no meio do caminho havia um stalkear
a história começa comigo nos primeiros anos da faculdade, solteiro e cheio de hormônios. de alguma forma online, eu conheci o ricardo, engraçado, bonito, óculos grandes, ouvia o mesmo que eu, e militante. ele me chamava muita atenção naquela época.
ficamos semanas tentando marcar de nos ver, mas encontrar alguém que se conheceu online tinha seus desafios e me despertava algum medo e ansiedade. juro que bolava plano em cima de plano para tirar aquele encontro dos servidores do tinder.
o plano estava indo pra algo como um date na praça de alimentação do shopping enquanto minhas amigas me assistiriam de longe, mas aí comecei a achar aquilo tudo muito rocambolesco, muito estranho.
eis que resolvi chamá-lo para me encontrar dentro do campus da faculdade que eu estudava, fiz a logística para colocá-lo pra dentro e reforço aqui o quando os cachos dele me deixaram amolecido ao vê-lo pela primeira vez.
só que a química do meu cérebro parou de funcionar, e o arrastei para uma sala, nos beijando vividamente e fizemos atos que poderia ser descritos como vulgares e criativos, se alguém nos visse dentro daquela sala de aula. o rapaz sabia beijar, sabia conquistar, e nas nossas conversas online a gente já tinha tangenciado esses bosques.
some isso, mais o fato de ele ser um gostoso, e a adrenalina da situação e eu ignorei todo o resto da existência dele, comi se aquele fosse apenas um encontro sexual.
daí o levei para a saída, me despedi e segui a vida acadêmica como se fosse um dia útil qualquer.
eu não sabia ali, ou pelo menos escolhi não pensar, mas ele odiou esse tratamento dissonante das nossas conversas, e por ali ficaram os nossos laços.
pois anos se passaram, e assim que terminei um namoro, o tesão bateu na minha porta, e quem abriu foi o ricardo.
tinha tirado a habilitação de dirigir há algum tempo, então fiz tudo que os filmes me ensinar. banho, perfume, cueca nova, meias limpas, barba ajustada, carro cheiroso, chiclete na boca e camisinha no bolso. me sentia um cafajeste, com a confiança inabalável.
cruzei algumas cidades e fui na casa dele. sexo incrível, confesso que sai dali com ate alguns aprendizados.
obs.: ele estava sozinho em casa, e resolveu que iriamos transar na cama maior, que era a de casal. porém o casal dono dessa cama eram os pais dele. e nada foi mais estranho do que quando fui pegar minha cueca no pé da cama e vi um quadro com os pais daquela casa embaixo da king size. embaixo. da. cama.
meses se passaram e resolvemos repetir a dose, mesmo cenário, casa dele, eu cafajeste de cheiroso, só que dessa vez na cama de solteiro. porém a sintonia tinha morrido, fiz algo errado (ali, ou antes), ele não quis falar, eu fiquei ansioso, foi horrível para os dois.
bem, essa história em si não tem o que as outras tem: ela tem vínculos.
corta para outro momento da vida do eu lírico. trabalhando de madrugada, homem carente mas cansado demais pra flertar.
era uma época que o instagram tomava algum espaço da minha vida, e lembro que não tinha muito apego com as pessoas que por ali passavam.
um homem lindo me seguiu, mas na hora imaginei que pudesse ser algum "conhecido" do twitter, ou de algum app de pegação, então não liguei muito sobre a origem do contato naquele momento.
turno da madrugada, algo como meia noite, quando ele puxou algum assunto. começou besta, mas ficou gostoso rápido. acho que tinha um vídeo dele com skate, caindo talvez?? ou com os pets deles? enfim, uma conversa nasceu e se prosseguiu por semanas, talvez alguns meses.
confesso que me derreti pelo ruan. primeiro porque nomes curtos me atraem demais, segundo porque o cara tinha lábia.
fizemos um encontro bem paulistano: se encontrar ali na av. paulista, comprar bebida e sair andando e conversando. o assunto não morria, os dois bem comprometidos em falar sobre aparentemente todos os tópicos do mundo. como os redatores divinos tem muito empenho, o guri tinha o mesmo signo que eu, e olhando em retrospecto pode ser que isso 1) contribuiu na minha burrice 2) fosse mentira.
o encontro foi o melhor que eu tinha tido até aquele momento, puramente pela nossa conversa e pelo ritmo cardíaco que ele me causava.
antes de irmos embora, eu dei uma pulseira minha (ou um anel?) para que "ele me devolvesse no próximo encontro". fui embora sorrindo, dormi como se houvesse um cabide de terno na boca.
mas a água fria sempre chega na manhã seguinte, e o ruan não tinha mais assunto e nem vontade e nem papo. tão simples quanto isso. minha cabeça girava todos os dias, e a matemática não fechava.
um dia ele ainda voltou a me responder, primeiro falou que tinha outro cara no esquema, depois me chamou pra ir na casa dele. nunca esqueço que era uma quinta-feira, acordei cedo e ele parou de responder naquele dia, último que nos falamos.
um dia resolvi fazer meu dever de casa, e voltei aonde tudo começou: o instagram. não tínhamos amigos em comum, mas tinha alguém que eu conhecia e que curtiu fotos antigas deles. curtiu mas não comentou, então pensei conhece mas não é best.
o ricardo.
achei que havia alguma amizade entre nós, e fui procurá-lo pra ver se ele me dava alguma pista desse quebra-cabeça emocional. e logo no começo na conversa ambos ficamos chocados.
a história basicamente foi a seguinte: o ricardo já ficou com ruan, aliás, eles aparentemente tiveram algo sério e o ruan estava muito afim desse relacionamento dar certo.
não deu. mas o contato dos dois continuou, tipo, pelo instagram e online. depois que o ricardo ficou comigo ele postou na conta privada dele sobre mim, meio que reclamando, e postou meu arroba. e foi daí que o ruan começou a me seguir e conversar comigo (!!!!).
e a parte mais sinistra é que aparentemente não foi a primeira vez que ele procurou outros contatinhos do ricardo. tenho algo pra te dar, não sei como embrulhar: 10 sessões de terapia 🥸
triste pensar que me apaixonei por um maluco e possível perseguidor.
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vilão
Non-Fictionessas histórias parecem falar de amor. você encontrará erros de escrita. obra de ficção.