Um bom companheiro

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Faziam dias que Sirius não pisava em casa, apenas confirmando minhas suspeitas  que novamente ele havia fugido para a casa dos seus amigos, sem ao menos uma carta ou um aviso como as outras vezes, ele apenas saiu e foi-se tão rápido quanto as mudanças de humor de nossos pais.

Porém naquela vez, não me senti tão perdido e mal, o cachorro que havia ajudado realmente me trazia certo conforto, geralmente era quieto e apenas quando meus pais estavam fora que ele aproveitava para fazer bagunça e barulho, os elfos não se metiam e por certa sorte talvez, hoje meus pais iriam a uma viagem e apenas voltariam daqui alguns dias. Duas semanas sozinho e faltava apenas três para a volta as aulas, o gosto de liberdade estava forte desde que recebi a noticia de sua viagem.

— E lembre-se de estudar, direi a Milly para observar seus estudos, não te quero abaixo do top 3 de seu ano após as férias, certo? — Foi a última coisa que minha mãe disse antes de sair com meu pai pela chave de portal, eu claramente acenei com um sorriso e os desejei boa viagem antes de me enfiar no quarto, suspirando aliviado ao ver o cachorro ali me observando quietinho.

— Estamos sozinhos totó, duas semanas de liberdade, acredita? — Disse sorrindo enquanto me sentava na cadeira de estudos e me espreguiçava — Podemos passear agora, oque acha? — dei a ideia o vendo levantar a cabeça rapidamente, me fazendo sorrir com diversão. — Já que sua pata está melhor, podemos dar uma volta, mas nada de correr igual a última vez ou vai estender mais ainda sua estadia, e eu acho que não consigo te levar pra Hogwarts comigo — ao terminar de arrumar minha mochila com alguns essenciais, apenas abro a passagem e suspiro vendo o cão sair correndo, logo vou atrás, seria uma longa tarde.

E foi, pelos próximos dias em que ficamos sozinhos, a contagem marcava que faltava apenas uma semana para meus pais voltarem e duas para Hogwarts, oque me deixava ansioso e com medo do animal não estra bem até lá. Mas eu não podia negar que havia me apegado ao cachorro, e já elaborava como o levaria escondido como meu animal para Hogwarts.

Naqueles dias em que eu o cuidei, ele foi meu companheiro. Sempre me ouvia e quando eu falava de Sirius parecia prender sua atenção inteiramente como se estivesse interessado em meus monólogos e conversas depressivas sobre me sentir solitário na Grande Casa Black, as vezes segredava outras coisas e uma vez ele chegou a rosnar quando me perdi falando de James Potter, oque pareceu estranho, o animal nunca rosnava e parecia fazer o tipo de cachorro bobo. Ele me ouvia. Incrivelmente me fazia sentir seguro e cuidado mesmo que apenas me latisse respostas soltas e prestasse atenção, afinal era um cachorro. 

Já se era sexta-feira quando voltamos de um passeio no parque, mesmo com a pata ainda se curando, o cão se divertia correndo e me dando coisas para ele buscar, naquela tarde passamos andando pelos parques próximos e brincando de pega, apenas descansando quando chegamos em casa novamente e ele se jogou na cama como um cão folgado, me fazendo resmungar mas ir tomar um longo banho. Apenas voltando um tempo depois de banho tomado e totalmente vestido, pronto para deitar, o empurrando e rindo com sua lambida em minha mão, me ajeitando em seguida enquanto o olhava

— Você me lembra meu irmão. Não consegue ficar quieto e sempre está pronto pra fugir dessa casa — segredo com o animal o vendo latir e sorrio fracamente, mas um suspiro me toma e deito na cama vendo ele deitar por perto me observando — Sabe...ele gostaria de você, provavelmente iria amar que eu não fui o filhinho perfeito dos nossos pais e te salvei — Aquele monólogo me fazia refletir — Não pode contar pra ninguém o que vou te contar. Mas eu sinto saudades dele — falo baixo como se a confissão fosse algo horrível ou a se temer. Como se Regulus Black não pudesse sentir saudades de seu irmão mais velho. Uma leve dor em meu peito se fazia presente mas era tão comum que apenas a ignorei e voltei a falar baixo.

— Quando ele entrou em Hogwarts, eu sinto que tinha perdido meu irmão...Não por ele ser grifinório, mas sim...Pela forma que ele passou a me tratar sabe?...No segundo ano ele ainda tentava mas...No terceiro ele desistiu de mim, sabe? Parou de me responder nos corredores, não me dava bom dia, e só falava comigo vez ou outra em casa...— Eu conseguia sentir as lágrimas caindo e molhando meu rosto, uma sensação de ardência as acompanhava e angustia, os pensamentos me julgando como culpado de seu afastamento súbito — E a pior parte? Eu sinto que foi minha culpa sabe? Talvez ele tenha descoberto que eu gosto do melhor amigo, ou só tenha cansado de ser meu irmão — O ar parecia sumir com cada grito interno de minha mente, um filme se passando com meu irmão me olhando torto ou evitando, sua frieza e desgosto por estar no mesmo ambiente que eu era oque me atormentava. Os sons do cachorro enquanto lambia meu braço pareciam baixos demais — Ele me abandonou...Prometeu nunca me deixar afogar na escuridão e ele mesmo se juntou aos meus pais e me jogou no lago.

O cão começou a lamber meu rosto parecendo desesperado, mas logo deitou a cabeça em meu colo, oque me fez sorrir quebrado. Os soluços depois disso deixaram tudo confuso, e eu já não sabia se estava chorando igual uma criança a horas ou minutos, só sei que quando me acalmei, meu corpo doía inteiramente e o ar parecia voltar aos poucos. O grande cão me olhava atentamente e choramingava enquanto me lambia preocupado, sem se afastar em nenhum momento.

— Desculpa. Eu não deveria ter me deixado levar, devo parecer patético não é? — Um suspiro me escapa e abraço o animal enquanto me deito, rindo baixo com uma lambida em minha bochecha, que não me preocupei em limpar, apenas me ajustando na cama ainda respirando com dificuldade, algumas poucas lágrimas fugindo de meus olhos de forma mais calma e lenta.

— Eu queria meu irmão de volta. — sussurro me encolhendo — Queria que ele se importasse comigo e me amasse como prometeu anos atrás...Mas a vida não é um conto de fadas não é? — as palavras escapavam de minha boca com dor, os pensamentos voltavam a gritar e eu apenas consegui respirar fundo e soltar o cachorro para não o machucar sem querer, me encolhendo nas cobertas enquanto respirava tentando não me deixar abater, mas um latido me fez olhar para cima e sorrir com certo afeto

— Você é um bom garoto, sabia? Parece aqueles cachorros que vemos em filme — Brinco o fazendo cafuné e suspiro — Fiquei tanto tempo falando de meu irmão e James que não vi o tempo passar, perdão, eu estou bem agora sim? — Asseguro e o animal se deita ao meu lado, me olhando quase como se me protegesse, oque me fez sorrir e continuar a brincar com seus pelos, me ajeitando debaixo das cobertas.

Por algum motivo, eu acordei algumas vezes durante a madrugada, e era sempre com o mesmo pesadelo aonde eu me afundava em escuridão, braços me agarrando e puxando para baixo, e vozes gritando comigo  ofensas, parecia um lago escuro e eu conseguia ver meu irmão tentando me ajudar.

As vezes era Potter, as vezes era Sirius, e as vezes Pandora e Evan, mas em nenhuma das vezes eu consegui pegar em suas mãos, eu apenas afundava e acordava antes de morrer.

Mas foi ao acordar novamente de manhã que eu notei algo diferente do restante da madrugada. Que os choramingos haviam parado e eu me sentia sozinho em minha cama, sem qualquer peso ou pelos para reclamar de limpar.

Eu estava sozinho. Ele também havia ido embora.

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