Capítulo VIII - Crises

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Helena

As emoções que me foram proporcionadas nesse dia são as que eu normalmente tenho em uma semana, tanta coisa ocorreu. Fiquei feliz de ter me acertado com a Clara, mas eu não consigo tirar da minha cabeça o fato de ela não estar tratando o pulso e o cotovelo, tudo por culpa dele. Eu quase que agredi aquele homem sínico. Como ele pode dizer que foi um médico que mandou ela parar?

Quando saí do banheiro fiquei com medo de encontrar a Senhora Bueno novamente, eu não sei como iria reagir a um novo escândalo com tanta raiva que eu estava sentindo no momento. Minha vontade era pegar aquele homem abusivo e bater a cabeça dele na privada até o crânio dele estourar e todos os miolos dele se derramarem no chão do banheiro. Ben me perguntou se estava tudo bem e eu respondi que precisava ir lá fora, mas explicava tudo a ele depois.

Depois fui ao estacionamento falar com ela, eu queria ver se ele não iria fazer algum mal a ela. Sei que não tenho como garantir por enquanto que ele não vá a maltratar em casa, mas queria observar a reação dele de longe. Quando os vi sair, fingi mexer em algo no porta malas de meu carro, e com um espelho eu os observei. Ele me parecia muito irritado, mas não fez nada além de pegar a mão dela.

Com a brecha deixada por ele após ter voltado ao lado de dentro eu me aproveito e vou falar com ela sobre as cartas, é arriscado mas necessário. Por um momento achei que ela não fosse aceitar pois pensei que ela nem tinha lido a anterior, fiquei tão feliz quando soube que ela leu e gostou. Clara me confirmou que queria. Tive que me esconder usando o carro ao lado de escudo quando o vi voltar.

Após voltar ao lado de dentro Ben me bombardeou de perguntas como eu imaginei que ele faria. Cuspi tudo o que estava acontecendo, disse que Clara me pediu desculpas e contei a situação do braço dela. Contei que quase agredi aquele filho da puta sínico.

- Você o que? - Ele diz abismado.

- Eu quase bati a cabeça dele na privada, eu o teria agredido e estourado todos os miolos daquele filho da puta sínico e abusivo. E não adianta seus protestos, eu vou continuar me comunicando com ela.

- Helena! Só pode estar ficando louca!

- Louca eu já estou, Ben. Ela precisa da minha ajuda - Falo com a minha melhor voz manhosa.

- Você mal consegue se ajudar, como vai ajudar ela? - No fundo ele tem razão, eu não consigo me ajudar, sou ferrada da cabeça mas isso não me impede de ajudar ela - Você mal acabou com as suas crises de TOC e mal se resolveu da depressão - Meu TOC sempre volta quando estou em algum conflito interno, mas eu não vou admitir isso a ele.

Fazer tudo repetidas vezes e pensamentos incontroláveis são parte disso, alguns me mandando fazer coisa que não quero e que não tem sentido, tudo é movido por ansiedade e medos irracionais. Eu sei que muitos deles não passam de idiotices mas isso me angustia e eu não consigo controlar em muitos casos.

- Estou bem! - Menti.

- Não está, está se enganando. Você foge das coisas quando não consegue resolver, quer ajudar todo mundo, mas não quer se deixar ser ajudada - Ele joga na minha cara e ele sabe o quanto eu odeio isso.

- Vai se fuder - Me interrompo quando percebo que iria soltar mais uma ofensa a ele. Sei que ele está apenas preocupado, mas isso me incomoda e me deixa estressada.

- Você sempre fica irritada quando alguém tenta te ajudar. Não sei como o psicólogo do departamento te deixou voltar - Nesse momento senti que foi a gota d'água, ele sabe como meu trabalho é importante para mim.

- Eu quero ficar sozinha, então me deixa em paz ou eu vou acabar ofendendo você - Digo saindo com uma raiva e mistura de sentimentos que guardei, a vontade de chorar veio novamente e eu odeio chorar, sinto as lágrimas começarem a sair e eu as seco. Eu não vou chorar, não vou. Não vou fazer drama sem motivo.

Mímico da Noite - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora