Um jogo | Danielle Marsh

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Um dia de sábado, Haerin na minha casa, minha mãe fofocando com a vizinha no quintal dela e duas garotas entediadas. Ótimo.

"Tem um jogo bem legal para jogarmos" Digo indo pegar. Era o "detetive". Haerin estava sentada no sofá enquanto isso.

Assim que desço, a garota olha para o jogo e sorri.

— Vou ganhar! — Ela fala e eu solto uma risada — Duvida? — Ela termina

— Sou profissional. Ninguém me vence. — Falo e nós duas nos sentamos e abrimos o jogo.

Nos primeiros 14 minutos eu já estava suspeitando de alguém. De acordo com as armas que Haerin tinha, suas cartas correspondiam com as que não tinham no baralho de ninguém.

— Foi a dona Rosa...— Ela fala pensando um pouco alto e nós duas rimos — Você tem a floricultura, certo? — Ela completa e eu balanço a cabeça como "não".

— Não sei na verdade. — Digo fazendo-a revirar os olhos e bufar de raiva

Eu tenho a dona Rosa. Ela tem o dono do restaurante. Eu tem o mordomo. Ela tem o coveiro. Eu tenho a dançarina. Falta o...

— Dou meu palpite final! — Grito um pouco alto fazendo a garota se desconcentrar e ela diz em um tom duvidoso "Diga."

— Foi o Advogado senhor Marinho! Com a pá, no restaurante. — Falo e fomos conferir

Eu sou ótima nisso.

— Impossível. Não é possível. — Ela fala me fazendo rir — Você pre vê o futuro! Você acertou o jogo de basquete aquele dia, você sabia que sua mãe ia fazer cookies e é por isso que sempre ganha tudo que quer! — Ela se levanta enquanto fala me fazendo ficar assustada

— Nada disso! — Falo me levantando também

— Que isso? Você é uma bruxa ou algo do tipo agora? — Ela fala e eu não pude me conter. Soltei uma risada sincera — Me responde, como sabes de tudo? — Ela chega mais perto em um tom sincero e verdadeiro

— Eu não sei de nada, Haerin. — Finalizo o diálogo e vou para cozinha e a garota guarda o jogo e sobe pro quarto.

"Vou jogar basquete. Volto daqui a 1 hora." Haerin fala se levantando e pegando sua bola para ir jogar basquete.

E eu?

Vou desenhar.

Não, vou pintar alguma tela hoje. Mais interessante e intrigante, talvez eu faça uma paisagem, uma flor...

Fui pegar minhas coisas e...

Comecei.

Passou-se um certo tempo e Haerin chega em casa.

— Oi — Digo e ela responde com um "Oi" cansada e suada

— Como foi? — Pergunto pra tentar quebrar o clima estranho

— Bem. Na verdade ótimo, como sempre. — Ela fala entre risadas e eu solto uma também. A garota deixa a bola no meio da sala e vem até mim ver o que eu estava pintando

"Você está suada." Digo baixo e a garota começa a observar o desenho, até que no final da apreciação ela responde um "Eu sei."

[...]

— Vou chamar Hanni para vir aqui, tudo bem por você? — Pergunto olhando para meu celular enquanto vou em direção a Haerin para a garota me escutar.

"Ok. Vou para casa fazer algo." Ela responde meio seca e sai.

Quando Hanni chega, ela chega meio chateada e para baixo. Eu como uma boa amiga, resolvi ser uma ouvinte para ela e ajudá-la no que for preciso.

E ela começou a falar.

Começou a chorar.

Era um medo que ela sentia. O medo de se arrepender. O medo de conseguir e não dar certo. O medo de tentar e for ruim da parte dela. O medo dela falhar.

"Mas o que custa tentar?" Eu digo e a garota se encontra nas lágrimas novamente "Ok. Vou pegar água para você." Finalizo e vou para cozinha pegar um copo d'água pra mesma.

"Pessoas confusas machucam pessoas incríveis, pessoas confusas não prestam atenção no que fazem, pessoas confusas não tentam. O seu problema é que você não tenta. Tenta. Se você falhar, você pode pelo menos falar que tentou. A culpa não é sua se você deu o seu melhor e a pessoa não soube apreciar. É como na arte, sempre, sempre vai haver alguém para julgar sua pintura. Não importa o quão bela ela vai estar. Sempre vai ter alguém encontrando algum defeito. Mas pelo menos o artista tentou desenhar. Ele pode ter falhado tentando desenhar uma simples flor. Mas ele fez. É o processo. Os fins justificam os meios." Meu discurso para Hanni é longo. Eu quero que ela entenda que eu estou com ela, sempre estarei, e não quero que ela deixe de aproveitar os benefícios e os sentimentos que a vida nos trás por "medo".

"Para de viver no "e se...". Para. E se der merda? Deu, já tá feito, você não pode fazer nada. A vida é assim, se aprende errando, não magoando outras pessoas." Finalizo tudo e a garota me dá um abraço longo e demorado. Sinto suas lágrimas salgadas caírem pela minha blusa lilás e seus cabelos embaraçados sendo jogados para trás e suas mãos firmes e fortes em um verdadeiro abraço.

— Hanni — Chamo a garota que presta atenção em mim com os olhos borrados de rímel e lágrimas em suas bochechas — Não esqueça de ser você mesma. — Termino e voltamos para o longo abraço.

No mesmo momento, Haerin toca a campainha, eu apenas grito "Pode entrar!". A porta estava aberta, eu saberia que ela ia voltar, então deixei assim mesmo.

𝗕𝗔𝗦𝗤𝗨𝗘𝗧𝗘 𝗲 𝘃𝗼𝗰ê | NWJNSOnde histórias criam vida. Descubra agora