Uma rua.
Entram Corniso e seu colega Vinagrão, com os Sentinelas.
Corniso – Vocês são homens bons e leais?
Vinagrão – Mas claro, senão seria um desperdício eles sofrerem a salvação do corpo e da alma.
Corniso – Nada disso; seria um castigo bom demais para eles, se é que eles têm um pingo de lealdade neles, já que foram escolhidos para a Guarda do Príncipe.
Vinagrão – Bem, meu vizinho Corniso, o senhor pode dar as ordens a eles de suas obrigações.
Corniso – Primeiro, quem vocês acham que é o menos incapaz de vocês, para ser o Chefe da Guarda?
Primeiro sentinela – O Hugo Mingau, senhor, ou então o Jorge Carvão, porque eles sabem escrever e ler.
Corniso – Venha cá, meu vizinho Carvão. Deus te abençoou com um bom nome; ser um homem bonito é um talento que o Destino lhe dá, mas saber escrever e ler é um dom da Natureza.
Segundo sentinela – E é os dois, Seu Mestre da Guarda, ...
Corniso – ... que o senhor sabe. Eu sabia que sua resposta seria essa. Bem, quanto à sua bela aparência, senhor, ora, dê graças a Deus, e não fique se gabando disso. Quanto a saber escrever e ler, deixe que isso apareça quando não tem necessidade de se envaidecer. O senhor é tido como o mais desatinado e adequado para ser o Chefe da Guarda; portanto, pegue a lanterna. Esta é a sua obrigação: conter tudo quanto é vagamundo; o senhor vai gritar um "Alto lá!" para todo e qualquer homem, em nome do Príncipe.
Segundo sentinela – E se o homem não fizer alto?
Corniso – Ora, daí então o senhor pode ignorar a criatura, e deixar passar, e em seguida trate de chamar uma reunião com o resto da Guarda, e agradeça a Deus por ter se livrado de um vagabundo.
Vinagrão – Se ele não fizer alto quando mandam, não é nenhum dos súditos do Príncipe.
Corniso – Verdade, e eles não têm nada que se meter com os súditos do Príncipe. Vocês também não podem fazer barulho nas ruas, pois porque para uma Guarda Real ficar tagarelando e conversando é deveras admissível, e isso não se deve tolerar.
Sentinela – A gente prefere dormir, mais do que conversar; nós sabemos qual é a função de uma Guarda Real.
Corniso — Ora, o senhor fala como um sentinela antigo e muito discreto; não vejo como dormir pode ser ofensivo. Apenas cuidem-se para que não lhe venham roubar as alabardas. Bem, vocês devem visitar todas as tabernas, e mandar os bêbados ir tratando de ir para a cama.
Sentinela – E se eles não quiserem?
Corniso – Ora, daí então é deixar eles em paz até que passe a bebedeira. Se eles não vierem para os senhores com uma boa resposta, sempre podem dizer a eles que não são os homens que vocês pensavam que eles fossem.
Sentinela – Muito bem, senhor seu Mestre.
Corniso – Se encontrarem um ladrão, podem suspeitar, por força do ofício dos senhores, que ele não é pessoa honesta. E, para esse tipo de homem, quanto menos vocês se meterem com ele, ou mesmo conversarem com ele, ora, melhor para o bom nome de vocês.
Sentinela – Se sabemos que ele é um ladrão, não devemos pôr as mãos nele?
Corniso – Certamente, pelo ofício dos senhores, é o que vocês podem fazer, mas eu acredito que aqueles que pegam no piche ficam sujos. O jeito mais pacífico para os senhores, se prenderem um ladrão, é deixar ele mesmo mostrar quem é: ele vai roubar dos senhores a oportunidade de prendê-lo.