Capítulo Seis

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- Ok, Dylan. Hoje você tem vinte anos e lembra disso tudo. Você sabe o porque de estar falando comigo?

Essa é minha psicóloga, Carla. Estou a dois anos passando nela, estou melhorando, mas não muito. Decido ficar por motivos simples: Consigo me abrir muito com ela.

- Sou obrigado, né!?...

- Não, você pode muito bem se levantar, sair pela porta e abandonar tudo o que conversamos nesses dois anos.

- Não, estou de boa. Vou continuar a história.

-  Pois então, prossiga.

/// ///

Fiquei sem reação e não sabia o que responder para ela. Cambaleei e me sentei na cama sem expressão e ainda sem saber o que dizer a ela.

- É... Eu não estou doente, eu fingi a minha doença... Talvez com você sabendo que eu morri, seria mais fácil continuar sua vida lá com seu irmão, já que seria difícil você vir pra cá... Mas cá estamos nós... Vivendo o oposto do que imaginei...

- Então era isso que você queria? O oposto disso?... Que eu não estivesse aqui?

- Dylan, está fazendo parecer pior do que é.

- Mas é pior do que parece ser. Cara, tu não tem noção do que aconteceu e acontecia comigo lá. Pensando todos os dias em poder voltar aqui, te abraçar e ser a pessoa que ficaria contigo no seu "última dia de vida". Aí eu volto... E descubro isso?

- Eu fiz isso por você, Dylan. E fala mais baixo que meus pais estão aqui, não sei se lembra.

- Não me pede pra falar mais baixo, cara...

- Se quiser continuar aqui você VAI falar mais baixo. Escutou?... Ótimo. Voltando ao assunto, eu fiz aquilo por você, para você não ficar mal.

- E aqui estou eu, pior do que você imaginou. Eu vou dar uma volta. Não estou aguentando isso, espero que eu não volte.

- É só não voltar...

- Ok... Ta bom.

Saí da casa dela pela janela de seu quarto e comecei a andar pela cidade. Decidi passar por onde eu morava. Estava tudo igual. Bom... Por fora. Por dentro eu não fazia ideia de como estava. Saí daquela rua o mais rápido possível, caso contrário, ia me dar vontade de entrar na casa, e tinha gente lá.

Já era por volta das nove horas da noite, pulei a janela do quarto de Ashley e ela estava lá com Peter, aparentemente fazendo lição de casa. Sim, era só lição de casa mesmo.

- O que você está fazendo aqui? - Falou Peter, se levantando da cama querendo vir para cima de mim.

- Ei, calma aí, mocinho. - Ashley tentou conter Peter. - Ele vai ficar aqui por um tempo.

Pisquei e sorri malicioso para Peter e ele começou a ranger os dentes.

/// ///

-  Ok, Dylan. An... Quer avançar um pouco na história?

- Ué!?... Está ansiosa? Hahahaha.

- Não. Porém você passa dois anos comigo e não progrediu muito na história, não acha? Pois é. Me conta algum momento marcante, tocante, coisas do tipo. O que te deixou mal no final de seus onze anos para o começo dos doze?

- Ok, ok. Vamos pular a briga com Peter.

/// ///

Era uma tarde qualquer, numa data qualquer, eu já tinha meus doze anos de idade. No meu aniversário Ashley passou o dia todo comigo, ela estava namorando sério com Peter, se assumiram.

Mas nesse dia em específico, foi muito tenso. Se passaram duas semanas do meu aniversário e recebi mensagem de Chris querendo saber quando eu ia voltar pra pagar ele.

- Dylan, Dylan, Dylan. Se demorar mais uma semana eu vou atrás de você. Meu irmão já rastreou seu número e sabemos que está em Brasília. Se demorar, iremos atrás de você. E não queira conhecer meu irmão, o seu já conhece e não gostou muito.

- Está me ameaçando, cara?

- Entenda essa mensagem como quiser. Mas você já está avisado. Vou te chamar semana que vem. Caso não tenha o dinheiro, iremos te buscar aí.

E então ele parou de me mandar mensagem... Por enquanto.

Tempo mais tarde, ouvi um barulho na porta de entrada, e eu estava na sala e travei, olhei o relógio e era o horário dos pais de Ashley voltarem do trabalho e eles nem desconfiavam que eu tinha voltado, ou pior, que eu estava na casa deles, sozinho, do nada... Há cinco meses.

Pai de Ashley foi o primeiro a me ver e achou bem estranho e não escondeu a cara de quem não gostou daquilo. Não de me ver, mas sim de me ver na casa deles, sozinho.

- Dylan? Como entrou aqui? - Perguntou o pai de Ashley.

- Eu é... O-oi senhor. A Ashley me convidou pra vir aqui. Voltei tem um tempinho. - Fiquei muito sem jeito que acabei ficando meio corado. Igual quando o filho é pego pela mãe no meio da masturbação.
Ok, eu não deveria ter usado essa analogia.

- Ashley não está aqui, filho. Como ela te convidou e como entrou aqui? - Chegou a mãe da minha amiga com cara de muita dúvida e meio assustada. Como se eu tivesse invadido a casa. Bom... Deve ser o que eles pensaram.

- Podemos esperar Ashley chegar?... - Perguntei ainda sem jeito.

Uma hora depois, Ashley chegou e fingiu demência quando me viu sentado no sofá com os pais dela nas cadeiras da sala.

- Dylan. Você veio. Me dá um abraço. - Ashley saltitante foi até mim mas nem me mexi.

- Eu ia esperar você chegar pra contar aos seus pais. Mas ansiedade bateu e falei antes... Agora eles sabem que moro aqui. Bom... Morava.

- Ah... É... Pai, mãe. Desculpa não ter falado nada. Ele não tem lugar pra ficar e não poderia ficar em hotel ou motel pela idade dele.

- E nem aqui também. - Disse rígido o pai de Ashley. - Não temos a guarda dele e nem vamos ter. - Completou.

- Bom, por um lado vai ser bom eu sair da casa de vocês. Não vou colocar vocês em mais problemas. - Falei pegando meu celular.

- Que problemas, Dylan? - Perguntou Ashley, preocupada.

- Ok, é... Para vir aqui, peguei dinheiro emprestado com um colega meu de São Paulo. Ele é... Digamos que não é uma boa pessoa. Era para eu ter pago ele faz meses, mas não tinha o dinheiro e semana que vem ele vai vir para cá me procurar. Já sabe que estou em Brasília.

- E por isso acha melhor mesmo não ficar mais aqui. Sensato você. Mas burro por pegar dinheiro com quem sabe que não é boa gente. - Disse o pai de Ashley, ainda rígido.

Naquele mesmo instante a campainha da casa tocou e bateram várias e várias vezes na porta. Mãe de Ashley foi até lá às pressas para ver quem era. Abriu a porta e meu irmão Kyler estava lá.

- Kyler? O que você está fazendo aqui? - Perguntei levantando do sofá.

- É teu amigo Chris e o irmão dele. Eles estão vindo atrás de você.

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