🌸 | Doce Ignorância

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Assim que sentei no banco do carona e fechei a porta metálica, enfim pude me desfazer do estudante comum que eu interpretava todas as manhãs.

Suspirei. Eu já havia feito aquele mesmo personagem mais vezes do que seria capaz de lembrar, porém, estava certo de que jamais me acostumaria a passar horas entre adolescentes com síndrome de deuses e senhores do saber. Os humanos podiam ser, sobretudo naquela idade, criaturas presunçosas. Era cômico quase na mesma proporção que irritante.

Mirei o espelho do retrovisor, atentando-me à imagem de Jungkook com os amigos ficar minúscula à medida que o veículo se afastava.

Minhas sobrancelhas franzidas suavizaram-se em sintonia ao sorriso discreto que se formou nos meus lábios.

Por ele valia a pena usar uma infinidade de uniformes ridículos e ouvir no vestiário garotos na puberdade gabando-se por terem fodido pela primeira vez. Não que eles confessassem ter sido a primeira vez deslizando o pau em algo que não fosse a palma da própria mão, mas isso era indubitável.

ㅡ Eu sei que já disse isso, mas você fica uma gracinha de colegial, Jiminie. ㅡ A entonação do motorista beirava a zombaria em cada sílaba.

Desviei a atenção da janela para fitar de relance o sujeito ao meu lado. Ele tinha o cabelo escuro alinhado para trás e uma faísca divertida dançava pelas íris cor de avelã.

Entreguei a Kim Taehyung a expressão mais indiferente que eu possuía e ele aproveitou o sinal fechado para continuar a falatória:

ㅡ Acho que como seu responsável, eu deveria te perguntar "como foi seu dia?" ㅡ A voz grave tornou-se melódica ao soltar a típica pergunta feita pelos pais humanos aos filhos. Pelo menos, os pais atenciosos a faziam.

Retirei um cigarro da cigarreira prateada que eu mantinha na mochila e cruzei as pernas da maneira mais confortável que o espaço limitado me permitiu fazer.

ㅡ Só se quiser morrer. ㅡ A ameaça deixou minha boca e o cigarro ocupou seu lugar. A chama azul que despontou do meu indicador foi a responsável por acender o meu vício.

A feição risonha de Tae foi substituída de imediato por uma carranca.

ㅡ Não acredito que está fumando dentro do meu carro novinho! O cheiro vai impregnar no couro…

Calou-se no instante em que soltei uma lufada em seu rosto.

ㅡ Acredita agora?

Os lábios grossos se comprimiram numa linha fina, no entanto, tudo o que fez foi abrir as janelas e voltar a dirigir quando o sinal ficou verde. Conhecia as leis de trânsito, mas as achava inúteis, ao menos para seres como nós que não tínhamos necessidade de nos transportar por meio daquele bloco metálico.

ㅡ Difícil de acreditar mesmo é que você tenha entrado numa banda formada por adolescentes ㅡ ele tossiu para disfarçar o riso ácido. ㅡ Depois de assistir a reprise dessa novela que foi sua vida nos últimos séculos, confesso que nunca vi você ir tão longe por aquele humano.

Observei entediado a nicotina queimar quando traguei novamente.

ㅡ Há algo diferente dessa vez. ㅡ A fumaça aos poucos abandonava meu organismo.

Ele ficou inquieto no banco e os dedos tamborilavam no volante. A postura hesitante denunciou o tom de advertência que veio em seguida:

ㅡ Você diz isso todas as vezes. E todas as vezes acontece a mesmíssima coisa.

Haru • jjk+pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora