Encontros

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Meu dia havia sido cansativo. O hospital estava lotado hoje, paciente atrás de paciente. Foi um plantão de 24 horas com alguns descansos, mas parecia que um caminhão havia passado por cima de mim. Entretanto, meu coração batia acelerado na ansiedade de vê-lo hoje.

Cerca de cinco meses atrás, eu estava voltando do trabalho, minha moto havia quebrado e precisei voltar a pé. Eu não estava preocupada, porque pretendia sair ainda de dia, mas o próximo médico atrasou e pediram que eu o cobrisse. Aquele ditado, manda quem pode e obedece quem tem juízo.

Resultado: sai na boca da noite. Eu andava apressada e segurava com força a minha bolsa. A noite por si só me deixava apavorada e as ruas escuras e silenciosas de Nueva York faziam meu coração palpitar cada vez mais rápido.

Eu estava prestes a passar na frente de um beco quando o cheiro forte de tabaco e risadas masculinas fizeram-se presente. A melhor opção era voltar e procurar outro caminho, entretanto um poste logo atrás de mim formava a minha silhueta na porta do beco e os homens ali presentes haviam percebido.

- Acho que teremos companhia essa noite. - Escuto um deles falar a medida que se aproximavam.

Minha respiração acelerava a cada segundo e sentia minhas pernas falharem. A falta dos meus poderes deixava tudo pior, era um medo que evitava experimentar, afinal, antes eu não precisava temer absolutamente nada, eu tinha confiança. Porém, o dia que perdi tudo foi traumatizante. Foi algo extremamente doloroso e o processo de adaptação tornou-se um desafio diário. Eu ainda tinha medo de que o monstro que tentou tomar os meus poderes aparecesse em busca de vingança por não ter conseguido o que queria. Constantemente eu sentia sua presença.

Uma onda de adrenalina percorreu meu corpo e comecei a voltar por onde vinha, mas a minha mente a medida dos passos ia assimilando a situação e o desespero voltava a tomar conta do meu corpo, o que ocasionou passos desengonçados e, sem perceber um pequeno degrau na calçada, pisei em falso e cai com tudo no chão.

As risadas aumentaram com a minha queda, entretanto, de repente, elas cessaram. Todo o meu corpo tremia e eu mantinha meu olhar para baixo. Escutei alguns passos atrás de mim e tentei elaborar alguma súplica, mas a minha voz não saia.

- Você está ferida? - Uma voz grave soou. Respirei fundo e olhei para o homem atrás de mim e quando o vi, não disfarcei a minha surpresa.

O Homem-Aranha.

- Acho que torceu o tornozelo. - Uma mulher em holograma surgiu de seu relógio falando.

- Não me fale o óbvio, Lyla. - Ele responde "desligando" o relógio e fazendo com que ela sumisse. - Vou tirar você daqui, tudo bem?

Por mais que meu corpo ainda estivesse em estado de alerta, a dor da torção começava a querer se manifestar. Eu já havia ouvido falar nele quando eu era do ramo, mas era a primeira vez que o via pessoalmente.

- Tudo bem. - Repeti suas palavras.

De forma cuidadosa, ele me levantou e rodeou minha cintura, segurando-me firme. Abracei seu corpo como uma forma de apoio já que não sabia muito bem como me segurar.

- Irei deixá-la em um hospital.

- O meu apartamento é perto. É apenas uma torção, posso resolver. Sou médica.

- Tem certeza? - Acenei positivamente com a cabeça e ele ainda parecia querer insistir, mas concordou e expliquei como chegar no meu endereço.

Por sorte, como moro no vigésimo andar, costumo deixar a porta da varanda destrancada.

Entramos e ele me ajudou a sentar no sofá. Ele parecia pensar no que fazer.

- Você tem caixa de primeiros-socorros?

𝓣𝓱𝓮 𝓹𝓸𝔀𝓮𝓻 𝓸𝓯 𝔂𝓸𝓾𝓻 𝓵𝓸𝓿𝓮 - 𝓜𝓲𝓰𝓾𝓮𝓵 𝓞'𝓱𝓪𝓻𝓪Onde histórias criam vida. Descubra agora