Capítulo Quatro

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Pois é, a vida é assim. Tem seus altos e baixos, mas a minha só tem baixos. Se a vida tem lado bom, eu estou do lado de fora. Se a vida é para vencedores, eu nasci errado.
Não, não sou pessimista e nem negativo. Ja tentei ser cem por cento pessimista e negativo, mas eu já sabia que não ia dar certo.

Se passaram dois dias e eu estava lá na cidade do meu irmão, com medo de sair, de ir pra escola, com medo do desconhecido. E foi assim por um mês inteiro. Mês seguinte ele faltou no trabalho em um certo dia só pra passar o tempo comigo, me levar pra passear e conhecer a cidade.

Fomos para um parque de diversões chamado Hopi Hari. Cheguei lá e fiquei encantado com o tamanho do parque, com um tanto de brinquedo legal e bem divertido. E uns um tanto quanto perigosos.
Rodamos o parque todo e então decidimos ir nos brinquedos.

- Quero ir naquele ali. - "Naquele ali" era o elevador. 69,5 metros de altura, equivalente a um prédio de 23 andares.

E então entramos no brinquedo e ficamos lá esperando e... puta que pariu, o brinquedo começou a subir e era muito mais alto do que eu havia pensado. E enfim chegamos lá no topo. Comecei a suar frio sem olhar para baixo, mas então do nada eu olhei e... Caralho, que saudade da escola.

- Esse brinquedo aqui é bem conhecido. - Comentou meu irmão.

- Lógico, olha o tamanho. - Respondi de olhos fechados novamente.

- Não é por isso não. É que em 2012 uma garota caiu desse brinquedo daqui de cima, eu acho. - Abri os olhos ao ouvir isso. - Você travou bem teu cinto, né?... - Comecei a suar mais ainda sem saber se de fato travei.

- Eu não quero ver agora. - Fechei novamente os olhos e então o elevador desce...

Vamos pular agora o parque para eu continuar as partes mais intensas da minha história.

Estava com 11 anos de idade quando aconteceu um negócio que jamais pensei que iria acontecer.
Eu estava com uns amigos numa balada, era já por volta de uma hora da manhã, percebi que Kyler andava me ligando muito. Mas eu não queria saber, queria aproveitar como um adolescente qualquer, sem preocupações. Sim, com onze anos de idade, como descobriu?

Bebi, fumei, beijei muito. Não sabia se ia estar vivo no dia seguinte. Mas dia seguinte, eu estava. Com uma puta ressaca, com muita dor de cabeça e muita vontade de vomitar.
Me levantei da cama, não sei como, mas levantei. Fui ao banheiro e fiquei lá por muito tempo. Quando consegui vomitar, tomei um banho e aí sim, saí do banheiro.

- Onde você estava, cara? - Pergunta Kyler, muito puto comigo.

- Eu saí. Fala mais baixo por favor que estou morrendo de dor de cabeça. - Falei indo pra cozinha procurar algum remédio.

- Falar mais baixo? Cara, tu tem noção de quantas vezes eu te liguei? Não, né? Claro que não. Eu te liguei vinte e seis vezes, cara. VINTE E SEIS. - Gritou um pouco mais alto falando o "vinte e seis".

- Cara, não estou para sermão agora. Deixa eu tomar o remédio aqui que tenho que fazer coisa hoje. - Tentei falar o mais calmo possível.

- Tem o que para fazer? Sair para fazer merda com aqueles teus amigos vagabundos?

- É. Vou sair com eles sim. - Comecei alterar minha voz. - Porquê diferente de você, eles estão sempre comigo, eles me dão atenção, eles me ouvem, eles conversam comigo e foram eles que me ajudaram a ter um trabalho bom com o que eu gosto de fazer. Nem eu e nem eles ficam o dia todo com a merda da bunda no sofá só se preocupando com o que vai comer amanhã...

Só parei de falar porquê ele me deu um soco no nariz que me fez ir direto de costas na parede.

- Nunca mais olha na minha cara. - Falei e fui direto para meu quarto, fechei a porta e comecei a arrumar minha mala.

Para onde eu iria? O que eu ia fazer a seguir? Perguntas que ficavam rondando a minha mente. Saí do quarto com uma mochila nas costas, Kyler foi atrás de mim até a porta de casa, mas quando passei por ela, Kyler parou de me seguir.

Fui para a casa do meu amigo Chris. Tempinho depois estávamos no quarto dele bebendo e fumando.

- O que você vai fazer agora, Dylan? - Perguntou Chris.

- Vou voltar pra minha antiga cidade. Sei que Ash ainda precisa de mim lá. E é pra lá que vou. Consegue me arrumar duzentos?

- Você tem quanto?

- Estou com trezentos. Quero completar quinhentos. Te pago, sempre paguei.

- É, sempre que estava aqui né. Mas ok. - Ele foi até seu guarda roupa e me deu duzentos reais. - Se não pagar de volta, vou atrás de você. Amigos, amigos... Dinheiros a parte.

- Sim. Sei disso.

E então segui meu rumo. Pegando ônibus e ônibus até chegar na cidade vizinha da de Ashley. Como já estava de noite, fui procurar um local para dormir. Mas motel nenhum quis me aceitar por eu não ser maior de idade. Odiei isso, na época. Mas ok. Então, eu só tinha uma única opção restante, dormir na rua, e foi o que fiz.

Pois é, um garoto de onze anos de idade, perde a mãe num tiroteio na escola, vai para um orfanato, é assediado e zoado lá, recebe a notícia que vai perder a melhor amiga e seu grande amor, deixa ela pra ir morar com o irmão em outra cidade, briga feio com o irmão e apanha dele. Sai da casa do irmão com a vontade de voltar para perto da melhor amiga e no final do caminho tem que dormir na rua.

Escolhi um local não aconchegante, porquê é a rua, né gente, não tem local aconchegante. Me deitei e dormi. Aparentemente pouco tempo depois fui acordado com um chute na barriga. Rapidamente me levantei assustado e vi dois homens. Um armado, e outro só com uma pequena faca. Claro, o homem com arma era meu alvo, assim como eu era o dele.

Não me mexo, mas fiquei lá olhando nos olhos dele enquanto ele se aproximava. Já vi meu irmão brigando e treinava alguns movimentos que ele fazia também. Então rapidamente saí correndo dali. Eu também não era idiota de enfrentar alguém armado.

Porém, onze anos, um metro e cinquenta e cinco de altura, não muito rápido. Fui alcançado por eles. Mas antes deles me pegarem, eu agachei para um deles tropeçar em mim e cair. E por pura sorte foi o da arma, então ficou mais vulnerável, consegui pegar a arma dele e apontei para o que estava com a faca.

- Você não quer fazer isso, garoto. - Disse o da faca, colocando as mãos para cima.

- Ah, eu quero. Joga a faca aqui pra mim ou eu atiro na merda da sua cara. - Falei indo para trás. Não estava funcionando, eu estava fugindo dele. Eu tinha que ir até ele, não demonstrar medo, e sim superioridade.

Caminho até ele apontando exatamente para a sua cabeça.

- Me dá a merda da faca. - Estendi minha mão e falei com a voz mais rígida.

E então ele me entrega a faca. Num espaço de tempo bem curto, vi por cima do ombro o outro homem vindo para cima de mim. Em um movimento rápido eu consegui me desviar dele e sem pensar muito, apertei o gatilho. "Pow".

O vi caindo no chão, já sem vida. E o outro homem? Me olhou horrorizado e saiu correndo se perdendo na noite.

Porra, o que eu faço? O que eu faria ali? Eu não sabia se deixava o corpo ali, não sabia o que fazer com a arma. Mas resolvi limpar minhas digitais (lembrando que eu sabia disso pois com oito anos comecei a assistir filmes de ação, desse tipo), então, coloquei arma na mão do homem morto, com um tiro na cabeça... suicídio? Pode ser.

Dia seguinte, eu já nem ligava para mais nada, só peguei o último ônibus e fui para a cidade de Ashley. 12:50, era a hora que ela saía da escola, então nesse horário, lá estava eu, de volta àquela escola maldita. A vi passando pelo portão, e estava mais linda ainda. Continuava com seus cabelos ondulados até os ombros. E suas mãos... Calma aí, tinha alguém segurando as mãos dela...

Olhei mais para cima e vi Peter... O filho da diretora do Orfanato segurando a mão de Ashley e... Se despediu dela com um selinho... Não, há há... Eu não vi isso... Até que Ashley me olhou.

Um Dia Muda Uma Vida (Em Revisão)Onde histórias criam vida. Descubra agora