentrou em não tropeçar nos pés alheios. Procurou por Ville, encontrando um leve sorriso que lhe era dirigido. Não acreditava no quanto era azarada. Estava tão perto... tão perto...
  Quis chorar pela oportunidade perdida. Suspirou resignada, deixando-se ser conduzida pela multidão. Era isso. Sua chance fora jogada no lixo. O jeito sendo esquecer e tentar aproveitar o resto da noite, ou mataria Matthew. Focou na música que tocava, reconhecendo os acordes de Song 2 do Blur, o riff mundialmente conhecido fazendo as pessoas vibrarem entusiasmadas. Se juntou ao coro que cantava, vendo o amigo demasiadamente alegre saltando com o ritmo da canção. Ficou assim, cuidando para que ele não fizesse nenhuma merda, apenas se divertisse. Arriscou uns passos, dedicando-se em curtir a vibe gostosa. Poison do Alice Cooper tomou o lugar da melodia anterior, fazendo a jovem entoar alto a letra que tanto gostava.
  - Your cruel device (Seu mecanismo cruel) ... – Red cantou, fazendo caras e bocas. -   Your blood like ice (Seu sangue como gelo). One look could kill (Um olhar poderia matar). My pain, your thrill (Minha dor, sua vibração) ... – Percebeu que Lilly, Mirkka, Jason e Cass se aproximavam, todos encarnando os trejeitos da “titia Alice”. Era muito legal ver a nova colega tão enturmada.
  - I wanna love you but I better not touch *Don’t touch* (Eu quero te amar, mas é melhor não tocar *Não toque*) – A baterista fez menção de encostar na amiga, desistindo no último instante.
  - I wanna hold you but my senses tell me to stop (Eu quero te abraçar, mas meus sentidos me dizem para parar) ... – A ruiva continuou, rindo externa e internamente. Virou o corpo de modo dramático, como se precisasse se afastar para não ceder aos instintos. -  I wanna kiss you but I want it too much *Too much* (Eu quero te beijar, mas eu quero muito isso *Muito*) ... – Manteve a atuação, voltando a atenção para os amigos e parando extasiada ao ver Mirkka avançado sobre Lilly, tascando-lhe um beijão. Gritou, vibrando com o acontecimento.  Pelo menos alguém havia se dado bem. Foi até Cassie e Jay, explicando o melhor que podia em meio ao som estridente, o que Matt havia feito. Pediu para que eles cuidassem dele um pouco, para que pudesse ir ao banheiro. Os viu assentir antes de irem para perto do guitarrista, que parecia alheio a tudo e todos.  
  O caminho até os sanitários foi maçante. Até porque, não sabia onde ficavam. Teve que procurar por si só, evitando ao máximo pedir informações. Estava quase desistindo quando encontrou o famigerado local. Por sorte não havia filas, porém, também não havia destinação de sexo. Entrou, procurando um box vago, rindo baixo ao escutar gemidos estrangulados. Desejou ser ela ali, sendo fortemente fodida. Sacudiu a cabeça algumas vezes, entrando no cubículo, encarando a privada e dando-se conta que não estava apertada. Talvez poderia ter sido seu inconsciente, querendo dar um tempo de toda a agitação ou a vã esperança de reencontrar Ville e poder retomar o que não havia acontecido. Ainda devaneava sobre aquilo, não reparando nas pessoas que entravam, apenas saindo das reflexões ao reconhecer a voz grave. Prestou atenção na conversa que rolava, achando-se uma intrometida por isso, porém, não fazendo nada a respeito.
  - É muita sorte trombar com Ville Valo no meio de uma balada. - Uma das estranhas falou, usando tom de flerte. - É bem mais bonito pessoalmente, sabia? - Prosseguiu, e Red teve de concordar com ela.
  - Obrigado... - O moreno agradeceu, contido. - É... preciso ir ao banheiro, sim? - Informou, e dava para sentir um certo desconforto na frase.
  - Quer ajuda? - Outra moça proferiu, maliciosa. - Posso ser bem util. - Soltou, manhosa. Um barulho de engasgo preencheu o ambiente, o que fez a vocalista segurar a risada. Não precisava ver a cena para saber que o rapaz estava sem graça. 
  - Podemos te ajudar em mais coisas, se quiser... - A primeira jovem completou. - O que nos diz? - Indagou, seus saltos batendo no piso, enquanto aproximava-se do cantor.
  - Então... - Ville iria responder, quando de repente a porta de um dos boxes se abriu, assustando-os. E as coisas só se intensificaram com a figura de Red fazendo-se presente. Ela lhes encarou, os olhos transmitindo diversão. As desconhecidas se encontravam praticamente coladas a figura alta, o encurralando na entrada do cubículo.
  - Não reparem em mim, por favor. - A ruiva pediu, debochada, fitando os orbes verdes e se dirigindo as pias. Parou em frente a um dos espelhos, retirando o batom do decote e retocando os lábios, nunca quebrando o contato visual com Valo. Dava até uma certa pena dele. - Vejo que está se divertindo. - Comentou, enquanto arrumava o vestido. Sorriu, se virando para o trio e arqueando uma sobrancelha.
  - Ah sim... - O moreno entendeu a deixa, retribuindo o sorriso. - Estava te procurando, querida. - Desvencilhou-se da dupla, indo até Red. Abraçou-a pela cintura, encostando os corpos.
  - E quem são suas amigas? - A vocalista questionou, exageradamente simpática. - No que elas queriam tanto te ajudar? - Fez-se de desentendida.
  -  Não sabíamos que estavam juntos. - Uma delas falou, sorrindo fraco e reconhecendo a ruiva.
  - Agora sabem. - Red afirmou, fechando o semblante. - Se nos derem licença... - Despediu-se, puxando Valo consigo e sumindo pela saída. - E aí? Feliz por ser salvo de duas gostosas? - Provocou, quando já estavam um tanto longe. Sem perceberem tinham atravessado o lugar, chegando nos maquinários. Ali a música soava bem mais baixa, contrapondo a escuridão quase total exceto pelos feixes de luz.
  - Muito obrigado, por aquilo. - O homem parecia extremamente aliviado. - Nunca sei lidar com essas coisas. - Confidenciou, passando os dedos pelos cabelos e os bagunçando adoravelmente.

  - Isso me surpreende. -  A ruiva admitiu. - Você é todo sedutor e misterioso... fora que é bonito pra cacete! - Descontraiu, mesmo dizendo a verdade. - E vamos combinar! Pediu pra ser bolinado, né! Pior lugar pra se esconder é em banheiro de balada. Só tem putaria rolando. - Bronqueou, rindo em seguida.
  - Eu sei. É só que na hora nem pensei. Só entrei no primeiro lugar que vi. - O rapaz se justificou, sentindo as bochechas corarem com o elogio recebido. Nunca se sentiu bonito, talvez charmoso, mas beleza? Era algo que não conseguia enxergar em si.
  - Ok... - Red sorriu, gentil. - Vamos esquecer essa coisa toda. Mesmo que eu tenha desempenhado um belo papel. Na hora em que virei e mandei “vejo que está se divertindo...”, merecia um prêmio por não ter caído na gargalhada. A sua cara estava impagável! Me desculpe! - Voltou a rir, desta vez com mais vontade.
  - Sempre faço papel de trouxa. Nem ligo mais. - Ville deu de ombros, antes de juntar-se a mulher. - Acho que só consigo flertar com você, querida. - Soltou, sincero.
  - É mesmo? - A vocalista semicerrou os olhos, analisando a frase. De súbito, todo o clima descontraído foi embora, dando lugar a malicia de sempre. – Então se fosse eu ali, no lugar daquelas desconhecidas, não teria ficado desconfortável? Se fosse eu ali e não as duas moças, teria aproveitado a situação? Teria me deixado te ajudar? - Despejou os questionamentos, sabendo que aquele era o momento.
  - Sim, iria. - Valo assentiu, despido de dúvidas. Mesmo na pouco luz, conseguiu distinguir o brilho arteiro nos olhos espertos. - Na verdade, querida... eu vou. - Comentou, vencendo o espaço entre eles. Não aguentava mais. Prensou o corpo feminino na parede próxima, cravando as unhas na pele exposta. Escutou um gemido estrangulado que lhe fez sorrir, satisfeito. Inclinou-se, circundando os dedos pelo curto pescoço, fazendo com que o rosto da jovem quase encostasse no seu. A fitou por alguns segundos, contemplando a boca pequena e entreaberta, o convidando a descobrir seu gosto. Buscou os lábios vermelhos, sendo recebido de bom grado.
  Red poderia dizer que aquilo era muito melhor do que havia imaginado. A mistura de cigarro e cerejas somente a deixavam mais ávida. Embrenhou as mãos nos fios escuros, descontando o desejo que a consumia. Lambeu a linha fina que era o machucado dele, pedindo passagem em seguida para explorar. Tinha incertezas de muitas coisas, entretanto, uma que poderia considerar certa era a de que o beijo do moreno lhe tirava a sanidade. O filha da puta sabia como fazer. Com um imenso esforço interno, começou a afastá-lo. Sentia-se ofegante, além de outras coisas. Sem pensar muito o trouxe para atrás das máquinas, onde ficariam ocultos. Era apertado ali, resultando em ficarem extremamente próximos. Sem muita escolha, a cantora subiu em uma pequena caixa metálica, diminuindo a diferença de altura entre eles. Obra do acaso ou não, a posição tornou-se mais favorável do que nunca, pois dava acesso ilimitado a ereção perceptível do músico. Elevou o quadril um pouco, roçando as regiões sensíveis. Uma onda de calor lhe invadiu ao ter seu pescoço chupado, era seu ponto fraco. Suspirou alto, o que encorajou-o a investir cada vez mais na região. Só aquilo a havia deixado completamente molhada.
  Ville subiu o veludo que Red vestia, acariciando a pele liberta. Sentiu-a adentrar sua camisa, arranhando as costas, peitos e barriga. Ela apertava como se quisesse romper a carne, o que resultaria em marcas posteriores. Sem cerimônia, os botões de sua calça foram abertos e com isso uma leve carícia por cima do tecido da cueca, que o estava fazendo enlouquecer. Teria de sentir ela logo, ou então, não aguentaria por muito mais. Tirou as mãos da ruiva de si, colocando um mínimo espaço entre eles. Suspendeu uma das grossas coxas, dando ainda mais acesso às intimidades.
  A vocalista apoiou a perna em um motor, o que facilitaria no encaixe dos corpos. Continuou com a masturbação em Valo, sabendo que o estava levando ao limite. Urgência. Essa era a palavra para descrever a situação. Trouxe o rosto dele até o seu, roubando outro beijo. Precisava degustá-lo. Lhe mordeu o lábio inferior ao sentir dedos percorrerem sua calcinha, e antes de conseguir raciocinar, ela foi puxada para o lado. Buscou os olhos do rapaz enquanto ele esfregava seu clítoris delicadamente, querendo que visse quanto prazer a estava proporcionando. Quase gozando, reclamou com um resmungo quando os carinhos foram cessados. Sabia o que viria a seguir, friccionando seu ponto sensível no dele, o que rendeu um gemido profundo, que a arrepiou inteira. Ergueu ainda mais o quadril, o posicionando sem dificuldades na entrada quente e úmida.
  O moreno procurou a boca de Red em um beijo profundo. Sem aviso a invadiu, abafando os gritos dos dois. Segurou-lhe a cintura, investido cuidadoso, se contendo o máximo que podia. Talvez fosse o perigo de serem pegos, o tesão acumulado ou até mesmo uma combinação dos dois, somado ao fato de estar profundamente atraído pela jovem, que o estivesse levando à beira do abismo tão rapidamente. Queria ficar mais ali, no vai e vem ritmado, toda via, a cada estocada o ápice aproximava-se violento.
  Red recebia Ville em completo contentamento. Seu ventre se contraía, enquanto o sentia todo dentro de si. Escondeu a face no pescoço do rapaz, procurando por mais contato. Lambeu a pele pálida, focando nas luzes coloridas a sua frente. Tudo foi ficando lento conforme o orgasmo preenchia seu ser. Há muito que não usufruía da intensa sensação. Mordeu o ombro largo, reprimindo o gemido de plena satisfação. O abraçou, aproveitando os últimos resquícios do prazer total.
  Valo permaneceu penetrando a ruiva, sentindo a lubrificação se avolumar, contribuindo para sua perdição. Adentrou-a uma última vez antes de desmanchar-se. Mordeu o lábio inferior com tanta vontade que o gosto de ferro fora iminente. Descansou a testa na parede de tijolinhos, tomando consciência de todos os nervos que o constituíam. Parecia que uma descarga elétrica havia passado por si, as mãos tremendo levemente. Tentava respirar na cadência normal, contudo, era impossível. Afastou-se poucos centímetros, examinando o rosto da vocalista. Ficaram assim, observando ao outro até que ela sorriu. Sua boca estava sem batom e ligeiramente inchada. Seus olhos, brilhavam como nunca, as bochechas denunciando as adoráveis covinhas. Não resistiu, selando um beijo calmo e carinhoso antes de sair dela, cuidadoso.
  A mulher voltou a sua posição original, ajeitando a calcinha e o vestido. Apalpou o decote, pegando o maço de cigarros e o isqueiro. Acendeu um, assistindo Ville se recompor, podendo distinguir facilmente a figura alta. Só naquele instante reparou que não houve necessidade de falarem algo, somente gemidos censurados e nada mais. Tragou a nicotina, soltando uma longa nuvem de fumaça entre os fachos coloridos e quase inexistentes, que entravam através das máquinas.
  - Tome. - Red ofereceu o vício ao moreno, que aceitou sem resistências. - Minha perna tá dormente. - Comentou com uma pequena careta, pulando da caixa para o chão. Ajeitou os cabelos, batendo o pé algumas vezes, tentando parar o formigamento.
  - Sinto muito por isso. - O rapaz proferiu, sincero. Não tinha pensado no quão desconfortável poderia ter sido para ela.
  - A última coisa que você tem de pedir são desculpas. - A ruiva sorriu, divertida. - Na verdade, tenho que te agradecer. - Prestou uma leve reverência, brincalhona. - Foi a melhor transa que tive em muito tempo.
  - Posso dizer o mesmo, querida. - Valo retribuiu o sorriso, trazendo-a para outro beijo. Jogou o cigarro longe, enlaçando a cintura da jovem. Haviam acabado de foder, mas o desejo voltara com tudo. Ansiava em senti-lá de novo, tão profunda e lentamente. Buscou pelo autocontrole, os separando contrariado. - É melhor irmos embora.
  - Você quem manda, querido. – Red soou descontraída. - Você quem manda.

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