Three.

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A perfeição cobra seu preço e ele paga de bom grado.

🩰

A verdade que ninguém saberia, era que Harry tinha visto o holofote balançar, ele tinha visto seu adversário folgar os pregos. Mas ele não falou para ninguém. Porque? Não sabia, talvez quisesse aquele destino, talvez não tivesse mais forças para aquilo, talvez estivesse finalmente pagando uma dívida que foi entregue para si assim que nasceu. Aquilo sempre seria um mistério.

Depois da morte de seu pai, quando sua guarda foi entregue para seus tios. Algo nele tinha finalmente fez aquilo que já ameaçava fazer; se romper, marcar em uma ferida que sempre ficaria aberta, não importasse o quanto tentava curar-se. Nenhum esforço seria suficiente, nada seria suficiente.

Então quando soube que teria uma competição de ballet, onde a Vitória seria se apresentar na Broadway, ele não sentiu nada, mas isso não queria dizer que não sorriu, fingiu uma euforia que não sentia. Seus tios comemoraram e aumentaram a dieta e dias de treino. No máximo dez uvas de manhã e um copo de leite no jantar, e todo dia ensaiando, de segunda a domingo. Sem parar.

E então estava ali, relembrando tudo o que aconteceu da sua vida até ali. Os namoricos não deram em nada, mas que só o marcaram por conta dos sentimentos que sentia. A maioria das pessoas sentiam falta das pessoas, ele sentia falta dos sentimentos que elas causavam em si.

─ Espero que você não estrague tudo. ─ A voz de sua tia veio de algum lugar, e ele se forçou a voltar para aquele camarim mal estruturado para concordar com a cabeça. Suspirando, ele se levantou da cadeira e saiu do camarim, seus tios não se importaram. Estranho, e estranhamente libertador.

Foi quando ele olhava o pessoal preparar o palco que ele viu, lá em cima, um competidor afroxando o holofote. Aquele era um dançarino que tinha se declarado seu inimigo a muito tempo atrás, por motivos não muito convincentes, mas o que importava era: ele estava sabotando a si, Harry seria o primeiro a se apresentar, então com certeza aquilo era para ele. O Potter deveria ir falar com alguém, mostrar onde o garoto estava e o desclassificar ali mesmo. Mas ele não o fez, só ficou observando o garoto terminar o serviço.

Na maioria das vezes, quando se sabe que vai morrer ou se machucar ao ponto de uma possível morte, algo dentro de nós se estremece e se contorce para sair daquela situação, para correr o mais longe possível. Aquele era nosso instinto de sobrevivência e Harry sentiu aquilo, mas não o escutou, quase nunca escutava. Então quando seus tios apareceram e anunciaram que ele iria se apresentar em dez minutos, ele não falou sobre a trapaça que possivelmente o mataria, não disse últimas palavras ou qualquer besteira dessa. Simplesmente respirou fundo e se preparou para seu último show. Pelo menos era o que esperava.

(...)

─ Temos o prazer de apresentar... ─ O apresentador começou a falar, mas Harry não escutava muito, era como se fosse uma voz no fundo muito, muito longe. Ele se sentia tonto e sua barriga revirava de fome, uma consequência que aprendeu a lidar em suas apresentações. O homem continou falando até finalmente anunciar sua entrada.

Harry fechou os olhos e respirou fundo. Certo, podia fazer aquilo. Ignorando sua tontura e fome, entrou no palco sorrindo. A música começou a tocar e ele a dançar, como um só. Anos de prática o deram armas suficiente para fingir amor a dança, quando aquele sentimento a muito tempo não florescia dentro de si, mas naquele momento... Sua coração batia forte, seu sorriso era verdadeiro, todo aquele sentimento era real, ele o embalava e o deixava flutuar o mais alto que podia.

A cada giro ele sentia que poderia voar para qualquer lugar, a cada salto (que balançava o holofote ainda mais) ele se sentia livre. A cada passo daquela dança decorada o deixava entorpecido de uma luz que pensava que tinha perdido, mas estava ali, antes tomado por escuridão e agora... Iluminava cada pedaço daquele corpo.

Dança da morte.Onde histórias criam vida. Descubra agora