9. Robin Giordano

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Parei na garagem e olhei para a minha BMW M4 Pink e o Maserati prata do meu pai. Já cheguei a achar que ele pudesse gostar mais do carro do que da própria vida... Até me dar em conta da forma como ele olhava para minha mãe.

Meu telefone vibrou e atendi, enquanto tocava com o dedo a lataria prata, fria e brilhante.

— Me diga que está viva, Malu.

— Meu corpo sim, mas destruíram minha alma, Ben! — Limpei as lágrimas.

— Thorzinho ficou puto?

— Sim...

— Você está chorando?

— Sim... E neste momento estou com o dedo no Maserati dele, pensando se eu escrever "Me perdoe" na lataria ele voltaria a ficar de bem comigo.

— Ele destrói seu corpo daí... E não restará mais Malu nesta encarnação.

— Talvez fosse melhor assim... — Retirei a mão do Maserati e fui para o meu carro, sentando em frente ao volante.

— Que porra é esta de pegar o gostoso do Dimitry?

— A porra é que ele é muito gostoso, Ben...

— Tirando o fato de que eu também não resistiria se tivesse um primo tão perfeito assim, você é uma depravada, Maria Lua Casanova.

Respirei fundo e tentei conter as lágrimas, enquanto olhava para trás, na esperança de alguém vir tentar me impedir de sair.

— Ben, eu acho que ninguém vai tentar me impedir de fugir.

— Certamente já sabem que vai fugir para minha casa, meu raio do sol.

Sorri e disse:

— Eu vou desligar. Amo você, Ben.

— Também a amo, minha linda.

Liguei o carro e pus uma música em volume alto:

"You are my sunshine

My only sunshine

You make me happy when skies are grey..."

Não, aquilo só podia ser castigo. Eu nem gostava daquela música... Na verdade, eu odiava. Eu não era o raio de sol... Não mais... Aliás, algum dia eu realmente fui?

Bati repetidas vezes no volante em couro, furiosa pela minha fraqueza. E quando percebi, estava fazendo o trajeto para o apartamento de Ben e Anon.

Não, eu não iria para lá. Todos esperavam aquilo de mim. Ben e Anon eram sempre os braços que eu procurava para me curarem de qualquer dor. Se eu não queria mais demonstrar fraqueza, imaturidade ou principalmente leviandade, era hora de resolver sozinha as porras que eu fazia.

Mudei o trajeto e fui para o Shopping mais próximo. Estacionei o carro e antes de descer, retoquei o batom, para não parecer tão horrível, prendi meus cabelos num rabo de cavalo baixo e pus uns óculos escuros, tentando não ser reconhecida tão facilmente, depois de meu belo rosto estar estampando todos os veículos de comunicação naquele dia.

Peguei minha bolsa e fui em direção à praça de alimentação, porque não tive vontade de andar por nenhum lugar e ser motivo de deboche, dó ou curiosidade.

Por sorte, o Shopping estava bem vazio, já que era domingo de manhã. Afinal, quem tomaria café sozinho num domingo de manhã num lugar público? Alguém como eu, com vontade de cortar os próprios pulsos, completamente arrependida.

Pedi um café puro sem açúcar e fiquei mexendo com a colher, vendo o círculo preto com espuma na xícara enquanto a fumaça da temperatura embaçava a lente escura dos óculos.

— Ora, ora, se não é minha priminha preferida!

Levantei a cabeça e vi Jordana Perrone:

— Bom dia, prima má. — Tentei fingir que a presença dela não me incomodava tanto assim.

Jordana estava acompanhada de outra garota, ambas com sacolas de compras. Quem fazia compras no Shopping num domingo pela manhã?

— Pelo visto o café da manhã não foi legal na sua casa, não é mesmo? — Ela tentou me irritar.

— E na sua foi? Porque aposto que se tivesse sido, não estaria aqui.

Jordana retirou meus óculos, encarando-me. Tentei pegar da mão dela, que pôs para trás do corpo, rindo:

— Marina, esta é minha prima, Maria Lua Casanova. Quer dizer, este é o sobrenome dela de adotada. Porque acho que nem ela mesma sabe o verdadeiro, que vem da mãe biológica. Aliás, seu pai é vivo? Ouvi uma conversa uma vez, na minha casa, sobre ninguém saber quem é o seu pai.

Levantei e arranquei os óculos da mão dela, pondo de novo no meu rosto:

— Meu pai é Heitor Casanova. — Praticamente soletrei.

— Hum... Isso quer dizer que dormiu com seu primo? Porque meu irmão, neste caso, é seu primo, não é mesmo? Aliás, se seu pai é Heitor, como fala, com tanta certeza, ele dormiu com a sua mãe ou algo do tipo? Porque sabemos que Babi não é sua mãe de verdade.

— Qual seu problema, garota? — Peguei o braço dela. — Você tem tudo que quer, por que pega no meu pé, desde sempre?

— Só quero deixar claro que você não é uma Casanova.

— Nem você.

— Mas sou uma Perrone, de sangue.

— Estou fodendo para o seu sangue, sua idiota.

— Ouvi dizer que você armou tudo na noite anterior, para prejudicar o meu irmão.

— Eu não faria isso com Dimitry.

— Meus pais querem a sua cabeça numa bandeja.

Eu ri:

— Diga a eles que peçam uma recompensa, pois todos querem minha cabeça numa bandeja no dia de hoje. E certamente ela não ficará com os Perrone.

— Acha que meu irmão gosta mesmo de você, Malu?

— Espero que não... — Retirei meus óculos da mão dela e olhei diretamente nos olhos verdes irritantes — Porque eu sempre expliquei para o seu irmão que era só sexo, nada mais. Não sou o tipo de mulher que se apaixona por alguém. Tampouco a que passa vontades... Se desejo algo, eu tenho. E assim foi com Dimi... — Toquei a ponta do nariz dela, de forma irônica e saí, rebolando, sem olhar para trás.

Por fora, forte e determinada. Por dentro, sangrando pelas coisas que ela havia me dito. Jordana e eu nunca nos demos bem, desde crianças. E eu nem sabia ao certo o motivo pelo qual ela me odiava. Então a odiava também.

Sim, aquele não era o meu dia. Eu já estava arrependida. Não bastava? Desci para o estacionamento e olhei para cima, observando o teto acimentado, certamente cheio de arames, pedras e areia.

— O que você quer mais de mim, Deus?

Deus não poderia estar ali. Aliás, eu não lembrava quando havia sido a última vez que tinha feito coisas simples, como olhar para o céu ou falar com Deus, mesmo que fosse para pedir algo.

Eu já sabia onde precisava ir. Queria crescer, embora a Malu que existia dentro de mim se recusava, temendo ser independente e ter que resolver certas situações de adultos que talvez não soubesse lidar muito bem. 

Minha tentação usa terno (A História de Maria Lua Casanova)Onde histórias criam vida. Descubra agora