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 Os passos tortos de um bêbado costuravam as ruas de Valkaria. A mão suada impediu a queda do corpo ao ser apoiada no pilar de pedra de um dos lados do portão gradeado.

— Está bem? — Um dos guardas do portão foi ao amparo.

— É ele. — disse o segundo guarda — Parece estar ferido. — ele apontou para o rastro de sangue seco que descia pela testa e morria no queixo — Devemos avisar o senhor?

— Não... — Kahn se recompôs, vestindo um sobretudo escuro feito de pele de lagash, por cima da armadura de couro de wyvern — Fiquem atentos para qualquer coisa suspeita. São tempos sombrios, cuidado nunca é demais. — Os guardas assentiram, com um acompanhando Kahn até a entrada da mansão Nightgale.

A porta fechou às costas do jovem ao entrar no hall de entrada. Como se fosse sua própria casa, andou por ela até encontrar todos reunidos à mesa de jantar, banqueteando.

— Kahn! — Nit abriu um largo sorriso, acenando para uma das criadas nos cantos preparar um lugar para o jovem — Sente. Acabamos começando sem você.

À mesa estavam Faerla, Haegar, Donorok, Maya e Kainy sentados à direita. Einz, Thon-Dhiur, Berthol, Donna e Sarid à esquerda. Na cabeceira, estava Nit, com Kahn sentando no lugar vago na outra ponta.

— Está dois dias atrasado. Temos mais o que fazer do que esperar sua chegada. — Disse Sarid ao jovem.

— Relaxa, maguinho. Ele já tinha avisado que poderia ter até três dias de atraso. — Disse Donna, relaxada na cadeira, bebendo a taça de vinho com firulas, tentando parecer refinada.

— Onde está Olivia? — Perguntou Kahn, olhando em volta.

— No segundo andar junto com minha esposa, para nossos filhos se conhecerem. — disse Nit — Nixie está com elas.

— Então todos vieram. Ótimo.

— Pra que quer todo esse pessoal junto, cabeçudo? — Einz deu de ombros — Não que esteja reclamando, já que estamos sendo pagos pra tá aqui, mas tô curioso pra burro!

— Por Marah! Tenham paciência, camaradas. Deixe meu irmão acostumar a bunda na cadeira primeiro. — Disse Thon-Dhiur no intervalo entre uma garfada e outra.

Kahn assentiu em agradecimento para ele, mas seus olhos pararam sobre as bandejas, tigelas e garrafas de bebida sobre a mesa, com um enorme javali assado no centro, já desmontado ao ter sido atacado pelos convidados. Engoliu a saliva que se acumulou na boca e direcionou sua atenção para Berthol.

— Conseguiu o que pedi, Berthol?

— Não foi fácil, mas sim, é claro. Apenas gostaria de saber se realmente pretende utilizar tais ovos.

— Por enquanto, não. Preciso ainda encontrar com meu professor e ver o que descobriu sobre os simbiontes, se é seguro.

— Lógico que não! — disse Haegar enquanto servia mais vinho em sua taça prateada com um círculo dourado no centro — Esses ovos, até onde sei, são filhotes de lefeu! — Apesar da voz alterada, sua expressão estava calma.

— Isso é uma, das várias especulações do que são essas coisas. — disse Faerla ao olhar o anão de canto, voltando seus olhos em direção a Kahn — No entanto, isso não diminui o risco. Deve ser último recurso lidar com algo desconhecido e incerto.

Kahn assentiu.

— É a carta na manga. Afinal, ainda precisaria encontrar voluntários. — a criada colocou um prato servido a frente dele e preencheu novamente sua taça de vinho — Maya, como foi a peregrinação?

KAHNOnde histórias criam vida. Descubra agora