"Meus pais te odeiam"- Danthur

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Arthur

Eu não me lembrava da última vez que alguém em Carpazinha tenha sido homofóbico com qualquer um. Eu tinha me assumido com 14, e só alguns velhinhos pareciam se importar realmente com isso. Meus amigos e meus pais odiavam quando faziam piadinhas se referindo a mim. Cesar quase socou o rosto de um menino de 8 anos por isso.

Estávamos indo para a sorveteria, alí bem perto do suvaco seco, e eu tinha acabado de me assumir, tinha sido a alguns meses atrás. Um menino e algumas outras crianças nos pararam, as outras crianças pareciam nem ligar e só seguiram reto, mas o garoto não.
Parou, e nos disse:
"Meu pai disse que você é o novo bixa da cidade, depois do seus amiguinhos aí, é claro” ele falava aquilo como se gostasse, mas eu não me importava nem um pouco. Ele era uma criança, e provavelmente muito influenciada pelo pai, então era óbvio que ia ser assim. Mas ele continuou, ele devia ter só calado a boca e seguido em frente.

"E você é o gayzinho que gosta de jogar, né? Meu pai disse que fica comendo esse garotinho aí do seu lado” falou tudo isso apontando para Cesar, e no final olhou para Joui.

“Ok moleque, vaza vai. Vai comer terra, quebrar a cabeça, se matar sei lá” Liz parecia não querer que ninguém mais ouvisse aquelas palavras.

"Você também é a puta que o filho do Arnaldo fica comendo né? Meu pai falou de você também” nessa altura ninguém estava mais aguentando ouvir aquele pirralho.

Tristan pareceu bem irritado com o que o menino falava, ele não queria mais ouvir, então começou a falar para nós irmos embora. Dava para ver que a Liz estava em fúria com o que tinha escutado, mas Cesar estava incomparável.

No final, o Tristan e o Thiago tiveram que tirar o Cesar de cima do menino, e o garoto saiu com um hematoma na parte da boca, pois Cesar havia empurrado-o para o chão.
Corremos de lá, antes que alguém visse e sei lá, fossemos presos.

Não deu muito problema depois, só que o menino nunca mais chegou perto da gente. Eu briguei muito com Cesar, ele havia sido impulsivo. Mas a Liz defendeu ele sempre, ela também queria ter feito aquilo.

— Tutu, cê' tá bem? — eu estava a tanto tempo pensando que não tinha visto Liz sentada alí do meu lado.
Até pouco tempo atrás, eu estava sentado sozinho numa das mesas fora da escola.

— Ah, oi Liz! Tô' bem sim, e você? — sorri.

— Mais ou menos, acho que não tirei dez em artes.

— É querida, acho que artes é a única matéria que você não pode ser perfeita — Thiago aparece e se senta conosco.

— Valeu pela ajuda viu Thiagão — ela parecia cabisbaixa.

— Fica tranquilo Liz, você é perfeita, mas não precisa ser em tudo — coloquei minha mão em sua cabeça, como uma forma de carinho e conforto.

— Eu falei isso para ela, mas ela me xingou — Tristan chegou, logo ao lado de Cesar que olhava seu celular, nem parecendo se importar com ninguém.

— Não Tristan, você zombou dela falando que até você tirava dez em artes — Cesinha falava e jogava ao mesmo tempo. Eu sempre me perguntei como ele tinha concentração para isso. Tipo, eu me perdi só de ficar pensando, imagina jogar e falar.

— Mas quem não tira dez em artes Cesinha? — às vezes Tristan queria ser engraçado, mas acabava sendo grosso. Mas dessa vez, ele pareceu perceber — Ah desculpa Lizinha, eu não queria ser grosso. Se você quiser, eu te ajudo em artes — ele se sentou ao lado dela e colocou seus braços envolta do ombro.

— Eu quero muito mandar você se fuder, mas eu aceito a ajuda — ela não queria se render ao carisma do Tristan, então ficou com cara de emburrada. Mas todos sabíamos que a Liz estava agradecida.