Capítulo III - Lanchonete

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Clara

Depois de passar no supermercado eu não conseguia esquecer a conversa com aquela mulher. Ela achava que eu ia entregar Theo, não posso, ele é o amor da minha vida. Por mais que ele me machuque eu o amo e sei que ele ainda pode mudar.

Ele me diz que vai mudar e sempre parece arrependido depois do que faz.

Por que amar ele sempre tem que ser tão difícil?

— Deveria ter me dito que conheceu alguém.

— Eu não disse porque ela não é ninguém importante para ser citada — Outro motivo para não ter falado foi o medo da reação dele, Theo sempre foi muito ciumento.

— Da próxima vez não me esconda mais nada — Ele fala visivelmente irritado e se levanta batendo as mãos na mesa com força, eu acabo me assustando com o ato repentino dele — Você é o ser mais imprestável que eu conheço.

Ele me olha com fúria e saí andando para perto de mim. Sinto o medo em meu corpo. E se Theo me agredir pela terceira vez no dia?

Ele apenas passa reto e vai para o outro cômodo e respiro aliviada.

O pior de tudo é que ele tem razão, eu sou uma imprestável. Eu tenho sorte de ter um homem como ele me amando.

...

Eu queria tanto conversar com alguém sobre esses sentimentos angustiantes que insistem ficar em mim. Gostaria de conversar e falar cada pensamento ruim que me atormenta, falar sobre os pensamentos desagradáveis que me incomodam a cada dia, a cada semana.

Eu me afastei de toda minha família e amigos porquê Theo não gosta que eu converse com eles. Também não posso conversar com Rafa sem descarregar ainda mais em cima dele problemas, ele já anda bem triste e desanimado. Não tenho mais ninguém e ainda tem a agente intrometida que quer denunciar meu Theo.

Talvez possa falar com ela. As palavras dela não saiem da minha cabeça:

"Sei que não me conhece, mas de qualquer forma eu quero que saiba que pode me ligar a hora que quiser, se estiver precisando de alguém para conversar ou qualquer outra coisa que precisar sabe o meu número. Se foi ele quem fez isso, você pode contar comigo para te ajudar"

Talvez eu devesse ligar para ela. Não custa nada e seria bom conversar com alguém sobre meu marido, eu devo explicar para ela que não comente com ninguém o que viu, isso poderia meter ele em problemas e arruinar a carreira dele.

Estou tão angustiada e preocupada se ela vai o denunciar que nem me importo se não a conheço. Aproveito que ele não está em casa e vai demorar a voltar do trabalho e procuro o cartão embaixo do vaso.

Entro em casa e vou até o telefone fixo já que não tenho mais celular. Disco o número e sinto o nervosismo se formando, acho melhor desligar, essa foi uma ideia idiota.

— Quem é? — Escuto uma a voz calma do outro lado da linha. Sinto meu corpo gelar e não sei mais o que fazer — Há alguém do outro lado da linha? — Ela perguntar e continuo travada. Realmente foi uma ideia idiota — Se for alguma brincadeira de mal gosto-

— Clara — Repondo rapidamente antes que ela desligue — A mulher que teve um ataque de pânico no supermercado e você ajudou — Eu não sabia se ela ainda iria querer conversar comigo, talvez tivesse mudado de ideia.

— Sim, eu lembro. Do que precisa? — A voz dela voltou a ser calma e isso me ajudou a tomar coragem para pedir a ela o que eu preciso.

— Se não for te incomodar. Podemos conversar pessoalmente? — Passei as minhas mãos pelos cabelos, eu me sinto tão nervosa e sem jeito pedindo isso a ela mas eu preciso proteger o meu marido.

Mímico da Noite - ClarenaOnde histórias criam vida. Descubra agora