◈ O falso namoro

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Aquele final de semana realmente havia sido estranho, Josh mal dormiu do tanto que pensou sobre a proposta de Noah. O alfa não era feio e em outra situação até tentaria uma amizade com ele para que pudessem conviver amigavelmente já que estava claro que nenhum dos dois tinha planos de fazer aquele casamento dar certo. Também como alguém aguentaria aquele mala?
 
      — O que tanto você pensa? – seu irmão entrou no seu quarto sem nem ao menos bater na porta.
 
      — O quê? 
 
      — Cara, eu tô te chamando faz uns quinze minutos e você nem me ouviu. Quê que tá rolando?
 
     — Foi mal, o que houve?
 
     — Mamãe foi levar o velhote no posto de saúde, parece que as costas dele travou de novo. – O garoto se esparramou na cama do irmão e logo fez uma careta. — Porque seu cheiro está tão azedo? Está preocupado com alguma coisa?

Jaden por ser alfa sabia diferencia bem o cheiro do irmão. Os feromônios podem mudar de aroma de acordo com as emoções do ômega, mas isso só acontece quando há uma certa intimidade ou quando o indivíduo  se faz ser notado ou seja, de propósito.
 
      — Não é nada. Porque eles não me chamaram para ir junto?
 
      — Mamãe disse que você parecia estar num dilema, que não era para a gente interferir nisso. – disse como se não fosse nada.
 
      — Jae, o que você acha da nossa vida?
 
     — Isso é alguma pergunta retórica ou você realmente espera que eu responda.
 
     — Deixa de ser chato e responde de uma vez. – Josh joga um urso de pelúcia no irmão.
 
     – Ah, sei lá. Eu não conheço outra vida, então é difícil dizer. Desde que eu me entendo por gente o papai cuida da casa e a mamãe trabalha fora. Você trabalha em um monte de emprego e não me deixam ajudar também. É isso.
 
Josh sabia que ele tinha razão. Jaden tinha dois anos quando o pai perdeu o emprego na seguradora,  ele nunca teve a chance guardar memórias da antiga casa em que viviam num bairro de classe média alta. Como Josh já tinha quase seis anos na época ele lembrava de algumas pequenas coisas como o pai de terno e gravata saindo para trabalhar, a mãe sempre usando roupas boas e sempre arrumada ou até o cheiro do carro simples que a família tinha. Eram lembranças que ele guardava com carinho.
 
       — Você só precisa focar nos estudos. – a família deixou o garoto de fora sobre o assunto  do pedido de casamento. Naquele momento era melhor não criar expectativas no rapaz e ainda nada havia sido decido. — Eu vi a ficha de inscrição do passeio da escola.
 
      — Isso não é nada. Todo mundo recebeu uma ficha daquelas, não é uma viagem obrigatória de toda maneira. – a maneira relaxada como o garoto falava mostrava para Josh como o irmão estava acostumado a ter que abrir mão de certas pequenas coisas da sua juventude.
 
     — Se quiser ir, a gente pode dar um jeito...
 
    — Porque ? Você vai arranjar um quinto emprego ou magicamente vai aparecer um novo par de braços em você para trabalhar mais? Josh, eu disse que está tudo bem.  Agora pare de franzir a testa assim, está me irritando. – o garoto se levantou da cama do irmão e peteleco na testa do ômega. – Se continuar fazendo isso vai ficar com rugas e nunca vai se casar. Vai ficar pra titia cuidando de nossos filhos.

Ele sai do quarto antes do irmão revidar.
 
     — Esse pirralho  !
 
Pobre Josh, ele se recostou na cadeira encarando o teto. Havia tanto o que pensar, tanto o que decidir que achou que ficaria louco.
 
...

Quando Noah retornou para casa sabia que não seria fácil, enquanto ainda estava no caminho ele procurou a reportagem que Josh tinha mostrado pra ele e por sorte não havia nada além de que ele estava em uma festa. De toda maneira sabia que teria que enfrentar o furacão que ele chamava de mãe.

Quanto ao que aconteceu na casa do ômega nem ele mesmo sabia dizer. Secretário Hanagami conseguiu evitar que a família daquele garoto fosse despejada, o dinheiro que foi usado pertencia ao próprio príncipe então não haveria grande reclamações por parte de sua família. Assim que chegou no Palácio ele foi direto para seu quarto, e como esperava sua mãe lhe aguardava. 
 
      — Poupe o seu discurso, alteza.  Eu sei o que vai dizer. – ele diz colocando as chaves e carteira no móvel. — E se reparar mal da pra perceber que sou eu e não menciona nada de brigas, bebedeira ou qualquer coisa imprópria. Eu estou apenas dançando com alguém.
 
       — Se sabe o que vou dizer devia pelo menos evitar ser visto em situações como esta. Você é um príncipe, as pessoas esperam um certo tipo de comportamento vindo de você. Eu estou tão cansada de ter que repetir as mesmas coisas sempre, acha que eu gosto de bancar o carrasco ? Não, eu não gosto. Mas você precisa aprender que existem consequências...
 
      — Mãe! – ele falou com sua voz alfa, estava cansado demais de sempre discutirem pela mesma coisa. A mulher deu um passo para trás mas manteve seus olhos fixos no filho, Noah massageou  a ponte de seu nariz tentando se acalmar. — Me desculpe! Eu só tenho vinte e dois anos, eu sei que você espera perfeição e que eu me comporte feito um robô assim como você. Mas entenda que eu não sou assim, eu gosto de sair e me divertir. De estar com pessoas que não se curvam para mim a todo momento ou que me não  entendam quando eu errar sem me crucificar. Eu sei que pisei na bola várias vezes, eu sei. Mas não esqueçam que a minha vida inteira vocês me privaram  de cometer meus próprios erros, sempre exigindo mais e mais de mim. Sim, eu saí escondido, fui a uma festa,  bebi e dancei com meus amigos, não há crime nenhum nisso. Então por favor, pelo menos por um segundo não aja como a rainha da Inglaterra e poderia agir apenas como a minha mãe?
 
A rainha não esperava aquela reação, Noah estava se sentindo frustrado demais para conseguir guardar tudo aquilo dentro de si. Doeu ver sua avó implorando o perdão de seu falecido, doeu saber da saúde frágil do pai, dói ver o olhar julgador de sua mãe a todo momento. Ele não era perfeito, e ninguém entendia isso.
 
       — Você nasceu com os privilégios que muitos dariam a vida para ter, sei que reclama da maneira como eu te cobro. Mas tudo o que eu faço é para garantir que quando chegue o momento de você assumir o trono, você não tenha medo e principalmente para que os súditos possam se sentir seguros no seu reinado. Eu sei que você acha que eu não o compreendo, e está errado. Porém, como líderes de uma nação nosso dever com o povo deve vir antes de nossos desejos pessoais. Você acha que seu pai queria ser rei? Acha que ele não teve outros sonhos? No entanto ele nunca reclamou, nunca teve nenhuma única atitude que desse ao povo medo do futuro. Todos nós temos uma sina a ser seguida, príncipe Noah. É melhor que comece a aceitar a sua.
 
A ômega deixa o quarto do filho e Noah respira fundo tentando se acalmar. A cada dia que se passava as paredes daquele Palácio pareciam menor em torno de si.
 
No jantar a Rainha-Mãe  não se juntou a eles, preferiu descansar  seus aposentos e depois a própria rainha foi lhe fazer companhia.  O rapaz depois que estava em seu quarto só queria que aquele ômega insolente pudesse lhe dar uma resposta logo.
 
No dia seguinte quando ele voltou da faculdade notou uma certa movimentação, o secretário Hanagami não foi busca-lo e seu itinerário do dia não foi revelado. De fato toda aquela semana estava estranha, mas assim que guardou duas coisas o beta apareceu e disse que sua família lhe aguardava no escritório do rei.
 
Como era esperado toda a sua família estava lá, a Rainha-Mãe parecia um pouco mais animada que o dia anterior e sua mãe permaneceu com a mesma expressão neutra de antes.
 
      — Mandaram me chamar?
 
      — Sim, príncipe. Por favor, sente-se.
 
 Noah logo imaginou que mais problemas viria a seguir, ele não tinha sorte mesmo. Na faculdade não conseguiu dizer nada aos amigos ainda e Sina viajaria novamente para a França logo mais a noite, então ainda estava um pouco chateado.
 
       — Temos uma boa notícia, querido. — sua avó gentilmente pegou em sua mão. — O Jovem ômega Beauchamp, ele veio ao Palácio hoje e reconsiderou a nossa proposta.
 
Noah abriu e fechou a boca algumas vezes pensando no que dizer. Era isso o que ele queria, mas porque ele não conseguia se sentir tranquilo quanto a isso?
 
      — Ele veio?
 
      — Sim, disse que pensou com mais clareza sobre tudo e aceitou.
 
      — Queremos saber se você vai cooperar ? – sua mãe perguntou, ela sabia que o filho não queria aquele casamento mas precisava se certificar de que ele não fosse arruinar isso também já que todo esse circo é justamente para apagar as besteiras que ele já fez.
 
      — Eu vou. Isso quer dizer que...
 
     — Parabéns,  príncipe Noah. Você vai se casar.
 
..........

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