02 de setembro de 2018
Era para ela estar descansando. Sentada no sofá com as pernas para o alto, relaxando, comendo biscoitos recheados de chocolate e refletindo se sua garotinha deveria se chamar Leandra, Mabel, Gabriela ou Luísa. Deveria estar assistindo a TV, com uma mão apoiada na barriga arredondada de 34 semanas de gestação e enrolando uma mecha de cabelo na ponta dos dedos enquanto via Luiz Ricardo dar um beijão daqueles em Maria Emília, o casal ioiô da novela das nove.
No entanto, estava andando de um lado para o outro, ainda que estivesse com a mão sobre a barriga gigante que a fazia se sentir grávida de três crianças ao invés de uma só, suando no calor de 39º daquela cidade quente como as areias do deserto – não que já tivesse visitado algum país do oriente – olhando o tempo todo para o celular, que parecia mais morto que o movimento do lado de fora.
O marido deveria estar ao seu lado, lhe dando amor, carinho, atenção e cuidado, e não do outro lado dessa cidade no meio do nada, onde ela não conhecia ninguém, preso em reuniões que pareciam acabar mais tarde a cada dia. Distante dela e do que acontecia durante a sua gravidez.
Você está sendo neurótica, pensou consigo mesma. Fabiano era contador. Provavelmente o único naquela cidade. Era muito natural que ficasse sobrecarregado de trabalho e tivesse que discutir sobre impostos ou coisas do tipo com seus clientes até tarde da noite. Passou a mão na base das costas, naquele ponto exato que estava dolorido desde cedo, quando sentiu os olhos marejarem. De umas semanas para cá, se via à beira das lágrimas com mais frequência a cada dia.
— Droga de hormônios — Eduarda disse, fungando, mas se repreendeu mentalmente quando percebeu que estava amaldiçoando alto. — Desculpa, solzinho — falou, passando uma das mãos na lateral da barriga, onde podia sentir o pé a empurrar. — A mamãe jurou que não ia xingar na sua frente.
Respirou fundo e soltou o ar devagar, como havia aprendido durante o pré natal que havia feito... sozinha. Como tudo o que fez até agora para o bebê. Não tinha nem escolhido o nome ainda, porque Fabiano quase não parava em casa para que pudessem conversar a esse respeito. Afinal, o nome de um filho era uma escolha muito importante para um casal e não queria tomar essa decisão sozinha.
Estava cansada de estar só.
Era isso.
Durante muito tempo, se perguntou que sentimento era aquele que a acompanhava, mas que não sabia exatamente dizer o que era. Um misto de medo, angústia e um vazio no peito, algo que foi crescendo e se aprofundando a cada dia, com se abrisse um enorme buraco em seu coração.
Solidão.
Pegou o celular que estava sobre a mesa de jantar e digitou no Google.
Solidão:
Estado de quem se acha ou se sente só ou desacompanhado; isolamento.
Sensação ou situação de quem vive afastado do mundo ou isolado em meio a um grupo social.
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Quando setembro acabar
RomanceSinopse: Eduarda carrega consigo as marcas de um relacionamento fracassado e repleto de sofrimento. Mas ela precisa seguir em frente para oferecer uma vida melhor para sua filha. Com coragem e determinação, ela consegue viver de forma independente...