🌸 | Prólogo

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Japão, Período Heian (794-1185)

                 A vida é tão curta quanto a duração de uma flor de cerejeira. As pétalas delicadas e aguardadas por todo o povo japonês com a chegada da primavera, vivem em torno de cinco a sete dias.

                 Isso me fez refletir, com certo receio, que em um piscar de olhos tudo que eu já conhecia desapareceria quando a morte viesse me buscar. De todo modo, se eu fosse amaldiçoado com uma semana restante de vida, eu não sei exatamente como aproveitaria meus últimos dias, mas sei com certeza onde não estaria.

                 Poderia listar como primeiro tópico a cerimônia de contemplação das flores de cerejeiras nos jardins reais do Imperador.

                 O céu foi camuflado quase que totalmente devido à quantidade de flores que se espalharam em galhos retorcidos. As árvores foram estrategicamente plantadas para formarem um corredor, onde as pessoas desfilavam sobre um tapete de pétalas rosas e brancas. Os quimonos mais pesados deixavam um rastro na terra onde a grama não cobria, espécies diferentes de borboletas e pássaros funcionavam como adornos contribuindo para o cenário primoroso.

                 O lago dividia o jardim em dois e um píer foi construído sobre as águas esverdeadas, onde poucos casais passeavam em pequenos barcos. No geral, aquilo se assemelhava a uma pintura.

                 E por mais que eu conhecesse um punhado de pessoas que dariam seu sangue para estar entre a alta nobreza e a própria companhia do Tenno, meu conceito de diversão para aquele dia envolvia outro local. Mas, graças àquela cerimônia entediante, fomos deslocados para fora dos muros palacianos e para bem perto do meu destino. Esse foi o único motivo que me fez sair do quarto para estar ali.

                 E, claro, movido sob a pressão psicológica de meu pai, o qual me convenceu (lesse obrigou) a participar do evento com o argumento de que rejeitar um convite do imperador era mais que ultrajante, podendo ser considerado crime.

                 Se bem que ser babá do meu irmãozinho de dois anos e ouvir pela centésima vez minha irmã mais velha contar que Daiki,um nobre qualquer, estava apaixonado por si, me fez quase desejar ser preso pela guarda real.

                 — Ser jogado numa cela insalubre e escura não seria tão ruim assim — murmurei, interrompendo o monólogo da minha irmã.

                 Hana franziu o nariz arrebitado em chateação, seu olhar me julgando até a alma.

                  — Você se sentiria no seu próprio quarto, Jeongguk, já que ele é imundo igual uma cela.

                 Minha mãe tentou inutilmente esconder um sorriso atrás da mão.

                 Hana abriu o leque em um ímpeto violento, gesto este que evidenciava sua brusca mudança de humor. E não querendo me gabar, mas eu era muito bom em tirá-la do sério, visto que a paciência da minha querida irmã possuía a mesma fragilidade que sua autoestima. Contudo, Hana mascarava sua falta de autoconfiança com roupas finas e acessórios caros. Como naquele momento.

                  A garota com seis centímetros a mais que eu, tinha o corpo magro robusto pela sobreposição de vários quimonos, seus cabelos pretos estavam presos à nuca por um kanzashi dourado. Não muito diferente das outras jovens no local, mas era a mais linda dentre todas, sem dúvida. Porque afinal minha irmã era uma cópia da nossa mãe e ambas ali, lado a lado, poderiam ser facilmente confundidas, caso não fosse pelos cabelos da mulher mais velha que se estendiam livres até a parte posterior das pernas.

Haru • jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora