Escute, minha alma nunca foi inteira, desde de meu nascimento eu tinha o fardo de carregar uma coisa pegajosa e vermelha como alma. Mas naquele dia... Naquele dia eu desejei ainda ter aquilo dentro de mim.
🩰
ANOS ANTES.
A verdade é que Harry não sabia que sua mãe tinha morrido até os seus dez anos, quando em uma crise, seu pai alcoólatra despejou tudo em si. Antes ele achava que sua mãe tinha os abandonado e ido embora, como se fosse uma roupa que ela tinha enjoado e jogado fora.
Então a surpresa que ela tinha morrido no seu parto foi como um tapa dolorido, que nunca parou de arder.
Ele tinha acabado de chegar da escola, não queria voltar para casa, duvidava que algum dia realmente quis, mas não tinha como morar na escola, então respirava fundo e fazia seu caminho do paraíso para o inferno. Tudo isso a pé.
Não foi uma surpresa entrar em casa e ver várias garrafas quebradas e cheiro de mijo e bebida por toda parte, a surpresa na verdade foi o homem sentado no sofá, não desmaiado, mas acordado e o encarando. Nunca tinha encontrado seu pai acordado, sempre era desmaiado. De forma inocente uma esperança de que ele estivesse sóbrio floresceu, seu pai não estava bebendo mais, aquilo era bom.
Ah, se ele soubesse o que aquilo significava… Nunca teria ido para casa mais cedo, teria ficado vagabundeando pelas ruas como sempre, esperando a noite cair para voltar para casa.
Seu pai não o batia e nem abusava, duvidava que ele tivesse forças pra isso, então não tinha realmente um perigo eminente para ele ali. Porém, era a forma como ele sempre estava que atormentava o White, a tristeza tão profunda que nunca acabava o fazia ter pesadelos, porque ele estava de mãos vazias, não sabia o que fazer, não sabia ao que recorrer para ajudar seu pai, então ele tentava amaciar sua culpa espairecendo por ai, porque dentro de casa ele seria completamente inútil.
─ Voltou cedo… ─ Mesmo que o tom estivesse baixo, como se ele tivesse desaprendido a falar, Harry se encolheu e engoliu em seco.
─ O senhor bebeu? ─ Sua voz fina saiu baixa e esperançosa de que a resposta fosse negativa.
─ Hm... ─ Seu pai o encarou e por um momento ele viu um traço de culpa passar pelos seus olhos, mas talvez tenha sido sua imaginação, já que quando piscou já tinha sumido. ─ Você vai começar a trabalhar.
─ O que...? ─ Harry ficou confuso, mesmo naquela idade sabia que ele não podia trabalhar por ser de menor. ─ Eu... Eu não posso trabalhar.
─ Sabe andar? Falar? Tem coordenação motora? Então, sim, você pode trabalhar. ─ Retrucou o mais velho.
─ Por que você não trabalha? ─ A pergunta tinha caído da sua boca antes que pudesse se refrear.
─ Olhe como fala comigo, sou seu pai. ─ Proferiu ameaçador.
─ Ah é mesmo? Pensei que tinha esquecido que tinha a porra de um filho. ─ Dez anos, e ódio demais em um corpo tão pequeno. ─ Você deveria trabalhar e não eu.
─ Eu não tenho condi- ─ A fala de seu pai foi interrompida por um grito seu.
─ Claro que não, por que fica chorando por uma vadia que abandonou a gente! ─ Gritou a plenos pulmões, pouco ligando para os vizinhos que poderiam escutar.
─ Não fale assim da sua mãe! ─ O homem se levantou, seus olhos brilhavam com fúria.
─ Eu falo do jeito que eu quiser! Ela não merece respeito depois de abandonar a gente.
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Dança da morte.
RomanceHarry White é um garoto perfeito; um dançarino perfeito segundo críticos, uma causa perdida perfeita segundo seus tios, uma casca vazia perfeita segundo ele mesmo. A perfeição o perseguia incansavelmente, mas em algum momento ele teria que pagar o p...