Westminster. Londres.Chovia quando cheguei ao antiquário. O céu nublado exibia um sol ainda tímido que não havia aparecido totalmente. O vento gelado batia contra as janelas do carro, fazendo as gotas finas de chuva baterem contra o para-brisa, a neblina ainda presente deixava tudo ainda mais melancólico. Como ouvir Lana Del Rey, numa tarde de domingo chuvoso.
Sinto meu estômago se revirando, não imaginei que ficaria nervosa, mas estou. Paro o carro do outro lado da calçada de frente para o pequeno estabelecimento, decido não entrar imediatamente na loja.
Mordo a unha do dedo mindinho... Talvez fosse melhor voltar outro dia... Não. Você já adiou por tempo demais! Tento pensas nas melhores palavras a se dizer quando a ver mas, minha mente fica mais vazia que a lista de convidados do casamento do Chris Evans. Argh porque isso tem que ser tão difícil? Apoio as mãos no volante e observo a rua pouco movimentada pelo vidro embaçado. Que bobagem... Vão ser só cinco minutos. Vou entrar, pegar as coisas e ir embora.
Rio sozinha. Não acredito que estou com medo de entrar no antiquário, eu vinha aqui o tempo todo.
“Eu vinha aqui o tempo todo”
Olhando a beleza daquela simples vista, percebi que a maior parte do meu nervosismo não vinha de buscar aquelas coisas e sim, que fazia mais de dez anos desde que passei por aquela porta a última vez, meu pai ainda era vivo. Eu era feliz.
Meu maior problema era se eu iria conseguir assistir George, o Curioso. Sem responsabilidades, sem crises de choro no banheiro as três da manhã. Minha vida era completamente diferente do que é agora. Algumas das minhas melhores lembranças eram ali. Tenho medo de entrar lá e acabar estragando isso de alguma forma. Do carro observo a vitrine. A luz amarelada, a placa pendurada na porta dizendo que estava aberto, os livros e objetos ali parados... Olhando daqui, não parece ter mudado muito.
Deve ter se passado uns dois minutos quando saio do meu mini fusca verde e corro até a porta. Fico encharcada, mesmo com a pouca distancia, não parecia estar chovendo tanto. Assim que entro escuto o antigo barulho do sino da entrada, avisando sempre quando alguém adentra no ambiente. Sinto o mesmo cheiro de lavanda, e poeira.
Nada mudou! Tudo continua o mesmo desde a última vez que estive aqui. O balcão de madeira em frente a porta. O corredor ao lado dele, coberto pelo papel de parede verde com pequenas margaridas. As rachaduras nos cantos do lugar. O chão de madeira. As prateleiras lotadas com livros velhos, cercadas por mesas lotadas por coisas antigas e objetos empoeirados. A escada antiga ao lado da janela, do jeito que me lembro ─── com as mesmas manchas no carpete ─── Tudo do mesmo jeito.
Não sei se isso é reconfortante ou estranho. ─── Ou até mesmo deprimente.
Ando em direção ao balcão onde vejo uma pessoa parada atrás dele. Me aproximo em dúvida se realmente é ela. Mas porque não seria? Ela era a única que ficava atrás do balcão, não deixava ninguém entrar ali. Uma pequena observação. Havia dois lugares que Lucy jamais me permitirá entrar em todos os anos que estive aqui: Atrás do balcão e na sala dela ─── é o único cômodo que fica trancado ─── Fica lá em cima, Em frente a escada.
Acho que é ela.
──── Lucy...
A figura se vira.
Não era ela.
──── Olá, Bem vinda. Deseja alguma coisa?
Uma garota bonita que não parece ter mais de dezesseis anos me observa com um sorriso tímido no rosto, que quase é escondido pela única mecha branca daquele cabelo castanho, sua blusa escrita I’m a whitch com uma foto do Harry Potter me chama atenção.
──── Bom gosto.
Digo indicando a blusa com o queixo, como resposta ele me lança outro sorriso. Encaro o cômodo e pergunto:
──── Lucy está?
──── Infelizmente a senhora Jones não pode vir hoje, mas posso ajuda-la com o que precisar.
──── Bem, faz duas semanas que recebi uma ligação dela, me dizendo para vir buscar algumas coisas, e que o lugar estava passando por uma super reforma.
Aponto o dedo indicador para o corredor.
──── O que é estranho, porque parece estar do mesmo jeito de quando eu vim aqui a última vez, e já faz uns dez anos atrás.
Meu Deus, por que eu continuo falando?! Com os olhos pretos como um céu sem estrelas, ela fala:
──── A obra é na sala dela, as coisas que são esquecidas aqui ficam lá. O problema é que está trancada e só ela tem a chave.
──── Entendo.
──── E ela me disse especificamente que queria lhe entregar pessoalmente. Mas hoje não conseguiu vir trabalhar, não estava se sentindo bem.
──── Não é nada sério, é?
──── Não, não! ─── Ela responde quase que de imediato, com olhar despreocupado. ── Só um pouco de dor de cabeça.
──── Que bom, diga que desejo melhoras e agradeço por ela ter ligado. Obrigada senhorita...
──── Brown. Lise Brown.
──── Obrigada Lise. Foi um prazer.
──── Seu nome é?
──── Aurora.
Ela sorri.
──── Aurora? Aurora Ferrari?
Afirmo com a cabeça.
──── Ela fala de você direto, é um prazer finalmente conhecê-la.
──── Digo o mesmo.
Lise não diz nada por um momento.
──── Bem, agora se me der licença preciso ir resolver uma coisa.
──── Claro, sem problemas, também vou indo nessa.
Quando estou prestes a passar pela porta uma outra menina de vestido florido me chama.
──── Senhorita Ferrari né? Olha, Lucy sente muito por não ter vindo hoje, mas perguntou se poderia voltar aqui amanhã as oito da noite?
──── Amanhã? Ok, sem problemas.
Saio da loja do mesmo jeito que entrei, ansiosa. Claro. Não TÃO ansiosa quanto antes, mas ainda nervosa por ter que ver Lucy amanhã. Parto com o carro até o trabalho, hoje o dia vai ser cheio.
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𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒 𝐃𝐎 𝐒𝐎𝐋 𝐒𝐄 𝐏Ô𝐑
FantasyAurora Ferrari é uma garota normal que sonha em se tornar chefe de um grande restaurante, mas por conta da morte de seu pai ela vê sua carreira virar de cabeça para baixo. Sem dinheiro e com um namorado que não apoia em nada esse sonho, ela se encon...