Capítulo 19 - Monsters in the closet

1K 130 38
                                    

- Desde sempre me sinto assim. São pesadelos, simples assim, mas são específicos. Neles eu sou uma criança de uns 5, 6 anos e estou sempre em um lugar ruim, nesse lugar hora está calor como o inferno ou frio como o polo norte. Minhas roupas estão sempre sujas e rasgadas e o cheiro é forte, parece que não é higienizado há semanas.

- Todos os pesadelos você está nesse lugar? - Perguntou Juliette, interessada em minha história.

- Sim. Todos eles neste mesmo lugar com os mesmos rostos. Tem crianças da minha idade, várias e todas mal vestidas como eu e tem um... - Eu disse limpando a garganta, sentindo dificuldade em colocar aquilo pra fora. - Um homem, alto, negro... Ele tá sempre humilhando a gente, batendo e gritando. E ele me expõe o tempo inteiro pra todo mundo ver, sente prazer em gritar comigo e ter uma plateia pra assistir. Eu não consigo controlar, Juliette, passo mal com esses sonhos, acordo descontrolada do jeito que você infelizmente presenciou, e conversar sobre só piora as coisas, por isso prefiro me virar e voltar a dormir, com sorte esqueço tudo e posso recomeçar o dia bem.

- Seus pais nunca foram em busca de um profissional? - Juliette me perguntou.

- Foram, mas todos os psicólogos que conversei pareciam paredes, eram sempre as mesmas perguntas "Como isso te fez sentir?" "O que você pensa sobre isso?". Porra... Se isso teve algum efeito foi mais negativo do que positivo. Então pedi pra não ir mais, devia ter uns 18 anos e eles concordaram.

- Sarah, isso não é normal, você tem que tratar isso. - Ela disse com a voz alterada, estava ficando irritada.. - Tem que saber de onde vem.

- São só sonhos, Juliette, como se trata sonhos? Não tem muito que fazer, meus pais aceitaram isso, eu aceitei, você tem que aceitar também. - Eu disse me levantando, quem estava começando a ficar irritada era eu. .

- Não faz sentido, deve ter sido algum trauma, algo que você repeliu com os anos. Você é adotada, Sarah?

- Uau, você é delicada como um caminhoneiro, Juliette. Não, eu não sou. Não existem traumas na minha vida, você mesma viu, o que de ruim pode ter acontecido pra eu ter esses sonhos? Nada, são só sonhos, aprendi a viver com isso. - Eu disse começando a me trocar.

- Tudo bem, seu problema, suas questões, eu não vou me meter.

- Ótimo! - Disse num tom mais alto que o necessário, e fui em direção a cozinha.

- Onde você pensa que vai. - Disse Juliette já trocada.

- Tomar café da manhã, oras. - Gritou da cozinha.

- Nada disso. Estamos atrasadas. - Disse me puxando pelo braço, no momento em que me sentava na cadeira.

- Ei, eu quero emagrecer, mas nem tanto assim. - Disse sendo arrastada até a porta.

...

A aula foi um porre como sempre, acho que levantei pra ir ao banheiro aproximadamente 5 vezes. O que aliás, fez Rodrigo se abaixar e perguntar sutilmente se eu estava com dor de barriga, me deixando corada e me arrancando risos. Eu não conseguia me concentrar, tudo parecia tedioso e a mínima mosca na parede chamava mais minha atenção do que as regras ambientais aplicadas na economia coorporativa.

Embora Rodrigo fosse incrível, a matéria era tão chata que nem mesmo seus encantos davam conta de manter minha atenção as vezes. Assim que a aula acabou me levantei apressada pra ir almoçar, mas Rodrigo me chamou:

- Sarah, podemos ter uma palavrinha? - Ele disse, fazendo meu estômago embrulhar em pensar em tocar naquele velho assunto.

- Uhum. - Eu disse nervosa. Voltei pra perto da mesa de Rodrigo e me sentei na cadeira a sua frente.

Teach me (Sariette)Onde histórias criam vida. Descubra agora