O mesmo. Uma rua. Entram Speed e Launce.
SPEED — Launce! Por minha honestidade, és bem-vindo a Milão.
LAUNCE — Não jures falso, bondoso rapaz, porque a verdade é que eu não sou bem-vindo. Sempre fui de opinião que um homem nunca fica inteiramente perdido, enquanto não for enforcado, e que só poderá ser bem-vindo a determinado lugar, quando lhe pagarem as contas e a hoteleira lhe disser: "Bem-vindo!"
SPEED — Vamos, desmiolado; desejo acompanhar-te até à cervejaria, onde, por uma conta de cinco pences, poderás obter cinco mil bem-vindos. Mas conta-me lá como o teu mestre se separou de Madame Júlia.
LAUNCE — Ora! Depois de se terem unido em tristeza, separaram-se por maneira muito folgazã.
SPEED — Mas ela o desposará?
LAUNCE — Não.
SPEED — Como assim? Ele se casará com ela?
LAUNCE — Também não.
SPEED — Então separaram-se?
LAUNCE — Não; continuam unidos como um só peixe.
SPEED — Mas de que jeito se encontram?
LAUNCE — Ora, quando alguma coisa está bem para ele, está, do mesmo modo, bem para ela.
SPEED — Que grande asno me saíste. Tudo quanto acabas de dizer não oferece resistência.
LAUNCE — É preciso que não passes de um pedaço de pau, para não compreenderes o que eu digo. Pois este bastão me oferece resistência.
SPEED — Que estás a dizer?
LAUNCE — Precisamente o que estou a fazer. Observa-me bem: apóio-me ao meu bastão e ele me oferece resistência.
SPEED — Realmente; mas eu me referia à tua pessoa.
LAUNCE — Tudo vem a dar no mesmo; se o bastão resiste ao meu peso, eu e ele oferecemos resistência.
SPEED — Mas dize-me a verdade: haverá casamento?
LAUNCE — Pergunta isso ao meu cachorro; se ele disser que sim, haverá; se disser que não, haverá; se sacudir a cauda e nada te responder, haverá.
SPEED — Donde de conclui que haverá.
LAUNCE — Só me arrancarás um segredo tão grande por meio de uma parábola.
SPEED — Pouco importa, contanto que mo reveles. Mas, Launce, que dizes do meu amo? Deu agora para ser amante refinado.
LAUNCE — Sempre o conheci desse jeito.
SPEED — De que jeito?
LAUNCE — Como um refinado tratante, conforme lhe chamaste agora mesmo.
SPEED — Ó grande pedaço de asno! Tomaste-me no mau sentido.
LAUNCE — Não falei de ti, meu tolo, mas de teu amo.
SPEED — O que eu disse foi que meu amo se encontra inflado de amor.
LAUNCE — Pois o que eu digo é que pouco se me dá que ele venha a se consumir de amor. Se quiseres ir comigo à cervejaria, bem; caso contrário, és um hebreu, um judeu, indigno do nome de cristão.
SPEED — Por quê?
LAUNCE — Por não teres suficiente caridade para beber cerveja com um cristão. Como é? Não vens?
SPEED — Às tuas ordens.
(Saem.)