Trilhas perdidas - parte final

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Bom dia, boa tarde, boa noite ou boa madrugada. Seja daqui 5 minutos, 2 dias, 1 semana ou 1 ano. Como vocês estão, jovens gafanhotos?

Vou deixar para repassar os avisos nas notas finais, então apenas aproveitem a leitura por enquanto.

(...)

Não havia tempo para escolhas.

Não mais.

A arma fora recarregada.

- A porta Spencer! - Camila gritou esbaforida antes de colidir o ombro contra a madeira.

O garoto despertou do torpor em um frenesi e logo estava a auxiliando para barrar a entrada do maníaco. As risadas agudas e prolongadas eram o indicativo do quanto tudo aquilo parecia ser divertido para o algoz, nem mesmo o fato de três de seus dedos terem sido decepados devido à força criada contra a porta e o sangue espinado contra a calça de Spencer lhe causava algum incomodo.

- A gente devia sair daqui e não nos encurralar ainda mais!

- Mas vamos! - o maníaco começara a desferir pancadas na porta. - Confia! Retarda ele pelo máximo de tempo que conseguir!

Enquanto Spencer forçava a porta na direção contrária, Camila tentou arrastar os móveis mais próximos para formar uma barricada. Cadeiras. Escrivaninha inglesa. Expositor de livros baixo. Qualquer coisa era útil. Entretanto, o gatilho foi acionado e a explosão do tiro os obrigou a se afastar revelando poucos instantes depois os olhos azulados ausentes de brilho em estado permanente de assombro juntamente do rosto cansado e envelhecido. Era perceptível a presença de veias negras nas maçãs proeminentes e nas feições desafiadoras os instigando ao desespero.

Porém, ao contrário do que esperavam, o atirador sorriu docemente apontando o cano da espingarda modificada na direção deles e então anunciou:

- Tive uma ideia melhor. - ele apontou a arma para o buraco do teto da saleta. - Darei a vantagem de cinco minutos para que fujam. Perderia a graça se eu estourasse suas cabeças agora. Conseguem me entender, não é? Sei que sim. Aberrações como flores do inferno podem ser muitas coisas, mas burras garanto que não, do contrário não estariam me dando dores de cabeça há décadas.

Camila e Spencer engoliram em seco ao olharem de soslaio um para o outro, pois o sol já havia se posto quase por completo.

- Qual o problema? - o homem questionou ainda sorridente. - O tempo está passando. Tic tac.

Seja lá o que fossem aquelas vozes em sua cabeça ou no que Camila acreditava, uma chance havia sido dada e cada segundo perdido representava um passo mais próximo do fim. Aquela oportunidade era suspeita e estava claro que as coisas poderiam não acabar bem, entretanto, naquele momento nenhum resgate milagroso conseguiria oferecer a remota possibilidade de enganá-lo.

Seu ritual de caça aparentava consistir na oferta da falsa sensação de liberdade para as vitimas e então as encurralar em algum trecho sem saída após torturá-las psicologicamente pelo caminho. Tal qual uma versão sombria de pega-pega.

De modo repentino, Spencer segurou sua mão evitando encarar o cano da espingarda apontada para eles e o sorriso convencido para então sussurrar:

- Me siga.

Sem esperar mais, ele a puxa em direção ao buraco no teto ouvindo o tic tac cantarolado pelo atirador que os assistia na porta até desaparecer no corredor. A dupla estava consciente dos seus movimentos enquanto equilibrava-se nas vigas de madeira tendo acesso a vista do mundo exterior.

- Qual o seu plano?

- Usar o telhado do corredor de entrada na área externa, descer pela escada principal até o pequeno porto, roubar o barco e navegar para o trecho mais próximo que o rio nos deixar da ponte de Tahoma Creek. Agora vamos e tome cuidado onde pisa.

A canção dos esquecidos - Inicio destinadoOnde histórias criam vida. Descubra agora