- Meu Deus Lisa.- A vó falou vendo a neta entrar na cozinha para almoçar.- Você não tem dormido?
- Eu só fui dormir tarde ontem.- E antes de ontem e também antes, mas preferiu não entrar nesse detalhe.
- E o que anda fazendo para não estar dormindo no horário certo?- Falou enquanto terminava de ajeitar as panelas.
- Estava no celular.- Respondeu simples.
- Fazendo?- Perguntou curiosa.
- Vó você anda bem curiosa.- Tentou desviar aquilo sabia que sua vó iria dizer caso contasse que estava passando a noite conversando com alguém.
- Eu não posso mais saber da vida da minha própria neta?- Virou encarando a mesma.- Mas você tem mesmo que dormir, suas olheiras estão complicadas.
- Sim senhora.- Respondeu.- Mas agora eu gostaria de almoçar, o cheiro está tão bom.
- Eu coloco para você.- Pegou um prato.
As duas almoçaram juntas assim como na maioria dos dias, apenas as duas, e era o suficiente para Lisa. Mas sua vó não parecia achar apenas isso suficiente e vez ou outra comentava sobre os pais de Lisa, ou tentava fazer com que nos poucos momentos em que eles estavam presente, realmente serem uma família normal.
Não é que a jovem tivesse um arrancor enorme de seus pais, até porque ter rancor de pessoas que você mal conhece é uma grande perca de tempo. Por isso Lisa preferia acreditar que apenas era indiferente em relação aos seus pais.
Se alguém acha que a indiferença é um sentimento meio termo, ou tanto faz, está enganado a quem diga que a indiferença seja o oposto do amor. Então Lisa não ama os seus próprios pais? Talvez um dia ela consiga responder isso sem sentir nenhuma dúvida em seu coração.
- Vó você acha que eles vão ficar quanto tempo aqui?- Ela questinou.
- Sua mãe disse que queria passar ao menos três meses.- Respondeu.- Mas você sabe, nada com eles é 100% certeza.
- Eu sei. Três meses não é muito tempo.- Comentou.- Quer dizer, eu não me lembro de ter passado tanto tempo com eles em toda a minha vida.
- Bom seus primeiros anos de vida eles ainda estavam por aqui.- Tentou amenizar.
- Anos esses que eu não me lembro de nada.- Disse suspirando.
As duas estavam na sala, a mais velha estava sentada enquanto Lisa tinha sua cabeça deitada sobre o colo da outra. Recebia um cafune em seus cabelos, e não havia outro lugar em que se sentisse melhor do que esse.
- Eu sei que essa situação toda é difícil.- Falou calma.- Mas não tem como mudar o fato que eles são seus pais.
- Pais não é uma palavra muito forte? Eles nem me conhecem e muito menos eu conheço eles.- Começou a dizer.- Pais e filhos não são tipo amigos ou algo assim.
- Normalmente sim, mas seus pais são mais complicados do que os que nós estamos acostumados a ver por aí.- Disse parando com o cafune nos cabelos da neta.- Que tal você ir no mercado para sua vó hein? Preciso de algumas coisa para fazer um bolo e outras que estão faltando.
- Agora?- Dava pra ver a preguiça na voz da garota.- Eu tenho que vestir um casaco, sabe que isso exige um esforço enorme né?
- Sim, agora…- Analisou o rosto que claramente mostrava sua pouca coragem de sair de casa.- É perto Lisa, não seja tão preguiçosa e em compensação você vai comer um bolo no final da tarde.
- Certo, me convenceu.- Falou.- Eu vou lá.
Alguns minutos depois Lalisa já estava abrindo a porta de sua casa para ir até o mercado. No caminho foi lendo a lista que a avó tinha feito e pela quantidade de coisas talvez na volta sofresse um pouco para levar todas as sacolas. Desde quando um bolo precisa de tantas coisas.