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O Conde sentiu um calafrio gelado subir por sua espinha dorsal e imediatamente se contraiu. Ele podia jurar que estava sonhando, mas, ainda assim, procurou por Karol, contudo, ela não estava.

Num movimento brusco, porém desajeitado, ele se levantou. Não estava em casa, mas sim na cabana.
Na cabana onde sua história mudou completamente anos atrás.

— Cuide do Erebus. — Alertou uma voz que ele reconheceu prontamente.

— Aleister! — Murmurou, cambaleando. Estava zonzo, cansado. Apoiou-se na cornija da lareira. — Pensei que tinha morrido.

— E eu morri. — O velho bruxo se arrastou a passos lentos até uma cadeira e se sentou. — Mas eu tinha que vir avisa-lo. Ainda sou o seu amigo. Eu nunca me esqueci do homem que me alimentou quando todos viraram as costas para mim.

— Amigo? Meu amigo? Você só pode estar de brincadeira! Eu fiz tudo o que pude para te acolher e você, em troca, me amaldiçoou. Por sua culpa eu estou preso em dois corpos! Não posso ser um homem completo....

— Você ia morrer, menino, entenda! A única forma de me certificar de que você sobreviveria era guardando a sua alma com o corvo, enquanto eu cuidava do seu corpo físico. Fiz o seu coração voltar a bater.

— Mas a que preço? O senhor precisava separar a minha alma do meu corpo para me salvar da morte, mas me condenou a viver para sempre com um coração batendo em meu peito e a minha alma dentro de um corvo.

— Toda a magia tem um preço, você sabia.

— Mas eu não estava consciente. Aqueles malditos capangas do Damian me deixaram aqui praticamente morto. Eu não tinha o que fazer. Foi uma escolha sua, apenas sua, trazer-me de volta. Mas sou eu quem precisa lidar com as consequências!

Ruggero jamais iria se esquecer da emboscada que Damian armou e de todos os capangas que trouxe para mata-lo. O Conde só pensava em Karol quando a dor começou a ser mais insuportável. Ali ele soube que morreria, e seu maior pesar era que não a veria novamente.

E de fato ele morreu.

Ao menos... seu coração parou de bater por um momento.

Até que Aleister lhe encontrou. O velho bruxo não achou justo aquele destino e interveio, usando de seus feitiços para trazer o rapaz de volta, contudo, temia que a alma do rapaz fosse prejudicada no processo e a prendeu no corvo de estimação do rapaz.

Erebus era a vida de Ruggero.

E quando Aleister pôde finalmente trazê-lo de volta, Ruggero já não era o mesmo. Jamais seria.

Seu coração estava obscurecido pelo ódio; apesar de sua alma permanecer limpa.

— Eu sinto muito, mas não vim aqui para debater sobre isso, menino.

O Conde abanou a cabeça. A tontura ficava cada vez mais forte.

As lembranças daquele dia eram dolorosas. Estar na cabana só piorava.

Ele se recordava de acordar com Aleister ali, de ele lhe explicar o que tinha feito. Ruggero não entendeu bem. Seu único intuito era procurar por Karol. E ele foi. Mesmo ferido ele foi.

Já era dia quando invadiu a mansão.

Kyara o recebeu e o encheu de mentiras... então veio a carta...

Ele saiu de lá desolado. Retornou para casa, dando-se conta de como tudo havia ruído. Erebus era tudo o que ele tinha. E ele estava amaldiçoado a viver sem sua alma; apenas com um coração manchado de rancor; um coração em pedaços.

O Conde Corvo - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora