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Kyara ainda tremia quando Damian a levou para dentro de casa. Ele havia dispensado os criados para a cozinha e a conduziu até a sala de visitas, fechando a pesada porta de madeira que isolava o ambiente luxuoso que a mocinha conhecia bem, afinal de contas suas famílias eram conhecidas por frequentarem muito a casa uma da outra.

— É melhor deixar a porta aberta. Podem pensar coisas que...

— Não se preocupe com isso agora. — Damian se agachou na frente dela após ajudá-la a sentar-se em um dos sofás. Ele levou as mãos até as mãos da moça. Ela estava fria e estremecia. — Kyara. Kyara, por favor, olhe para mim.

— O que aquele homem fazia na cidade? Ele não havia ido embora da Inglaterra? O senhor havia dito que.... que tudo ficaria para trás.

— E ficou. Kyara, eu juro que ficou.

— Como assim, Damian?! — Guinchou, libertando as mãos das mãos dele. — Aquele tipo de homem não desiste fácil e, ademais, agora ele tem um trunfo na manga, conhece os nossos segredos e pode muito bem falar! Ele pode contar tudo!

— Ele não vai. — O milorde se levantou, esfregando o rosto. Depois de respirar fundo, voltou-se para a dama em seu sofá. Os olhos dela refletiam o medo que abalava sua alma frágil. — Ora, não me olhe assim, eu não suporto a dor em seu olhar. Não faça isso comigo, Kyara.

— Cale-se. — Ela fungou, secando o canto do rosto úmido. — Eu nem deveria estar aqui. Não sei o que me deu. E agora... agora aquele homem nos viu juntos e....

— E nada. Nada. Ele não vai falar coisa alguma, tampouco alguém lhe daria credibilidade. Ele é apenas um bêbado imundo.

— Nós dois sabemos que ele não é só isso.

— Kyara...

— Damian, por favor, não o deixe falar nada. Pague o que for, faça o que precisar fazer. Mas, por tudo o que mais ama em sua vida, mantenha-o longe de nós. Eu imploro.

Ele assentiu. Com a cabeça pulsando de dor, o rapaz se sentou no outro sofá, os cotovelos apoiados nas pernas enquanto segurava o rosto nas mãos.

— Amanhã bem cedo irei dar o dinheiro que ele pediu.

— E certifique-se de que desta vez ele partirá definitivamente da cidade.

— Ele partirá de uma forma ou de outra, eu prometo.

Quando seus olhares se cruzaram, Kyara concordou com um aceno de cabeça. Confiava em Damian mais do que confiava em qualquer pessoa no mundo.

— De toda forma.... — Ela pigarreou, abaixando o olhar para a bolsinha que tinha nas mãos e que apertava com força por causa do nervosismo. — Há outro assunto do qual preciso falar com o senhor.

— Aconteceu alguma coisa com você?

— Com a minha irmã.

— O quê?!

— O noivado de vocês. — Kyara buscou o olhar dele e percebeu que o rapaz esquivou por um momento. — Porque acabou com tudo?

— A sua irmã não me ama. Bom, acho que disso você já o sabe.

— Mas ela te amava. — Ela retrucou, retorcendo a alça da bolsa entre os dedos. — E se ela já te amou pode voltar a amar de novo.

— Estou há dois anos a cortejando e há dois meses nesse compromisso que não vai nem para frente e nem para trás, Kyara! O que quer que eu faça mais?!

— Que insista! — Num rompante, a moça se pôs de pé.

— Insistir?! — Ele riu, levantando a cabeça para olhá-la. — Nós dois sabemos que a Karol não é o tipo de mulher que muda de opinião.

O Conde Corvo - Vol 1Onde histórias criam vida. Descubra agora