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Quando acordei peguei as últimas roupas limpas da mala e calcei minha coturno

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Quando acordei peguei as últimas roupas limpas da mala e calcei minha coturno. Eu precisava comer alguma coisa e também precisava buscar minha gata na casa da minha mãe.

A pobrezinha nem deve ter comido ontem a noite e isso tirou o meu sono.

Desci as escadas do segundo andar até o térreo na recepção e cumprimentei o porteiro antes de sair.

Primeiro vou passar na casa da minha mãe, a essa hora ou ela estava no décimo quinto sono ou nem está em casa. Já que está fazendo um papel de moça com coração partido pra ganhar mais benefícios no divórcio e anda por aí "chorando" no ombro das amigas.

Tudo está um caos.

Paro na frente de uma livraria antiga, os livros chamam pela minha atenção. Eu não gosto tanto de romances, talvez o meu caso em particular faça eu me sentir desconfortável vendo o amor incondicional daqueles que sacrificam o mundo para salvar sua pessoa.

Acho que na minha condição eu seria quem sacrificaria a pessoa para salvar o mundo. Eu cresci escutando que todos são substituíveis, e agora vejo que realmente tem um sentido nisso tudo.

É tudo complicado demais.

Volto a andar quando meu estômago ronca. A cada passo eu mapeava onde estava a caixa transporte da Molly, onde estava seus potinhos para se alimentar e onde eu guardei sua ração.

Acho que tenho um pacote fechado de ração no meu apartamento. Talvez eu até consiga levar alguma coisa do meu quarto se minha mãe não estiver em casa.

Acho que passei a minha vida inteira na zona de conforto, e é só quando você sai que percebe. E não estou gostando da experiência.

A chuva começou a cair e eu fiz uma carena naquele mesmo instante. Eu esqueci o guarda chuva para variar.

Quando dobro outra esquina percebo uma sombra encomoda me perseguindo, um homem encapuzado de preto. Ele foi até a praça coberta pela neve atrás de mim, desceu a escada da praça do mesmo lado que eu, e parecia até acompanhar meus passos usando as mesmas pernas de acordo com meus passos. Uma sincronia aterrorizante.

Aterrorizante porque meu cérebro acabou de raciocinar que eu estava sendo perseguida, porque a chuva caia e eu quase caía com o chão molhado e gelado, aterrorizante porque eu nem trouxe meu celular e aterrorizante porque não começo esse lado de Nova York muito bem, e além de tudo isso, o panaca percebeu minha ficha caindo e começou a apertar o passo.

Eu esqueci como se respirava, comecei a correr e as pessoas estavam tão ocupadas com as próprias vidas que não viam. Pareciam estar cegas ao meu desespero.

Estava em um filme de terror, daqueles com o final mais trágico possível, e de repente minha mente ansiosa começou a criar diversos cenários, diversas coisas horrendas que aconteceriam comigo se aquele cara me alcançasse.

Era Um Adeus Naquele Inverno Onde histórias criam vida. Descubra agora