11| Despedida

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Insatisfeita por não atingir uma bofetada na mulher misteriosa, Julieta se debateu com raiva nos braços do sargento.


― O que está acontecendo aqui? Vocês duas pretendem discutir isso na delegacia? ― Acácio indagou, enquanto tentava conter a dançarina.

― Não! Por mim, não ― a dama de vermelho respondeu rapidamente, não queria outro problema com a justiça logo agora. O investigador observou curioso a reação da dama de vermelho à sua frente, aliás, desde o momento em que entrou no estabelecimento ela continha um olhar diferente.

― Julieta? ― Christopher questionou a garota.

― Não será preciso, mas um dia você vai pagar por isso, Catarina ― afirmou a moça carrancuda. Sem conseguir deter sua frustração, proferiu com rancor: ― Sua insolente!

― Insolente é você. ― A mulher misteriosa levantou um dedo em sinal de reprovação. ― Eu já lhe disse, o que eu faço da minha vida não é da sua conta. ― Alterada começou a andar em direção da garota, porém foi impedida pelo senhor Uckermann.

― Já chega! As duas, imediatamente para a delegacia! ― ordenou o sargento Acácio que suspirou impaciente.

A dama de vermelho praguejou, levando as mãos à testa, balançou a cabeça em descrença. Perdeu todas as estribeiras por causa da falsa moralista e agora com certeza estaria em maus lençóis. Na delegacia, seus documentos seriam registrados, tornando difícil esconder o segredo. Dessa vez não teria tempo para fugir, porém, pelo menos não enfrentaria outra despedida inevitável.

― Um momento, sargento ― Christopher comentou após perceber a aflição da moça. ― Creio que não será necessário. Acompanharei a senhorita Catarina até a pousada, e o senhor poderia fazer o mesmo com a Julieta.

― Muito conveniente ― resmungou a dançarina, demonstrando seu descontentamento.

A mulher misteriosa revirou os olhos, cansada com toda a discussão sem sentido por parte da outra. Ela, então, caminhou para fora do Burlesque, carregando consigo as recordações amargas, ainda frescas em sua mente. Percorreu a rua, sentindo seu coração acelerar, quase saltava pela boca. No mesmo instante, reparou na presença do investigador atrás de si e na hora que seus olhos se encontraram, ele declarou:

― Prometo que ficarei calado o trajeto inteiro.

A dama de vermelho concordou com um aceno, reconhecendo que às vezes o senhor Uckermann parecia entendê-la melhor do que ela mesma. E, realmente, sua única vontade no momento era de continuar em silêncio, afastando-se de toda aquela confusão. Não gostaria de mais um aborrecimento, já havia encarado o suficiente para um dia. Além da prisão de Israel, do chefe enfadonho, do tumulto dos clientes e da Julieta, ainda tinha, para piorar, aquelas lembranças dolorosas que voltaram à tona. As imagens eram tão nítidas que se assemelhavam a uma água cristalina.

― Eu sei que prometi que não falaria nada, mas a senhorita possui uma feição estranha no rosto ― o homem desabafou, observando-a atento.

― Ah, o senhor e sua perspicácia... Eu sabia que não duraria muito ― ela cochichou com um sorriso torto. ― Alguns dias deveriam ser apagados da memória. ― A moça tentou evitar o assunto, seus pensamentos ainda estavam atordoados.

Porém sua explicação provocou o efeito contrário, o rapaz enrugou a testa intrigado.

― O que aconteceu de verdade lá?

A Dama de VermelhoOnde histórias criam vida. Descubra agora