Capítulo 27

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Meu caminho de volta para casa parecia ter se estendido. De um lugar com pessoas doentes, em todos os sentidos, para minha casa, onde deveria me tratar. Reconheço esse privilégio, pois posso me sentir mais viva que muitos que vi. Peguei a prescrição e tomei quatro comprimidos de uma vez no momento em que minha cabeça ardia de dor. Se eu pudesse, tomaria mais quatro de calmantes. Me doparia o suficiente pra esquecer tudo que tenho pensado. Lembro-me daquela história de não querer fazer mal a si, o objetivo é apenas querer se livrar da dor. Desde dezembro está assim. Quero dormir e me livrar de mim mesma, às vezes, "me bloquearia" em todas as redes sociais e me isolaria das festas para respirar melhor. Tomaria ciência de que estou só. Não quero exasperar e ter medo disso, mas é quase impossível quando, na realidade, minha vontade sempre foi de ser suficiente para mim mesma. Eu gostava da sensação de ser escolhida e poder olhar para meu próprio reflexo no espelho e sorrir por ter conseguido. Um elogio desprevenido me fazendo sentir boba pelas próximas horas. Lembrar de pessoas que conseguem fazer a minha vida mais especial. E talvez não faria tanta diferença para ela quando decidiu pôr um voto de confiança em mim, ou, então, quem sabe a fizesse ansiosa porque num dia decidiu se declarar após meses sentindo o seu olhar pelas costas. Ajudava um pouco meu ego ferido. Maltratado. Tirando fotos até meus olhos se atraírem por uma única, porém, raramente obtinham sucesso. Minha família tinha raiva de mim e, no fim, meu tempo estava perdido. O dia produtivo havia escorregado pelas minhas mãos. Meu autocontrole está em apuros, minha atenção escapou de mim em questão de milissegundos. Infelizmente, o cansaço sempre veio rápido demais, dormir sempre foi a solução de muitas angústias. Respingar perfume atrás das orelhas, limpar o pé com hidratante e me jogar no colchão. Tentei buscar a aprovação dos outros para que eu conseguisse a minha, buscava o convencimento de que eu também merecia ouvir coisas boas após meses de quando maltratei nossos sentimentos. Meses de quando você não foi o melhor namorado que podia ter. Pisei em seu coração ao tropeçar propositalmente em falhas. Eu queria tentar. Simplesmente não pude evitar em te machucar. Você era você. Parte de mim que não possuo mais. E, se hoje eu estiver dura demais para outras relações, foi porque antes me entreguei rápido demais. Tenho ouvido palavras de afirmação que escorregam pelos meus ouvidos, perdendo parte de tua essência quando a minha mente as encara. Meu coração amolece, mas a cabeça nega, os olhos enchem de água para me defender. Minha cabeça nega. Nega. Nega. Eu preciso tanto me abraçar. Ser gentil com aquela que aguentou o desespero em te ver numa situação de desespero. Cenas que não verei mais com você distante de mim. Eu estou muito bem longe de você também. Falta eu sentir isso melhor. Mas sei. Que. Não. Era. Você.

26/06/2023

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