Capítulo 5

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Capítulo 5 - Saudade

Marília Mendonça, Point Of View

Ter um dia de folga dentre tantos de trabalho tava sendo difícil, mas enfim eu consegui. E, por mais que eu quisesse fazer absolutamente nada, eu não consegui me sentir bem estando parada em casa fazendo nada.

Já faz um tempo que ir pra academia não tá sendo um sacrifício tão grande pra mim, eu tenho gostado, mas nesses dias, eu tenho gostado mais ainda pelo simples fato de que eu saí, fiz alguma coisa, encontrei pessoas e me manti longe o suficiente do meu celular pra não cometer nenhuma besteira grande demais.

Graças a Deus, eu tenho um irmão que ainda acha que posso sentir algo pelo pai do meu filho e nos dias de bebedeira aqui em casa ele se ocupou em não deixar eu gravar um storie cantando todas as modas que me faziam chorar ou ligar pro ser humano que tem me deixado nesse estado decadente. Eu não sei quantas vezes agradeci ao Jão por isso, só não disse pra ele que ele tá só um pouquinho equivocado quanto a pessoa que tem estado na minha mente.

Mesmo que eu tenha tentado evitar, passei boa parte dos meus dias pensando no Henrique e tentando entender o que tá acontecendo com a gente. Nunca fomos assim, nunca passou por nossas mentes ter algo além da amizade, porque justamente agora tínhamos que despertar esse desejo um pelo outro? E o pior de tudo é que é só um desejo fútil, do tipo que não significa nada e nem vai significar, mas a gente tá insistindo no erro. Talvez a nossa amizade seja um problema agora, estamos confundindo saudade com desejo.

Decidi não pensar nisso, evitar o quanto for necessário o Henrique e tudo que tenha haver com ele, e todo e qualquer show que fizermos perto um do outro eu vou tentar deletar da minha mente que está acontecendo.

— Ei, vai ficar olhando pro nada mesmo? Eu quero ir lá logo! Você prometeu e eu não ligo se você tava bêbada. — da forma mais delicada do mundo, meu irmão falou entrando no meu quarto, completamente arrumado pra ir no shopping comprar apenas um microfone.

— Você podia comprar isso na internet, sabia? — eu até tentei fazer ele mudar de ideia, mas me levantei da cama, saindo do quarto, porque sabia que nada tiraria aquela ideia da cabeça dele.

— Mas eu também posso ir no shopping que é bem mais rápido, porque eu preciso do fone hoje, pra fazer a live. — assim que descemos as escadas do segundo andar chegando na sala, eu deixei um beijo na testa da minha mãe, avisando a ela que levaria o chato no shopping.

Não tinha pra onde eu correr, já tinha prometido que levaria ele no shopping e se eu não levar, sei que você ficar ouvindo a semana inteira dele. E até que eu tava querendo sair mesmo. Espairecer um pouco me faria bem.

Eu e ele conversamos o tempo todo e, por alguns segundos, eu me questionei sobre a sanidade do meu irmão. Ele tirou carteira, mas ainda não tem o próprio carro e eu empresto o meu pra ele. Mas às vezes eu me arrependo amargamente de dar essas chances pra ele e de ter um carro tão potente. 130 km/h em uma pista de 100 km/h é loucura! É maluquice! É rir na cara do perigo e duvidar do anjo da guarda que Deus disponibilizou pra gente. Puta que pariu. No dia que a multa chegar, ele vai pagar.

Depois de uma tentativa de suicídio e homicídio, Gustavo finalmente parou o carro no estacionamento do shopping e eu evitei falar com ele o caminho inteiro até a loja. E ele ficou só rindo. RINDO.

Eu esperava que ele entrasse em uma loja de eletrônicos ou jogos, mas eu fiquei surpresa quando a gente entrou numa loja de música. Fiquei mais surpresa ainda quando ouvi uma certa música ser dedilhada. Provavelmente alguém tava testando um violão pra comprar.

— Por que aqui?

— Prefiro os microfones musicais, posso gritar a vontade que o som não vai ficar ruim quanto os gamers. — pra mim, é tudo microfone, mas quem usa é ele, então...

Sentimento LoucoOnde histórias criam vida. Descubra agora