Nomás Tú

★ Mudanças ★

Os irmãos Black sempre foram crianças opostas sabe, um muito calmo e o outro muito arteiro, enquanto Regulus gostava de ficar na sala separada para as crianças, em seu quarto lendo ou em seu próprio mundo, Sirius corria pela a casa mexendo os quadros de lugares e importunando os membros da família que estavam neles. Era perguntas atrás de perguntas que os irritava tanto que em pouco tempo era uma cacofonia de vozes raivosas pela mansão.

Eram diferentes demais para sequer se falarem, mas aprenderam enquanto moravam na Mui Antiga Casa Black que a união deles traria mais benefícios do que a inimizade e assim se iniciou a união dos pequenos Black.

Em casa eles eram como duas pessoas desconhecidas, não se falavam e sequer se olhavam. Pelo menos até seus pais irem dormir, então Sirius se arrastava debaixo das cobertas do irmão mais novo e ficavam apenas ali, sentindo o conforto da companhia um do outro. Era raro um momento em que os dois sentavam e conversavam sobre algum assunto com calma enquanto estavam em casa, normalmente isso acontecia na escola, onde tinham o mínimo de privacidade, lá eles quase sempre estavam escondidos em algum canto da biblioteca para que ninguém percebessem eles ali.

Mas hoje foi um dia atípico, pois os dois estavam sentados de pernas cruzadas a um metro um do outro no canto do quarto do mais novo.

O dia claro e limpo do lado de fora não refletia em nada o humor do filho mais velho dos Black. Sua expressão era nebulosa e olhava para seu irmão como se lentamente estivesse definhando naquele momento. E talvez estivesse.

Sirius se sentia como um cachorro enjaulado, estava respirando rapidamente e suas mãos não paravam de tremer enquanto encarava seu irmão, que interrogativamente lhe mirava de volta.

Regulus sabia que tinha algo a ver com sua mãe, já que tinha presenciado uma briga deles mais cedo, aquela tinha sido a pior daquele verão. Depois do confronto Sirius ficou com roxos espalhados pelo corpo todo e um corte profundo no lábio superior. Regulus até pensou em intervir e correu até seu irmão, mas quando chegou perto sua mãe o deu uma bofetada tão forte que ele caiu no piso frio junto com Sirius que o olhou suplicante, pedindo para que fosse embora e ele foi, como o grande covarde que ele era. Era sempre assim que acontecia, Sirius sempre o protegia das brigas ou agressões da melhor maneira possível, não importava se por causa disso receberia castigo em dobro e Regulus sempre deixou que isso acontecesse, sem intervir.

— Você vai me dizer alguma coisa ou vai apenas ficar me olhando com essa cara de idiota? — Depois de mais alguns minutos em silêncio o mais novo perguntou, queria voltar logo para sua leitura.

— Eu vou embora. — Sirius desabafou, sua voz quebrada ao pronunciar aquelas palavras, mas resignada também.

O mais novo parou e lentamente sua expressão caiu, seus olhos encarando o irmão que ele tanto amava, a sua única salvação.

— Você vai me deixar aqui sozinho? — Sua voz saiu entrecortada ao imaginar viver naquela casa sem ele, seus olhos vagando sem rumo pelo o quarto em busca de algum ponto em que ele pudesse se segurar, suas emoções nesse momento era como um mar revolto em uma tempestade. — Vai morar com os Potter?

A voz de Regulus saiu com tanto desprezo que Sirius se encolheu no seu canto, ficando com os ombros mais curvados do que já estavam pelo peso da traição que Regulus estava impondo.

— Eu sinceramente não posso ficar aqui, você sabe disso Reg — A voz de choro fez com que Regulus o olhasse nos olhos mais uma vez. — Eles não vão deixar Ela morrer e eu preciso que isso pare, eu não aguento mais, todos os dias eu sou lembrado de quem eu nunca fui.

— Eu mais que ninguém sei disso, mas não acho justo você ir embora e me deixar aqui, eles são cruéis demais.

— Eu sei, mas- — Sirius olhava desesperado para seu irmão mais novo, era palpável todo o trauma causado a ele, toda a dor e sofrimento que ele carregava. — A família Potter me ofereceu uma saída para todo esse sofrimento e eu preciso agarrar isso enquanto tenho chance, só Merlin sabe quando vou poder fazer isso de novo. Você sabe tudo que tenho que passar aqui, o quanto eu tenho que aguentar e depois de resistir tanto eu não aguento mais, cheguei no meu limite.