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Karol agarrou um vaso abarrotado de flores que provavelmente Kyara havia posto em seu quarto e o atirou contra a parede. O objeto se estilhaçou e o chão inteiro ficou inundado de água. As rosas se espalharam pelo piso, afogando-se na umidade.

— MALDITO! — Gritou, bufando, chorando ainda. — Como ele ousou me tratar daquele forma? Quem era aquele desgraçado?!

Odiava-se profundamente por ter agido com tanto medo, por ter sucumbido à força da presença daquele cavalheiro tão grosseiro e mal. Até mesmo sem as memórias negava-se a acreditar que um dia abaixou a cabeça para um homem. Não! Não era esse tipo de mulher. Então como pôde ser tão medrosa? Porque deixou que ele lhe metesse tanto medo? Era inadmissível a forma covarde como fugiu, como reagiu a tudo.

— Mas o que é isso, irmã?!

— Agora não, Kyara. — Guinchou, secando o rosto com exasperação, dando as costas para a irmã.

— Eu não estou entendendo... Ó! As flores! As flores que colhi hoje cedo! Karol, por que fez isso?!

A mais nova agitou as mãos para cima. Não se importava com aquelas porcarias. Estava irada. O pavor havia aberto espaço para a raiva agora. Sem contar que Damian também não havia agido com ela queria. Parecia que o mundo resolvera desabar sobre sua cabeça naquele dia.

— Depois alguém limpa isso. Agora eu quero ficar sozinha.

— Não. — Kyara retrucou, sacudindo as flores que retirou do meio da água, pousando-as sobre seu colo após agachar-se para pegá-las. — Não vou sair. Ademais, eu a vi chegando agora há pouco. O que acha que papai pensará disso? Aonde esteve?

Karol riu com desdém, indo abrir as janelas do quarto.

Uma brisa quente assoprou contra seu rosto. As lágrimas começavam a secar deixando sua pele pegajosa. Detestava aquela sensação.

— Por acaso vai contar ao papai sobre a minha saída, Kyara? Se for isso, vá! Ande, vá imediatamente. Só não fique aqui me cobrando explicações.

Era lógico que ela não desejava que o pai soubesse, ainda estava apreensiva com isso, mas não conseguia controlar as próprias palavras.

— Eu não irei dedurá-la ao papai! — Kyara retrucou, levantando-se com as flores na mão. As bochechas coradas pela indignação. — Jamais lhe trairia dessa forma, contudo, todos os criados viram a sua chegada, a forma como passou correndo pelo salão de entrada. Então muito provavelmente papai saberá de alguma fofoca. Ao menos me permita estar situada antes de a bomba explodir em meu colo.

— Seu colo? — Karol rebateu, a voz aguda, os lábios curvados num sorriso ardiloso. — Eu não pedi que me defendesse! Pare de agir como se fosse a mamãe! Eu não pedi a sua ajuda, mas se quer mesmo fazer algo por mim, não seja você a me entregar ao papai. Só isso o que peço.

— Eu jamais quis agir como a mamãe. — A outra recuou afetada por aquelas palavras. — E não me trate dessa forma.

— Então sai! — Chiou a mais nova, alterada. — Deixe-me sozinha com os meus malditos demônios! Eu preciso colocar a minha cabeça no lugar. Não desejo ver ninguém!

— Mas o que aconteceu?! Foi o milorde? Eu vi que conversavam lá fora. Na verdade não entendi o motivo pelo qual ele retornou, mas....

— O milorde, Kyara, foi para o inferno.

Confusa, a moça franziu o cenho, observando a irmã perambular pelo quarto com a respiração pesada, como se estivesse presa dentro da própria pele.

— Karol, por favor, explique-me.

O Conde Corvo - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora