Capítulo Quatro

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Macau - Anos atrás

Acho que desde sempre eu fui desse jeito.

Antigamente, não existia apenas uma família Theerapanyakun. Posso dizer que, hoje, essa fachada que criamos sobre nossa imagem não é nada comparado ao que éramos no passado.

Nossa família era dividida em duas: a primeira e a segunda. 

A primeira, a mais importante, era conhecida como a mais prestigiada, mais evoluída, mais forte e mais rica; já a segunda, era totalmente o oposto: mais trabalhadora, menos evoluída, mais simples e a mais fraca. A minha família.

Tudo isso por culpa da única pessoa que causava sofrimento para todos, sem sentir remorso algum. Meu pai, Gun.

Por algum motivo, ele sempre fazia questão de dividir as duas famílias. Para ele, não importava se tínhamos o mesmo nome, se não era ele quem comandava tudo. 

Não preciso entrar em detalhes sobre isso. Ele era monstro e agradeço aos céus todos os dias que ele se foi para sempre. E não me importo se ele era meu pai. Sangue do meu sangue. Ele teve o que mereceu e eu pude ter um pouco de felicidade não ficando mais em segundo plano. Sem mais ser da segunda família. Apenas sendo um Theerapanyakun. Mas não posso deixar de negar o que esse homem causou muitas feridas em mim que nunca serão capaz de sicatrizar.

Nunca esquecerei do dia em que ele me bateu tão forte só por ter trazido um amigo íntimo para casa. "Você não tem o direito de trazer outro homem para essa casa e fazer essas depravações debaixo do meu teto". Disse ele.

Depois desse dia, nunca mais falei com meu amigo de tanta vergonha que senti. Nunca mais me senti confortável em me apaixonar novamente por outro menino. Mas meus problemas não acabaram e ele ainda continuou sendo o pior pai do mundo, que jogava todos os seus problemas e frustrações sobre Vegas e eu. 

Por isso que, quando ele morreu, eu pude ter um pouco de felicidade. 

Eu ganhei um sobrinho muito fofo. O meu dia ficava cada vez melhor quando Venice sorria pra mim. E, desde então, passei a ser uma nova pessoa: um tio responsável, um amigo, um tio que o fizesse lembrar que a vida não é só feita de problemas. Eu era feliz sendo alguém importante na vida dele.

Com o tempo, eu fui percebendo que eu não precisava mais me prender ao passado e que eu podia ser quem eu era e ficar com quem eu quisesse ficar. Eu queria amar e ser amado tanto quanto Vegas amava Pete e tanto quanto eles amavam seu filho. Não havia mais aquela pessoa que ia me bater e me julgar a cada momento. O único problema, foi que acabei exagerando.

Você se afeiçoa tanto na ideia de liberdade que acaba passando do limite.

Eu me lembro da sensação da primeira vez que alguém entrou em mim. Pensei que eu poderia ficar com essa pessoa para sempre, mas não foi bem assim. Foi minha segunda relação com um cara que não era da minha família e ele só quis me usar para ter dinheiro. No fim, acabei fazendo o que ele queria e, depois, segui em frente com outro e com outro e com outro e com outro até chegar ao ponto que eu já não me importava mais com o amor de alguém que eu tanto procurava. Eu apenas queria satisfazer a minha vontade de sentir prazer.

Obviamente, eu não fui o único a mudar. A situação da minha família também ficou melhor. Kinn e Vegas estavam mais unidos do que nunca. Kinn e Porsche estavam prestes a assinar os papéis de adoção do segundo filho ou filha. Kim e Chay estavam tentando se acertar. Vegas e Pete era feliz com seu filho.

Infelizmente, nem tudo era um mar de rosas. Quanto maior for a fama, maior será o número de pessoas que surgem para cuidar da sua vida.

Era impressionante o número de fotógrafos que tentavam expor qualquer coisa de qualquer membro da família. 

Midnight Boys | lita short ficOnde histórias criam vida. Descubra agora