Esperança

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- Tudo certo? - Pergunto após a enfermeira retirar a agulha de meu braço.

Adam, um médico e cientista muito prestigiado, avaliava uma ficha com todos os resultados dos meus exames, exames esses que tornaram-se uma rotina mensal após o ocorrido no beco.

Há cerca de um e meio, perdi meus poderes e consequentemente, toda a minha confiança. Ser alguém "comum" era difícil, sentir medo de coisas as quais nunca sequer pensei antes era complicado. Inúmeras habilidades, inúmeros pensamentos, tudo esquecido (ou guardado).

Antes, lidar com qualquer tipo de situação era simples, nada me assustava, nada poderia me parar. Dias intensos de treinamentos, missões difíceis, mas nada impossível. Eu sempre me destacava em tudo que fazia.

Entretanto, o trauma mexeu com todo o meu psicológico. Tudo parecia impossível. O medo se tornou comum, o desespero cada vez mais frequente e o vazio parecia me consumir.

Eu fazia parte de uma equipe de heróis, um time, uma família. A dor da perda foi tão grande que precisei me afastar, mas sei que todos ainda estão aqui. Eu e o Adam nos conhecemos quando entrei para a equipe, ele ajudava como médico, mas também estudava nossos poderes e os dos vilões quando possível. Após o incidente, ele conversou comigo para que tentássemos encontrar uma forma de voltar ao normal, mas não queria me encher de falsas esperanças e dispensei.

Contudo, o acontecimento do beco me fez repensar. Eu precisava de ajuda. Não podia mais passar por aquilo, não podia deixar todos aqueles sentimentos me dominarem. Eu tinha que voltar a treinar não apenas o meu físico, mas a minha mente. Combate corpo a corpo sempre foi simples para mim, antes.

Na minha situação atual, a falta de confiança e o medo controlavam o meu corpo. Eu precisava recuperar minha fé em mim mesma. Eu não era mais a heroína de antes, mas não podia perder a essência dela.

Talvez os estudos de Adam nunca ajudassem em nada, já que meu poder não era algo genético ou qualquer tipo de mutação e sim, magia. Porém, eu decidi arriscar. Eu iria me agarrar a essa pequena esperança.

- Você está evoluindo bem. - Ele disse aproximando-se e dispensando a enfermeira. - Se sente muito cansada?

- Não muito. Acho que não tanto quanto o primeiro mês. - Respondi rindo e ele me lançou um sorriso gentil.

Ambos sabíamos que era mentira, mas ele não comentaria isso. Os exames não eram apenas no meu corpo, também testávamos métodos que pudessem despertar meu poder novamente, de alguma forma.

A questão é que algum desses métodos eram um pouco dolorosos. Pensamos que se eu sentisse muita dor, talvez o poder se manifestasse como uma defesa, porém, sem sucesso. Eu revivia o dia em que tudo ocorreu e só me gerava lágrimas e falta de ar, nada mais.

- Isso é bom. Qualquer coisa, sabe que pode me ligar.

- Digo o mesmo.

Despedi-me e sai de seu laboratório. Adam trabalhava em uma grande empresa com diversos setores e era bem conhecido por seus projetos e artigos.

Dirigi-me até o elevador e apertei para que descesse até o pátio de entrada. Olhava pacientemente para a tela que mostrava os andares, até ela indicar uma parada no nono andar.

As portas se abrem e quando olho, havia um homem parado com uma expressão surpresa, como se eu fosse um alienígena. Será que havia algo na minha cara? Eu sai com alguma agulha no braço?

O homem se recompôs e entrou em passos atrapalhados no elevador. Olhei para ele de relance e notei que nossa diferença de altura era bem visível. Seus cabelos castanhos estavam alinhados e combinavam perfeitamente com a simetria de seu rosto.

𝓣𝓱𝓮 𝓹𝓸𝔀𝓮𝓻 𝓸𝓯 𝔂𝓸𝓾𝓻 𝓵𝓸𝓿𝓮 - 𝓜𝓲𝓰𝓾𝓮𝓵 𝓞'𝓱𝓪𝓻𝓪Onde histórias criam vida. Descubra agora