Quando encontramos uma situação que nos dá gatilhos, todos os seus titãs saem das suas memórias, seus próprios pedaços a estilhaçam.
Deveria consolar o outro? Se despedaçar pela outra despedaçada, fragmentada em milhões de pedacinhos escondidos debaixo das mesas e cadeiras.
Até que ponto deveria partir nossa carne para rebocar as rachaduras na casca dos outros? Deveria também um melancólico coração se quebrar para provar a si mesmo sua força cheia de fraquezas? Não dá pra saber. Só você pode saber até onde vai.
Até onde deixa suas inseguranças dominarem seus membros e quebra e corrói a carne dos outros? Porque veja só, as rachaduras são transmissíveis. Eu vejo, sim, as minhas e vejo as suas. Se não consertar vai esmigalhar outras carnes inocentes a que você diz amar.
Se isolar é futilidade, mas a delícia do vazio amargo parece viciar a contragosto a medida que as depressões aumentam as fissuras da sua própria pele e liberta das grades seus ciclopes e hecatônquiros raivosos de um cento de razões para sua própria desgraça.
Então você não se mexe. Sequer geme. Seus monstros mitológicos lutam para tomar o controle, enquanto você só implora para sair do seu próprio submundo e tomar as rédeas das suas fibras musculares enfraquecidas pelo despedaçamento da instabilidade resultante da incompetência dos outros quebrados de não terem cimentado os próprios buracos e goteiras.
Agora você está cheio de salina e não importam os dias quentes, na chuva elas voltam a inchar e mofar. A genética da construção tem veneno escondido nas entrelinhas, injetado pelo mal presente na existência humana, incapaz de ser aniquilado por meros seres tão esmiuçados como nós.
Veja bem cana seca, você é palha temporária e se não consegue enxergar a própria putrefação está fadado a cair em desgraças além da sua imaginação pífia e sórdida de ser humano tão quebrado quanto qualquer despedaçado.
Sim, um um pouco de raiva do próprio vazio tão infinitamente insignificante e colossal dentro de você e eu. Como pode ter tanto e ter nada? Inversamente proporcional a toda lógica e boa razão, e quem disse que a salina procura razões para corroer as paredes rachadas dos meus, dos seus ossos?
Ah quanta coisa emana de mim e meus dedos expressam em hora tão fadada a emoções quanto a ausência de luz interna.
Talvez as fissuras façam a luz entrar e encher meu pote craquelado, quase em implosão, de luz e como última dos itens descobertos por Pandora
a Esperança.

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DESPEDAÇOS
Não FicçãoMonólogos, poemas, poesias e semelhantes carregados de melancolia e às vezes uma pitada de esperança. Conjunto de poesias, monólogos, one-shots e/ou contos.