Trilhas perdidas - parte 2

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Bom dia, boa tarde, boa noite, boa madrugada. Seja daqui 5 minutos, 1 hora, 3 dias ou 1 ano. Como vocês estão, jovens gafanhotos? 

Espero que estejam com os blocos de notas nas mãos, pois as informações desse capitulo são muito importantes. Qualquer dúvida podem mandar mensagem por aqui ou então no meu twitter: @Ameriquey5. 

Tenham uma boa leitura. 

(...)

De alguma forma os ares pareciam diferentes naquela seção da floresta. A quietude presente do terreno íngreme e ligeiramente aberto de árvores dispersas no campo não aparentava ser horripilo tal qual os instantes que procederam ao ataque na entrada do condado ou a sensação constante de uma possível queda livre para a cama montada de pedregulhos pontudos no fundo do abismo enquanto atravessava a frágil ponte. Era de uma pacatez quase afligente e suspeita. Especialmente dadas às circunstâncias onde se sentia observada, exatamente como dias antes quando visitara os Gutierrez.

Na realidade, até sua própria sombra parecia diferente.

Spencer também percebera algo inusual no ambiente após fotografar a copa de alguns conjuntos de abeto de Douglas e lariço ocidental. Ele não esperava encontrar nada além de esquilos e insetos sob suas lentes, porém, a surpresa fora enorme ao vislumbrar um grupo de corujas malhadas anormalmente ativas naquele horário. Os olhos das mais diversas cores carregavam algo beirando entre mistério e curiosidade pelos intrusos. Era um paredão de penas semelhante a sentinelas protegendo algo muito importante do alto.

Após pintar o tronco de outra árvore com o símbolo da libélula, Camila sentiu o vento tornar-se mais suave. Ela levantou o olhar deparando-se com um trio de corujas de cabeças pendentes para o lado mantendo a atenção fixa sob si enquanto a brisa sussurrava palavras incompreensíveis, porém, em viés de advertência. Era como uma mãe aconselhando seus filhos sobre o uso do senso de aventura e a escolha de caminhos com sabedoria. O desconhecido conseguia causar fascínio na mesma intensidade que amedronta, e por isso, era preciso haver cuidado. A curiosidade possui essência pintada em escalas de cinza, e para os desventurados, poderia ser fatal. 

La oh La oh
Bem vindos às profundezas desta floresta.
La oh La oh
Que visitantes incomuns vocês são.
La oh La oh
Mas lamento, vocês não foram convidados.
A partir de agora terão de seguir as regras da floresta.

Pios de coruja misturavam-se ao doce timbre feminino de mezzo-soprano carregado por um sotaque estranhamente familiar que ecoava através da gentil brisa acalentadora. Pacientes e analíticos. Não existiam motivos para afobação.

 — Quem está ai? — Camila chamou repleta de reservas olhando ao redor.

Seu amigo franziu o cenho em confusão e tão pronto agarrou sua mão.

— Você ouviu alguma coisa?

— Você não ouviu? — ela questionou incrédula. — Alguém está cantando!

Hoo! Hoo!
Anunciam as corujas
Hoo! Hoo!
Visitantes chegaram
Hoo! Hoo!
O que procuram?
Hoo! Hoo!
Tudo depende apenas de vocês
Hoo! Hoo!
Lamento, mas aqui vocês são visitantes não convidados
Hoo! Hoo!
Um pressentimento de algo prestes a começar

Uma por uma as corujas saíram de seus ninhos para sobrevoarem a dupla em círculos. Era possível definir com certa dificuldade os corpos rechonchudos e emplumados entre tons de marrom dourado, cinza e vinho naquela comitiva aérea. E ali, logo em cima das cabeças da dupla, estava à coruja que os acompanhou desde a ponte. Suas arrepiadas sobrancelhas brancas balançavam ao vento conforme as irises de cobre os seguiam por toda a parte. Profundos e intensos. Tão persuasivos que Camila pode jurar ver o reflexo de um rosto feminino em seus olhos.

A canção dos esquecidos - Inicio destinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora