Sentimento Louco

Capítulo 12

Capítulo 12 - 100 ligações

Eu não tinha um bom ânimo a dias. Minha esposa mal conseguia conversar comigo. Eu ainda podia ver a mágoa em seus olhos, por mais que eu tentasse a agradar e ela tentasse não demonstrar tudo o que sentia. Não sabia até onde meus filhos poderiam entender nossa situação, mas sabia que eles também estavam sendo afetados por causa disso tudo.

Tenho estado um pouco mais próximo dos meus pequenos... Ou talvez isso continue igual, o que mudou foi a minha atenção e consciência quanto a eles e tudo ao meu redor.

Sobre a casa parecia pairar uma nuvem escura, mesmo que o clima fosse dos mais ensolarados, como de costume em Goiânia. Estava no quintal, sozinho, fumando um cigarro e observando atentamente as cinzas caírem quando eu o batia. Me sinto no fundo do poço, numa fossa mesmo, mal por todos os meus erros, envergonhado por minhas mancadas, magoado pelas brigas e distância da Marília e com ódio por ela não fazer questão de dar o foda-se para o mundo pra ficar comigo, como eu faço pra ter uma mísera noite com ela. E o pior de tudo é o fato de ela me colocar nessa porra dessa prova de fogo, entre o certo e o errado, com a milhares de mensagens e ligações dela no meu celular.

Eu li cada um dos "sinto sua falta", "me perdoa", "ainda quero você" e até um "eu te amo" que logo depois foi apagado e que com certeza ela não amava, não o tanto que eu gostaria e da forma que eu me sentiria aberto e livre pra amar. Eu desliguei algumas de suas chamadas e outras apenas silenciei, mas não teve nenhum que passou despercebido de mim, absolutamente nenhuma. Eu queria responder ela, ir até ela ou quem sabe apenas ouvir a voz dela, mas não fiz nada disso. Foi a escolha dela e, por mais que seja diferente da escolha que eu teria feito e ela esteja querendo voltar atrás, meu orgulho não vai me permitir voltar pra perto dela tão cedo... E minha consciência também.

Me mata pensar que antes de qualquer coisa, eu estou evitando a Marília por estar magoado, por estar apaixonado e com o coração ferido e não por, em primeiro lugar, estar querendo fazer tudo certo com a minha esposa, minha consciência estar pesada e eu querer ter mudado.

Estava tão absorto nos meus pensamentos, que mal percebi alguém se aproximar de mim, apenas senti a aba do boné que eu usava vir pra frente, minando toda a minha visão.

— Ah, peraí, cara... — mas apesar de não ter visto a pessoa chegar perto, eu sabia bem que algo assim viria do meu irmão.

— Ué, tá com a cabeça na lua. Se tivesse aqui tinha me percebido. — ele sentou ao meu lado na espreguiçadeira, se deitando enquanto roubava o meu copo pra ele. — Que que foi? Que isso que cê tá bebendo? — uma pergunta atropelou a outra enquanto ele afastava o copo da boca.

— Energético. — respondi sem querer dizer muito mais, apesar de saber que ele iria querer o que tava acontecendo comigo.

Mesmo sabendo de toda a história com a Marília, do que eu comecei a sentir em algum momento e de todos os meu erros, muita coisa ele não sabia... Na verdade, muita coisa eu não havia contado a ele. Eu havia deixado ele completamente no escuro quanto ao que estava acontecendo e como eu tava lidando com tudo. Mais uma vez o peso na consciência me fazendo esconder tudo, mas nunca sendo o suficiente pra me fazer encerrar com tudo. Tenho raiva da Marília, mas no final das contas, ela tinha que ter feito isso mesmo. Se nunca vai ter um futuro, sem é sem motivo, sem é fútil e não vai dar em nada, nunca deveria ter acontecido. E já que aconteceu, precisava ter um fim urgente.

— Precisa de energia pra que?

— Não dormi essa noite. — ele murmurou um "hum" sabendo que não era apenas isso, mas também me encorajando a continuar a falar. — Tô com um milhão de coisas na cabeça e não sei como resolver... Na verdade, eu sei, mas não tô com coragem. E não é a primeira noite mal dormida. — ouvi ele soltar uma risada nasalada e nem precisava olhar no seu rosto pra saber que ele balançava a cabeça de um Aldo para o outro, provavelmente reprovando toda a minha idiotice e sabendo bem do que eu falava.