O Livro dos Medos

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A maldição é real!
Vocês tem que acreditar em mim!

Os antigos moradores da minha mansão estavam envolvidos com coisas sombrias e, ao comprar a casa, herdei seu carma. É a única explicação possível, porque não entendo como fui escolhida pra passar por tudo isso.

Eu encontrei o livro na biblioteca do porão... Não, ele que me encontrou. Ele caiu no chão quando eu estava caminhando entre as estantes, e dúvido muito que tenha sido coincidência.

Eu não devia ter lido... Não devia ter aberto nem tocado em suas páginas.
A única coisa escrita na capa era o título:
"O medo é o único sentimento puro."
Estava escrito em tinta vermelho escuro, espessa... Agora acho que era sangue.

Eu devia ter desconfiado, eu fui tola. A curiosidade foi a minha ruína. Não havia nome do autor, da editora ou mesmo código. As páginas eram amareladas, envelhecidas. E na primeira página estava escrito um poema:
"Longe ecoam os gritos
Daqueles que lhe amavam
Daqueles que partiram
E a dor a você pertence
Sem jamais ser esquecida
A terra engolirá suas lágrimas
Lembrar será sua penitência
E a paz que só há na morte
Uma incomparável benção"

Eu não tinha ideia do que tudo isso significava. Parecia ser escrito a mão com uma caligrafia elaborada e elegante.
Até hoje não imagino quem criou esse livro e com qual intenção. Ou talvez não haja um criador, e o livro é algo vivo, como uma força malévola primordial.

Passei pra página seguinte e lá estava o mesmo poema. Folheei o livro e percebi que esses versos eram a única coisa escrita em todo o livro.

Achei que fosse algum tipo de brincadeira.
Coloquei o livro de volta na estante e procurei meu irmão para perguntar se isso era obra dele. Ele disse que não sabia do que eu estava falando e que eu devia me arrumar para nosso primeiro dia de aula na escola nova. Segui seu conselho, deixando qualquer preocupação para mais tarde.

Nós dois fomos juntos ao colégio, e foi lá que conhecemos Ethan, Anne e Noah. Eles foram muito gentis conosco e rapidamente nos tornamos amigos.

E também conhecemos Mary, Félix e Bianca. Essa última em particular não gostou muito de mim. Parece estupidez quando lembro que esse era meu maior problema a menos de uma semana. Agora tudo o que eu mais queria é voltar no tempo.

A culpa é toda minha. Fui eu que abri o livro. E fui eu que parti pra cima da Bianca quando ela me deu um tapa e me mandou ficar longe do Noah. Ela gostava dele e eu acho que ele gostava de mim...

Nossos respectivos amigos se juntaram a nós durante a confusão e foi assim que terminamos todos castigados pela professora de literatura com um trabalho em grupo sobre a biblioteca da cidade.

Agora tudo isso parece distante e sem sentido, como uma fotografia borrada. Não parece minha vida. Tudo o que aconteceu nos últimos dias me mudou de uma forma assustadora e irrecuperável.

No sábado, fomos a biblioteca, sem saber que nem todos os que entraram sairiam dela.
Todos estavam tensos, mas não de medo e sim de raiva e rivalidade. Só falávamos o necessário porque todos queriam ir embora o mais rápido possível.

Meu irmão estava observando uma estante da seção de suspense quando um livro caiu no chão.
Eu quase dei um grito. Era exatamente o mesmo livro que eu encontrei na minha casa. A capa, o título: "O medo é o único sentimento puro."

Mesmo sem saber da maldição, algo sobre esse livro me incomodava.
Eu disse que não deviam ler, mas ninguém me deu ouvidos. Acho que meu nervosismo só deixou todos mais curiosos. Bianca riu de mim.

Todos folhearam o livro, e passaram adiante em silêncio. Percebi um olhar de preocupação em alguns, e todos pareciam um pouco surpresos com o que leram.

20 Contos de Terror (Pior que a Morte)Onde histórias criam vida. Descubra agora