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— Mas porque vocês se separaram, mãezinha? — Cristal perguntou com um quê de tristeza presente em sua voz. — Vai, me conta.

*flashback on*

O final daquele ano foi inesquecível, Sarah e eu conseguimos, sem o menor esforço, unir nossas famílias em uma casa de praia, que alugamos na época, só para aquela ocasião. Nossos pais, assim como nossas mães, haviam se tornado grandes amigos.

— Feliz ano novo, Julie. — Sarah foi a primeira pessoa a me desejar, com suas mãos envolta da minha cintura.

— Feliz ano novo, Sarará. — Envolvi minhas mãos em torno do seu pescoço. — Que seja o primeiro de uma vida inteira juntas!

— É tudo o que eu mais quero. — Ela disse antes de selar os nossos lábios.

Logo nossos pais se uniram ao nosso abraço. Desejei permanecer naquela bolha, com aquelas pessoas, pra sempre.

Sarah e eu passamos os três anos do ensino médio juntas, na mesma turma, uma sempre ajudando a outra. E o nosso amor cada vez mais intenso.

No último semestre do último ano da escola, Sarah passou a faltar à escola durante uma semana e quatro dias. Nos falavamos apenas por telefone, e ela me dizia que estava com problemas familiares, mas que conversaria melhor comigo pessoalmente, mas sempre que eu ia na sua residência, nem ela e nem seus pai se encontravam em casa.

Era uma sexta-feira quando me encontrei com Sarah no parque, e mesmo com seu olhar tristonho e suas olheiras profundas, ela sorriu assim que me viu e me entregou as tulipas, mas ao invés de me dizer uma pequena declaração junto as flores, seu lindo sorriso se transformou em um choro extremo. Como se ela tivesse segurado todas tristeza durante esses dias, e tivesse se derramado ali, em meus braços.

— A minha mãe. — Foi a única coisa que saiu dos seus lábios, mas seja o que for, não era nada bom. 

— Eu tô aqui. — A abracei ainda mais forte. — Eu tô aqui, meu amor.

Apertei-a em meus braços, na falha tentativa de sugar toda sua dor para mim. Era horrível vê-la mal daquele jeito, e o pior era que eu não fazia ideia do porque. Tentei acalmar Sarah de todas as formas, mas ela só sabia chorar.

— Minha mãe está doente. — Ela disse, com a cabeça deitada sobre meus peitos, depois de já ter se acalmado. — Minha mãe tá com Alzheimer, Julie. — Ela tornou a chorar novamente, mas agora de forma compulsiva.

Eu não esperava por nada daquilo, fiquei estática, completamente em choque por alguns segundos. Tentando assimilar se havia entendido suas palavras.

— Minha mãe não vai mais se lembrar de mim, Julie. — Sarah passou a soluçar. — Ela, ela.. ela não vai mais se lembrar que sou a filha dela, a sua menininha. — Passei a chorar junto com Sarah. — Ela vai se esquecer de todas as boas lembranças que construimos juntas. — A cada uma das suas frases era como se meu coração fosse esmagado. — Eu pensei que teríamos a vida inteira pela frente, que ela envelheceria ao lado do meu pai, e juntos me veriam conquistar meus sonhos ao seu lado.

— Ei, ei!!! — Segurei em seu rosto e a fiz me olhar. — Tudo isso vai acontecer! A sua mãe e você criaram memórias incríveis, memórias inesquecíveis, que nada vai ser capaz de apagar do coração dela. — Tentei inutilmente secar suas lágrimas. — Você vai ser pra sempre a menininha dela, a cachinhos dourados que ilumina a vida dela. — Relembrei uma das mil declarações, que presenciei, de sua mãe para ela, ao longo desses anos.

As Inesquecíveis Tulipas VermelhasOnde histórias criam vida. Descubra agora