C a p í t u l o 02

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D a m o n   D' A n g e l o

2 anos atrás

Solto a fumaça do cigarro, sentindo o aroma penetrante invadir meus sentidos e a nicotina se espalhar por todo o meu corpo, proporcionando um alívio imediato. A atmosfera ao meu redor é uma mistura caótica de música alta, luzes pulsantes e corpos suados em movimento frenético. Minha mente gira em resposta a essa agitação, mas a fumaça e a sensação do cigarro entre meus dedos me ajudam a encontrar um momento de calma temporária.

Tristan se aproxima, com sua energia e voz animada cortando o ruído ambiente.

- Ei, cara, o Mike acabou de cair bêbado na piscina! - Ele grita, exibindo uma mistura de exasperação e diversão em seu rosto. - Acredita que o idiota derrubou toda minha cocaína dessa noite? Esse desgraçado inda vai me levar a falência!

Enquanto Tristan expressa sua indignação, seu semblante muda rapidamente quando duas garotas se aproximam de nós, trazendo uma mudança de energia ao nosso entorno. Seus olhos brilham com antecipação e sua expressão se ilumina.

Meu olhar se fixa na loira alta que desliza sua mão pelo meu braço, deixando um rastro de arrepio em seu caminho. Sinto o leve arranhão de sua unha longa na minha pele. Uma pequena chama de interesse momentâneo surge em mim, embora eu saiba que isso é apenas uma distração temporária do caos e dos excessos ao nosso redor.

Não precisamos de muitas palavras, enquanto a festa segue seu curso frenético, eu me perco na sensação fugaz do toque da loira gostosa desconhecida. Mas, em meio a toda essa euforia e superficialidade, algo dentro de mim anseia por algo mais, algo além dessas distrações vazias.

Decidimos deixar o bar para trás e seguir para um dos quartos da casa. Caminho em silêncio e quanto ela tenta puxar conversa, apenas concordo com tudo que diz para evitar qualquer brecha para que ela não ache estar acontecendo uma conexão real entre nós. Assim que chegamos em nosso "destino" seu corpo se aproxima do meu, deslizando suas mãos ao redor do membro, buscando alguma forma de intimidade e carinho que não posso oferecer. Permito seu toque, mas não sinto nada além do calor de seu corpo contra o meu.

A noite prossegue com beijos apressados e movimentos mecânicos. Não há paixão ou entrega da minha parte, apenas dois corpos buscando gratificação momentânea. Minha mente vagueia para longe, perdida em pensamentos distantes enquanto nossos corpos se movem em sincronia. Ela tenta chamar minha atenção para uma conversa, mas em um determinado momento, as drogas e álcool me fazem apagar.

Sinto meus olhos pesarem e a ardência da luz solar forte me faz abrir as pálpebras rapidamente. A claridade invade o quarto, forçando-me a piscar repetidamente. Com uma sensação incômoda na cabeça, provavelmente decorrente da ressaca da noite anterior, levo a mão à testa em busca de alívio.

Enquanto tento recuperar completamente a consciência, dirijo meu olhar para baixo e me deparo com a visão desagradável de braços pálidos e delicados envolvendo minha cintura. Suspiro internamente, relembrando os eventos da noite passada.

- Hummm, só mais um pouquinho, Dam. - A voz rouca e arrastada da loira com quem estive ecoa em meus ouvidos, intensificando a dor em minha cabeça. - Ontem à noite foi tão bom, querido. Deveria...

Antes que ela possa concluir sua frase, o som repentino de algo se chocando contra o chão interrompe nosso momento. Meus olhos se voltam em direção à porta e me deparo com uma jovem empregada de pele negra, cujos olhos estão arregalados, um misto de surpresa e choque, como se ela tivesse testemunhado um fenômeno sobrenatural. Vestindo um uniforme largo e simples, sua presença é simples e sem graça comparada a mulher ao meu lado.

- D-Des-desculpe! - Ela gagueja, sua voz trêmula refletindo uma clara aflição diante da situação inesperada. - Fui informada de que a casa estava vazia, por isso não bati antes de entrar. Peço perdão, desculpa! Desculpa! - Seu olhar envergonhado vagueia rapidamente, incapaz de se fixar em qualquer objeto por mais de um segundo, demonstrando sua perturbação. Seu constrangimento é palpável.

Levanto da cama com total indiferença em relação à minha nudez e me aproximo dela. Seus olhos quase negros piscam repetidamente, e suas mãos torcem a bainha da blusa com força. Enquanto me aproximo, uma sensação incomum surge em meu interior, rompendo momentaneamente a barreira de indiferença de momentos atrás.

Apesar de tentar manter minha expressão inabalável, um leve brilho de curiosidade se reflete em meus olhos. A proximidade de seu corpo e seu olhar fixo no meu despertam uma chama de interesse que até então permanecia adormecida.

Ela se vira e tenta sair, porém por reflexo seguro seu braço, sinto uma estranha eletricidade percorrer minha pele. Minhas ações normalmente são controladas, mas algo dentro de mim começa a questionar a imutabilidade desssa afirmação. A pergunta escapa de meus lábios de forma quase automática:

- Qual é o seu nome? - Minha voz soa surpreendentemente suave, revelando um interesse que normalmente não teria por esse tipo de pessoa.

A loira vesguia com quem compartilhei a noite anterior comigo protesta indignada atrás de mim, mas seu alvoroço é apenas um eco distante. Meus olhos permanecem fixos na figura trêmula de Ayla diante de mim, absorvendo cada detalhe de sua expressão confusa.

- Salém! - Ela responde em voz alta, soltando-se abruptamente do meu aperto. - Ayla! Meu nome é Ayla.

Um leve sorriso curva meus lábios, enquanto uma sensação desconhecida percorre por todo meu corpo. Há algo nessa mulher que desperta uma curiosidade incomum em mim, como se ela fosse uma peça do quebra-cabeça que me faltava.

- Damon. Damon D'Angelo. É um prazer conhecê-la, Ayla.

Ayla desvia o olhar, claramente perturbada pela situação, e apressa-se em deixar o quarto. Enquanto a observo se afastar, percebo que, por um breve momento, minha indiferença foi abalada pela figura intrigante de Ayla.

- Damon! O que foi aquilo? - A voz estridente da loira interrompe meus pensamentos, trazendo-me de volta à realidade.

Eu me questiono a mesma coisa. O que foi aquilo? Minha breve interação com Ayla trouxe uma quebra na minha apatia e indiferença, despertando um interesse inesperado em alguém que normalmente passaria despercebido. Talvez haja mais em mim do que eu pensava, uma parte oculta que encontrou um motivo para se manifestar na presença de Ayla.

Arbitrário - Damon D'AngeloOnde histórias criam vida. Descubra agora