1_Silêncio

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-O que deseja? - um olhar cansado foi direcionado ao rapaz que estava parado diante o balcão com as mãos nos bolsos do moletom preto. 

Era começo da tarde e a lanchonete estava movimentada, a atendente desconfiou que podia ser um assalto, mas nem se moveu, suas ações eram calmas e com pouca vontade. 

- Um hambúrguer - a voz grossa e mais cansada ainda, falou de volta, os olhos vazios se direcionaram para a mulher, a sua frente e se viu como num espelho, o abismo o encarou de volta. 

- Qualquer um? - ela apontou para a vitrine tentando sair do transe que havia entrado vendo aquele homem, ou jovem, ele parecia ser novo, apenas cansado. 

- Sim - ele empurrou os braços mais fundo no bolso como se quisesse sair daquela situação estranha. 

A garota suspirou, parecia que nenhum dos dois queria conversar. 

- Levar ou ficar? - ela sinalizou. 

- Vou ficar. 

- Certo - com um guardanapo ela retirou o lanche e o depositou em um prato branco- algo para beber? - perguntou enquanto pegava talheres que ficavam bem presos em um plástico fechado. 

- Um refri... - ele adicionou sem muita confiança. 

A atendente acenou e pegou um litro de refrigerante e colocou no balcão, o rapaz a sua frente segurou o prato e a garrafa deixando o dedo mindinho de fora e andou até a mesa mais afastada. 

Algumas pessoas se afastaram outras ignoraram. 

Samara o observou com olhos cansados, sua mente vagava na semana anterior quando encontrou aquele cara. 

Ela fazia patrulha quando entrou no beco para finalizar sua ronda, quando viu o azulado sentado no chão e sangrando. 

Ele parecia querer matá-la no início, mas ela sem uma única palavra estancou o sangramento, que não era muito, e se levantou para ir embora após ele falar que não queria ir para o hospital. 

Era seu dever com heroína levar ele, mas ela não iria. 

Atrás do balcão um livro de história estava aberto e ela voltava a ler e reler até alguém aparecer para ela atender. 

Possuía 18 anos e estava no início do terceiro ano, sua vida era exaustiva. 

As horas passavam e as pessoas iam embora, mas o rapaz de cabelo azul permanecia no canto escuro da lanchonete. 

-" Tem que trocar a luz daquele canto "- Samara encarou discretamente e acabou flagrando o rapaz a olhando, ele desviou os olhos para o lado se fora que escurecia.

- Vai desejar mais alguma coisa? - ela saiu de trás do balcão já sem o uniforme de atendente. - tenho que fechar. 

- Não - ele falou se levantando. 

Ela segurou sua bolsa e a arrumou nos ombros. 

- Por que não me levou ao hospital aquele dia? - ele finalmente a encarou. 

- Podia ter feito essa pergunta desde o início- ela o olhou. 

- Eu não gosto de multidões… 

- Entendi, respondendo sua pergunta, eu não sei, acho que era por que seus machucados não eram graves e você não queria ir, agradeço sua confiança por deixar eu te ajudar, mas eu sabia que ela não se estendia para outras pessoas - falou por fim. 

- Percebi... - ele a encarou e saiu porta afora. 

Samara desligou as luzes e saiu, trancando a lanchonete e guardando a chave. 

- Não é seguro sair nesses horários, pode acabar achando um vilão- ele falou encostado no poste de luz que já acendia. 

- E o que ele poderia fazer comigo? - ela perguntou sem nenhuma preocupação. 

- Heróis são todos arrogantes? - por algum motivo ele havia colocado um pouco de agressividade na voz. 

- Não é arrogância, eu apenas não me importo mais, eu sei das minhas capacidades para me defender se necessário- ela falou calma ignorando a quase agressão verbal. - vai me acompanhar? 

Ele a olhou desconfiado e resmungou.

- Certo heroína. 

- Fique ao meu lado então, se alguém o ver me seguindo vão achar que quer me roubar- ela falou e dessa vez parecia mais alegre, afinal colocou humor na voz. 

- tsc - ele rosnou, mas não fez nada, apenas andou mais rápido ficando ao lado dela. 

Ambos não falaram mais nada, nenhum tentou forçar algum assunto para acabar com o silêncio constrangedor, apenas ficaram em silêncio, em algum momento tomura parou e seguiu outro caminho, Samara não se despediu apenas continuo a caminhar quando ele sumiu no escuro. 

Salvação ou Destruição? Onde histórias criam vida. Descubra agora