MAYA
VINTE ANOS DEPOIS
ESSE CAPÍTULO FAZ PARTE DA NOVA VERSÃO 2024
Aproveitando o início do verão, dediquei-me a tirar a lã das ovelhas. Sentada na roca de fiar, meus dedos entrelaçavam os fios para fazer o linho requisitado para um vestido de casamento. Enquanto as fibras se formavam, meu olhar se voltava para a cozinha, onde o crepitar da lenha evocava lembranças dos meus pais, levados pela peste-negra há meros dois meses.
Em meio à trama dos fios, a única ocupação capaz de afastar a melancolia era a busca por encomendas de roupa, uma tentativa desesperada de escapar das lembranças do tempo.
— Não fique aí perdida nos pensamentos, Maya. — A voz de Teodora, minha amiga, interrompeu minha divagação. — Com o passar dos dias, a saudade será menos pesada.
— A vida é tecida com fios de saudade, Teo. — Suspirei, enredando as linhas no carretel. — Eles foram pais maravilhosos, e sou grata por cada lembrança.
— Que a Deusa os guarde. — Trocamos um gesto de gratidão, beijando a mão fechada e levando até o coração. — Alguma encomenda hoje? Estou indo para a província, mas infelizmente não retornarei hoje — ela mencionou.
— Vou buscar meu cavalo então. Tenho um pacote de casacos para entregar à governanta do Castelo do general.
— O marido na guerra e ela se preocupando com roupas elegantes — debochou.
— Ela é uma pessoa, e o marido é outra. Essa guerra parece interminável, e a mulher precisa de roupas quentes para viajar até a Corte de Gelo para visitar a mãe.
— Ah, entendi. A mãe ou a amante que mora por lá?
Soltei uma risada, desacreditada da língua afiada de Teo.
— Deixe a mulher ser feliz; ela é simpática e paga muito bem.
Tranquei a casa, com o pacote seguro em minhas mãos. Teodora já se encontrava à frente, montada em seu cavalo, à minha espera.
Por um instante, uma sensação me assombrou: as peças que eu costurava seriam mais felizes do que eu. Ao menos, a maioria delas era destinada a cortes onde o sol brilhava.
Apesar de serem apenas onze da manhã, a escuridão envolvia os campos de maneira intensa.
— Escute — ela gritou. — Estou considerando me alistar como enfermeira na guerra. Você viria comigo?
A ideia acelerou meu coração, mas a lealdade às terras que meus pais tanto amaram prevalecia.
— Agradeço, mas não. — Montei no cavalo, ajustando o capelo de seda e a saia do vestido. — Você sabe que meu lugar é aqui.
— Tem certeza? Lá, provavelmente, pagariam mais pelas vestimentas dos soldados.
— Tenho clientes regulares, não passo necessidade. Posso ir, mas será para te visitar. — Meu cavalo alcançou o dela, e a única luz que nos guiava vinha das duas luas brilhantes no céu. — Agradeço por me convidar, Teo.
— Sempre sonhou em ver o sol, Maya. Pensei que seria bom explorar novas terras e enxergar o mundo de uma perspectiva clara.
— Eu sei, mas eu não conseguiria deixar nada disso para trás.
A jornada até a província desenrolou-se de maneira serena, com paisagens a perder de vista e o som tranquilizador dos cascos dos cavalos batendo na estrada de pedra. Quando alcançamos nosso destino, deparamos com barracas, cabras se banquetando com tomates caídos no chão e tabernas agitadas, cheias de soldados que se preparavam para se unir às tropas do rei Daren, o comandante real de nossas terras.
VOCÊ ESTÁ LENDO
SACRIFÍCIO A SEPHY: O IMPÉRIO DOS ATER - LIVRO I
VampiroReleitura de Hades e Perséfone. Num reino assolado pelos rebeldes, Sephy, um demônio, é designado para proteger Maya, herdeira de um rei bruxo morto em batalha. Anos após ela perder os pais tragicamente, Sephy retorna às terras onde Maya se refugiou...