Música do capítulo: Keeping your head up - Birdy
PDV Meera Yang Adaani
Eungjo e seu irmão estão parados na porta da cozinha nos encarando esperando uma resposta. Minha reação é olhar para minha tia pedindo ajuda.
— Isso mesmo que vocês entenderam. Ela gosta do seu irmão Eungjo, mas jura de pé junto que não. – Diz ela voltando a guardar a louça. Então o olhar dos dois estão voltados para mim. Seungjo nada diz, apenas se vira e sobe as escadas.
— Tia! Não era para você ter feito isso. – Digo fazendo uma cara de desesperada.
— Mas é a verdade. E nós duas sabemos disso e o Seungjo também sente algo, tenho certeza. – Diz ela sorrindo e indo em direção as escadas para ir ao seu quarto. Fico parada na cozinha pensando em como vou olhar para a cara do Seungjo amanhã.
[...]
No café da manhã do dia seguinte foi feito por um silêncio mortal, eu nem tinha coragem de encarar ele. Tenho certeza que ele deve pensar que eu sou uma idiota. Quando termino meu café, pego minha mochila e saio quase correndo de casa e sigo para a escola.
Ao chegar lá sou chamada para ir na sala do diretor ainda na primeira aula. Chego na sua sala e lá ele conversa comigo sobre como eu demonstrei ser inteligente e ter boas notas, no final ele me ofereceu a chance de fazer mais uma prova e mudar definitivamente para a sala da turma A.
Prontamente me recusei, já tinha a Minah, Joori e o Jungu , um menino muito gentil da minha sala que sempre tenta me ajudar em tudo, mas na verdade ele que sempre precisa de ajuda por ter se metido em alguma enrascada. E eles foram a razão por eu não ter mudado de sala, fora que a "Regina George" é da turma A, motivo mais que suficiente para me manter longe dessa garota inconveniente.
Falando nela...
— Olha só quem está aqui... – Diz a "Regina George", não quis perder meu tempo descobrindo o nome dessa garota.
— O que você quer agora Regina? – Sem querer acabo falando alto, até arregalei os olhos com o meu deslize.
— Do que você me chamou, sua patricinha idiota? – Pergunta ela dando um passo à frente e me encarando de cima abaixo.
— O que você quer? – Questiono já sem paciência.
— Quero saber o que uma garota como você faz na nossa escola? – Pergunta ela e fico sem entender. Vejo que algumas pessoas param e começam a prestar atenção na nossa discussão no meio do corredor. Essa garota quer chamar atenção, só pode.
— Do que você tá falando? – Pergunto.
— Sua intocável. – Diz ela me olhando com nojo e soltando um risinho no final. Fiquei sem reação, pois nunca sofri esse tipo de ataque. Meu avô, Rami Adaani é um "dalit" (um intocável), sendo assim meu pai é e eu também. Nunca sofri esse tipo de preconceito porque sempre tive meus pais para me defenderem de tudo, o vovô sempre me falou o quão importante foi a luta dele para dar uma vida melhor para o meu pai e para que ele pudesse estudar e se tornar alguém que mudaria o futuro da Índia. O destino cooperou e isso aconteceu, meu pai é considerado um dos melhores médicos do mundo e o vovô um dos maiores empresários da atualidade. O que mais me impressiona é o fato de ela saber disso, já que minha mãe nunca permitiu que eu fosse exposta na mídia desse jeito.
— Do que você me chamou? – Pergunto baixo encarando ela firmemente.
— Chamei de intocável, é isso que você é. Estou certa? Seu avô é um "dalit" de carteirinha, depois vem o seu papai e agora para continuar essa dinastia de impuros... Você! – Diz ela cruelmente e começa a rir de mim. Fico alguns segundos petrificada com isso, mesmo que o sistema de castas tenha sido banido da Índia, a sociedade não aceitou completamente. Mas isso não justifica o fato de ela querer me atacar gratuitamente.
— Cale-se! Você não tem o direito de falar assim comigo! – Digo apontando para ela e começando a sentir um nó se formar na minha garganta. Nunca entrei nesse tipo de conflito com ninguém mas sei que pessoas como meu avô sofreram por isso e essa mimada egoísta me atacar desse jeito definitivamente mexeu comigo.
— Se afasta de mim! Sua "dalit"! – Grita ela no meio do corredor para todo mundo ouvir. – Ei, Seungjo! Se eu fosse você avisava a sua mãe que vocês estão abrigando uma impura na casa de vocês. – Diz ela com um olhar de pura maldade olhando para algo atrás de mim. Me virei e vi o Seungjo nos encarando sem tomar nenhuma atitude.
— Você deve estar se perguntando como eu sei, né? Eu vi vocês saindo do estúdio de balé. E descobri que vocês dois moram na mesma casa. Que feio... Enganando todo mundo esse tempo todo. Agora todos sabem a farsa que você é. Você não é especial. Você é só uma impura, poeira... Você é um nada. Como seu vovô e seu papai, não importasse eles são médicos ou empresários, eles continuam sendo poeira para os indianos e para mim também. Agora sua escória, tira sua sombra da minha frente que eu vou passar. Ah, se você me encontrar na rua, mude de calçada. – Diz ela em alto e bom som para que todos escutem e então quando ela termina de disseminar seu ódio, propositalmente ela passa longe de onde minha sombra está projetada no chão e segue pelo corredor que agora está lotado de estudantes.
Vejo todos me encarando, sussurrando e apontando para mim. Me viro e vejo o Seungjo apenas me encarando, não consigo segurar e as lágrimas começam a cair. Apenas saio correndo, não vejo para onde estou indo, mas consigo passar pelos portões do colégio e correr para o mais longe dali.
Paro em uma praça e sento em um dos bancos com a respiração rápida. Fecho os olhos fortemente e tento esquecer a cena de minutos atrás. Tento esquecer o fato de que fui humilhada na frente de toda a escola e de que o garoto por quem sou apaixonada realmente é um completo idiota.
[...]
Vou direto para casa e sigo para o meu quarto. A noite chega de mansinho mas continuo na mesma posição na cama; Tia chama para o jantar mas prefiro ficar no silêncio e na paz do meu quarto. Quando resolvo me levantar, é para tomar ao menos um remédio para dor de cabeça que fica localizado em uma caixa no banheiro do corredor, assim que saio do quarto escuto passos na escada, continuo meu caminho até o banheiro e quando vou fechar a porta vejo de relance o Seungjo parado em frente ao seu quarto me encarando. Retribuo o que ele sempre faz comigo, ignoro sua presença.
Quando saio do banheiro alguns minutos após tomar o remédio e tentar dar um jeito no meu rosto inchado, a casa está mergulhada em um silêncio mortal. Sigo para o meu quarto e tento dormir pensando que talvez, apenas talvez... amanhã seja um dia melhor.
[...]
Após toda aquela confusão, a Regina, parou de me atormentar mas isso não impedia que ela me encarasse com ódio toda vez que me visse. A direção da escola ficou sabendo da confusão e sutilmente durante a semana os professores começaram a abordar o tema do bullying e do preconceito em toda a escola. Rapidamente os alunos esqueceram da confusão, menos eu, que a todo momento acho que tem alguém falando de mim ou algo assim. Mesmo só faltando um dia no balé, a professora ficou bastante irritada, assim começando a cobrar mais de mim nas aulas. Seungjo continua indo me buscar e eu continuo a ignorar o simples fato de que ele existe então continuamos nesse pé.
Hoje foi decidido em sala de aula quem ficaria responsável pela comissão que organizará a festa de formatura das turmas. Fui escolhida para organizar junto com Minah e Joori. Como já é sexta, eu e as meninas decidimos que passaríamos o sábado procurando o local perfeito para nossa organização. Esse vai ser "O Evento" e por sinal, a "Regina" ficou responsável pelo da sua turma. Minha vontade de superar ela em algo aflorou quando descobri isso.
Ela que me aguarde.
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Till I Found You
FanficMeera Yang Adaani é filha da cardiologista Clarice Yang e do neurologista Kabir Adaani. Mer, cresceu viajando o mundo e morando em hotéis, até que decide pedir a uma das poucas amigas próximas de sua mãe para que ela possa ficar temporariamente em s...