C a p í t u l o 03

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A y l a  S a n t o s

Minha respiração acelera e minha mente começa a imaginar um milhão de coisas diferentes, em meio ao turbilhão de pensamentos que se misturam, eles se confundem e no final acaba em absolutamente nada.

A presença de Damon é o suficiente para abalar minha falsa estabilidade emocional de maneiras inimagináveis. Esse coisa possui um poder impressionante de perturbar minha mente me induzindo a ataques de ansiedade.

- Minha ratinha não parece bem. - Sua voz falsamente carinhosa não combina com a expressão divertida em sue rosto. Sua tentativa de "afeto" falho me causa repulsa, sinto um arrepio percorrer meu corpo quando suas mãos deslizam suavemente pela lateral do meu rosto. A incerteza toma conta de mim, temendo o que ele é capaz de fazer.

Normalmente, já teria respondido com uma palavra afiada. No entanto, depois do caso da Salém que aconteceu no mês passado junto a minha TPM, que sempre dá um jeito de reforçar minhas inseguranças que me acompanham desde o momento em que descobri o que significa ser humano, me sufocam. Meu corpo que está alguns quilos acima do que é considerado bonito, meu cabelo parece áspero e minha inexistente habilidade com matemática é uma grande falha, junta isso com um diabo que adora me infernizar e temos o circo dos horrores completinho e em primeira mão.

- Não estou bem hoje, que tal marcarmos esse evento para outro dia? - Com falsa gentileza seguro seu braço o afastando de mim. Cerro os dentes, tentando controlar minha boca grande. - Vamos, Ju!

Ela me olha com expressão assustada, e a encaro de volta, percebendo que ela não estava presente mentalmente nos últimos momentos, perdida em seus próprios pensamentos. Não é atoa que ficou tão calada, pelo visto não sou a única em um dia estranho.

- Hey, cara! A palestra está prestes a começar, não quero ficar na fila da frente novamente! Aquela velha me dá arrepios! - Interrompe Tristan, o menos idiotas dos idiotas, mas ainda assim um idiota, passando as mãos nos braços e fazendo uma careta exagerada.

Tenho que controlar minha boca para ela não ir ao chão, minhas emoções se agitam em pânico com a simples possibilidade de estarmos indo para o mesmo lugar. O destino mais uma vez fodendo comigo, alguém lá em cima definitivamente não gosta de mim.

Damon não responde a Tristan, apenas me lança um último olhar que interpreto como um aviso tipo: "Não acabou aqui, você está encrencada". Então, como sempre, se virou e saiu, simples assim. Vou, perturbo ela, e saio.

Como eu disse, um grande filho da puta!

Dou de ombros, fazendo minha melhor cara de nada, pois meu dia já está suficientemente deprimente até mesmo para mim, ninguém precisa saber. Não vou me permitir pensar no que virá depois, pelo menos não por agora.

Quando Julie e eu finalmente adentramos o auditório, a cena diante de nós é muito diferente do esperado. Ao contrário do que afirmavam, não há uma multidão presente, mas apenas algumas dezenas de pessoas espalhadas pelo local. Não é de se espantar, afinal, quem diabos sairia de casa nesse frio violento apenas para assistir a um evento assim? Não estou desmerecendo o trabalho dos envolvidos, mas alguém como eu, que estuda e trabalha, definitivamente não tem ânimo para se levantar da cama em um clima tão desfavorável. Porém não deixa de ser estranho.

Julie lança um olhar preocupado para mim, notando a maneira como meu corpo treme e dentes rangem devido ao frio.

- Eu estou ficando agoniada com você tremendo! - Sua voz sai fina, quase como uma criança fazendo birra. - Nunca vi alguém sentir tanto frio como você, e olha que o inverno ainda nem começou. - Apesar de sua indignação, ela gentilmente pega minha mão e começa a esfregá-la entre as suas. - Não olha, mas o demônio não tira os olhos de você desde que chegamos aqui. Está te devorando com os olhos, como de costume para aquele branquelo.

- Eu sou brasileira. - É tudo que digo, ignorando a última parte.

Sua expressão de desgosto me faz soltar uma risada, mas ao mesmo tempo franzo a testa com suas últimas palavras. Embora seja evidente que eles compartilham quase a mesma cor de pele, decido manter esse pensamento para mim mesma, ciente de que Julie pode me dar um tapa bem dado, como diz minha mãe.

- Pare de arrumar confusão à toa! - Sussurro para Julie, desejando a todo custo evitar qualquer tipo de problema. - Depois do que aconteceu mês passado, aprendi que alguém como eu não é nada comparado a alguém como ele. Quero me formar, realmente quero. Mas se eu provocá-lo demais, ele pode perder a pouca paciência que já tem. Não estou disposta a brincar com alguém que pode arruinar o resto da minha vida por puro prazer.

Julie suspira, reconhecendo que, apesar do desgosto que ambas compartilhamos em relação a ele, estou certa. Nosso futuro está em jogo aqui, e evitar brigas desnecessárias é a melhor estratégia para nos protegermos.

Continuamos caminhando em direção às fileiras mais ao fundo do auditório. É evidente que ficar na frente não é uma boa opção se eu quiser apenas me perder em pensamentos fúteis esperando o fim dessa experiência excitante. Durante nossa caminhada, sinto minhas costas queimarem, mas me forço a manter o foco à frente, lembrando das palavras de Julie. No entanto, a curiosidade sempre foi um dos meus grandes defeitos, e acabo por diminuir o ritmo e virar a cabeça, enfrentando mais uma vez o olhar intenso do diabo reencarnado. Ele não faz questão alguma de disfarçar, levantando uma sobrancelha desafiadoramente.

A raiva que sinto em relação a esse puto cresce a cada dia. Ele está me irritando! Mas, ao mesmo tempo, começo a me irritar comigo mesma por permitir que ele tenha esse efeito sobre mim. É incrível como nós, seres humanos, ficamos só de ver um rosto desagradável.

- Está atrapalhando a passagem, ratinha - Fala com um sorrisinho de lado que, para muitas, pode ser encantador, mas para mim só aumenta a vontade de socar seu lindo rostinho. - Eu sei que me ama, mas já está me deixando envergonhado.

Não sei se tremo mais pelo frio intenso que corta meu corpo ou pela raiva que pulsa em minhas veias, mas tenho pra mim que a segunda opção prevalece.

- Vamos logo, Ay! - Julie me chama, quebrando o momento tenso. Sinto um arrependimento mortal por ter virado para encarar Damon, mas antes que possa retomar meu caminho, sinto os braços fortes de Damon envolvendo meu ombro, colocando sua jaqueta. Fico surpresa com a repentina proximidade indesejada.

- A ratinha virou um pinguim. - Seu sorriso desta vez parece estranhamente sincero, e até mesmo orgulhoso. - Realmente, estou fudido! - Como se não bastasse ter feito algo tão gentilmente estranho para alguém como ele, quando passa por mim, faz questão esbarrar nossos ombros, segurar meu queixo com seus dedos gélidos o apertando, e se aproxima o suficiente para que eu sinta sua respiração quente em minha orelha. - Cansei de ir contra meus próprios sentimentos, Ayla.

Meu coração por algum motivo estranho acelera descontroladamente, como se eu tivesse acabado de correr uma maratona, o frio intenso que antes me envolvia parece ter se dissipado, dando lugar a um calor desconhecido que se espalha por todo o meu corpo. Sua atitude me confunde ainda mais, pois sei que Damon é mestre em jogos mentais e suas intenções estão longe de serem puras.

Haha, a TPM de uma mulher realmente não é brincadeira. Ela é capaz de transformar tristeza em raiva e logo após em paz interior. Bizarro.

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Oioi pessoas! Pensei em começar a postar um capítulo por semana, na parte da manhã as 12hrs ou a tarde as 18hrs. Ou dois por semana, porém acho que será muito, enfim, estou me decidindo. Obrigada por lerem e até a próxima 💜

Arbitrário - Damon D'AngeloOnde histórias criam vida. Descubra agora