No final de tarde de março de 2000, Lupita Nkosi e sua filha Amala Akello preparavam a massa de biscoitos de chocolate em uma bacia na cor favorita de Amala, azul. Lupita havia transformado toda noite de sábado em uma experiência gastronômica simples com sua única filha, e aquele sábado não podia ser diferente.
Em meio a sorrisos meigos e a limpeza da bagunça deixada por Amala no balcão da cozinha, a jovem de 13 anos direciona a seguinte pergunta a sua mãe:
– Mãe, onde está meu pai? – Questiona curiosa, vendo sua mãe se retrair e seu sorriso se esmaecer.
Amala percebeu sua mãe respirar fundo e abandonar a bacia momentaneamente para lhe dar atenção. Lupita se ajoelhou próximo a filha e os olhos marejados diziam a Amala que ela havia feito algo de errado. A adolescente sentiu seu coração acelerar em nervosismo, como se quisesse voltar atrás da pergunta que escapou por seus lábios de forma inocente.
– Ele está em uma missão na África, querida. – Ela afagou seus cabelos cacheados e forçou um sorriso.
O som de algo se arrastando próximo ao corredor se fez presente. Amala, assustada, se retraiu. Estavam sozinhas em casa com excessão da gata de ambas. Não era novidade pequenos delitos acontecerem vez ou outra naquele condomínio em Denver, por ter pessoas com dinheiro e casas com alto valor material.
– Mamãe, o que foi isso? – Perguntou Amala.
– Deve ser Pérola, querida. Fique aqui, eu vou ver. – Levantou-se.
Lupita deixou por incidente que as mangas de sua blusa fossem alvo da atenção de Amala, que logo abandonou a ideia de lhe perguntar o que havia lhe causado aquelas cicatrizes. Ela sentia que era errado e pelo semblante de sua mãe no dia de hoje, existiam coisas que ele deveria ficar silenciadas.
– Viu, querida? Era só Pérola. Ela estava brincando com alguns frascos de perfume na sala.
E assim, voltaram a assar biscoitos.
17 de agosto de 2013.
13 anos depois.Amala espirrou devido ao excesso de poeira no sótão de sua casa. Morava com sua mãe desde sempre e devido a tantos anos acumulando diversos objetos, resolvera que iria abrir uma venda de garagem com o que julgava interessante para a vizinhança.
Em seu sótão haviam ao total 5 caixas abarrotadas de pertences. Divididos entre "lixo" e "venda", contendo quadros, equipamentos de ginástica, fitas de vídeo vhs e ferramentas de jardim. Enquanto as de "lixo" eram cadernos, serpentina e decorações antigas de festas.
Afastado das caixas havia um puff que parecia ter saído diretamente dos anos 80 na cor lilás intensa, a qual Amala classificou como "lixo", todavia não cabia dentro da caixa. Era de fato algo engraçado a se pensar, na época que havia apenas alguns meses de vida sua mãe poderia estar fazendo alguma atividade ilícita naquele porão ou conversando com os amigos utilizando aquele puff.
Ela riu.
Passeou com os dedos pelo abajur, que havia deixado ligado em cima de uma mesinha de centro igualmente antiga, para que pudesse ter a certeza que funcionava em perfeitas condições e não houvesse reclamação dos vizinhos.
Não mais se constava teias de aranha gigantescas as quais se prendiam nos cabelos ou roupas de quem transitava por lá, pois a jovem bruxa de 26 anos havia feito questão de passar praticamente todo o seu dia livre limpando.
Conforme Amala caminhava, o ranger do piso de madeira se fazia presente por conta das botas de couro de Amala, pois o tapete vermelho a qual forrava o chão havia sido enrolado e separado para venda.
Esfregou o nariz. Bendita rinite.
– Já estava na hora de fazer uma faxina aqui. – Disse olhando para o resultado de horas de dedicação.
Prendeu os cabelos cacheados com o elástico em seu pulso e preparou-se para a última estante. Tinha vagas memórias de ter deixado alguns livros de mitologia ali que poderia ser útil na venda de garagem.
Amala arrastou a pequena escada metálica em direção a estante e subiu. Encarou com curiosidade uma caixa vermelha de tamanho médio que lhe fez questionar qual seria seu conteúdo, afinal, nunca havia a visto antes.
Um espirro não pode ser contido e ela teve de descer as escadas. Deixando para que os livros ficassem para mais tarde.
Franziu o cenho, ela de fato não se recordava de nenhum momento de sua infância onde havia visto essa caixa. Lhe chamava atenção por sua cor vibrante mesmo abaixo de uma camada considerável de poeira. Tinha consciência de que era algo de sua mãe – Lupita, todavia não poderia dar seu fim correto antes de avaliar seu conteúdo.
Pensou duas vezes: "Será que devo abrir? Deve ser algo de minha mãe."
Amala ponderou por alguns minutos antes de abrir a caixa e se deparar com fotos, cartas, certidões e o testamento de um homem chamado Brian Akello.
Um sentimento de ansiedade correu por seu peito. Era seu pai, disso não havia dúvidas; sua mãe estava guardando de si todo esse tempo o fato dele estar morto.
Folheou a certidão de óbito: "Causa imediata do óbito: Ferimentos por arma branca (facadas)"
Lupita havia mentido para si todo esse tempo. De que seu pai estava em uma missão na África. Ele havia sido assassinado e sua mãe fora covarde a ponto de fazer com que ela vivesse em uma utopia onde ele iria voltar algum dia.
E agora tudo havia desaparecido diante dos seus olhos como fumaça.
Amala pode sentir o gosto amargo da realidade descendo-lhe pela garganta e inundando suas veias como veneno.
Tentou se recompor com a caixa em mãos. Haviam fotos de seu pai sorrindo, fotos dele abraçado a sua jovem mãe, cartas e juras de amor a qual ela leu por um breve momento.
Amala estava aflita. Estava chocada com o fato de ter sido tão ingênua por tantos anos. Por ter se conformado aos 13 anos que ele estava em missão e deixado o assunto morrer. E nunca havia sequer se perguntado por que não havia ido atrás de informações de seu pai.
Nunca havia tido motivos para desconfiar de sua mãe. Mas agora, Akello se perguntava o que mais ela escondia.
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Olá, Wattpedianos. Essa é minha nova história, e eu do fundo do meu coração espero que vocês gostem!

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I Ran
RomanceEm seus 26 anos, Amala Akello recebeu um presente da estrela da manhã. Por sua lealdade enquanto devota. Em troca de sua busca por conhecimento, o dom de regressar ao passado e avançar o futuro foi despertado de sua glândula pineal não mais calcific...