Funeral

85 7 30
                                    

Boa leitura🩷
___________________________________________

Pela primeira vez notei a presença de outros pacientes, estava acostumada com a ala hospitalar do QG onde não havia quase ninguém.

- Senhora Jones? - Ouço uma voz feminina distante me chamar.- Senhora Jones, por favor! O que está fazendo?

Vejo pelo reflexo da porta de saída da ala hospitalar que é uma enfermeira.

Empurro a porta, sem parar para ouvi-la.

- O que foi? - perguntei olhando para os lados do corredor para encontrar onde ficaria o necrotério e a sala de preparação.

- Está em observação, não pode sair assim. - Ela corre para me alcançar.

- Estou me sentindo ótima, não será mais necessário os seus cuidados. Mandarei alguém acertar a conta do hospital pela manhã.

- M-mas senhora, eu não tenho permissão para deix-

Me viro para ela, segurando seus ombros e a olhando firme nos olhos.

- Onde fica o necrotério?

Ela me olha com o máximo de seriedade que os seus míseros um metro e meio de altura e seu rosto redondo e fofo consegue.

- Por favor, volte para o quarto. Está em recuperação. - Ela repetiu.

Apertei um pouco seus ombros e estreitei os olhos.

- Me diga onde fica a área do necrotério agora, ou eu vou te deixar algemada no armário de vassouras e só vai ser liberada amanhã de manhã.

Ela solta um soluço com os olhos arregalados e apontou a contra gosto para o final do corredor da direita.

Sai a passos largos, quase correndo e também quase tirando os saltos e jogando em algum canto, amaldiçoando a mim mesma por não ter sido clara que tipo de calçado eu queria para John.

Parei em frente a porta escrito sala de preparação e respirei fundo.

Eu sabia o que ia encontrar e sabia que não seria fácil. A dor de estar tão perto e ao mesmo tempo longe demais de Beatrice doía mais do que qualquer dor que eu já havia sentido na vida.

E doeria para sempre.

Levei a mão trêmula até a maçaneta e abri, encontrando duas enfermeiras do quartel general terminando de arrumar as flores no caixão.

Da onde eu estava, não conseguia ver nada além da ponta do nariz perfeito de Bea.

Ao entrar na sala, os olhos delas se viraram para mim e balançaram a cabeça em saudação.

- Sub Tenente, não esperava vê-la de pé tão cedo. - Uma delas falou.- Fico feliz que esteja se recuperando.

Mal ouvi o que ela disse, muito menos o que a outra falou quando tentou me tirar da sala. Apenas a empurrei e segui com os olhos fixos no caixão.

Quando consegui ver, soltei um soluço e meus olhos se encheram de lágrimas.

O rosto dela estava sereno, mas visivelmente coberto de maquiagem já que mesmo assim era possível ver os roxos e vermelhos em suas bochechas e olhos, tinha um corte fundo no queixo, parecia quase que ele teria se partido ao meio. Seu cabelo estava preso em um coque e usava uma farda feminina de sargento.

Levei minhas mãos até seu rosto, acariciando suas bochechas com os polegares, meus olhos já estavam irritados de chorar, mesmo assim sinto as lágrimas pingando na roupa.

Aproximo meus lábios trêmulos e molhados e beijo sua testa, ainda acariciando seus cabelos.

Com um suspiro, levanto seu corpo do caixão e sinto as duas enfermeiras me segurando pelos braços.

FarleyOnde histórias criam vida. Descubra agora