Fase 1 | Trabalho

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Chico e o velho iam devagar pelo mar de gente que inundara a periferia de São Paulo naqueles tempos. "Cuidado aí, amigão!" Disse um homem carregando uma viga de ferro no ombro. "Me desculpe," respondeu o velho. Era impossível percorrer o estreito caminho sem esbarrar em alguém. Ao redor, homens e máquinas se fundiam na poeira levantada pela gigantesca obra que começara meses antes. "O futuro!" bradavam os jornais. Mas para Chico e seu companheiro, aquilo mais se parecia com o fim.

O local fora escolhido para receber a primeira fábrica de automóveis do país. Toneladas de concreto e aço eram levadas ali todos os dias para alimentar os ombros dos trabalhadores cansados e servir de base para o dito progresso. Cabia a Chico e ao velho — e a muitos outros — transportar os suprimentos até o local.

"É um belo animal este que você tem aí," disse um homem de terno e chapéu. "Lhe dou cem Réis por ele." O velho mirou o sujeito, destoante dos outros — por certo não era um trabalhador braçal. Agradeceu o elogio com cabeça e respondeu: "O nome dele é Chico, e não está à venda."

"Eu pensaria bem se fosse você, meu caro," continuou o homem, que não costumava desistir de uma barganha. "Um único carro é capaz de fazer o trabalho de cem cavalos. E assim que esta fábrica estiver pronta, cada família neste país terá um automóvel para si." Desviou o olhar fingindo desinteresse e completou despretensioso: "Daqui um ano ou dois você terá sorte se conseguir vinte Réis por ele. O tempo será algoz com você."

Naquele ponto, alguns trabalhadores já haviam se aproximado e descarregavam os materiais da carroça presa ao cavalo. O velho apertou o olhar e respirou fundo. Uma resposta atravessada a um tipo como aquele poderia lhe custar o dia de trabalho. E Deus sabe como precisava do trabalho. "E por onde vão andar esses carros?" falou.

"Vamos construir estradas. Estradas por todo o país. Haverá uma tão grande que irá até a capital," o homem respondeu com um sorriso. Mas uma estrada até o Rio de Janeiro era impensável. "Assim como fizeram com as ferrovias?" O velho disse sem pensar. Não era de deboche, mas não conseguiu impedir a ironia. O sorriso do homem murchou e alguns dos trabalhadores seguraram o riso.

"As ferrovias de fato não deram certo," respondeu o homem agora com semblante sério. "Mas desta vez será diferente. E como estou bom humor, aumento minha oferta para 200 Réis, se me deixar também a carroça." O velho escolheu com cuidado as palavras — aprendera de pequeno a lidar com homens de terno. Firmou o corpo e falou seguro: "Obrigado pela oferta, senhor. Mas como disse, Chico não está à venda."

E o homem entendeu que não haveria negócio. O sino da refeição tocou e trouxe mais caos ao ambiente. Chico e o velho aproveitaram o fuzuê e arredaram dali, observados com afinco pelo par de olhos cobiçosos.


499 Palavras.

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