Capítulo 6 ☕

2.1K 222 11
                                    


"Um me ensinou o amor
Um me ensinou paciência
E um me ensinou dor"
(Thank u, next - Ariana Grande )


# Arquivo não oficial e não revisado #


LÍVIA BLOOM

A semana passou voando e em meio a muitos cafés e bolos agradeço por amanhã ser domingo e eu poder esticar as minhas perninhas no sofá. 

Marcos me acompanhou até em casa todos os dias. Acabamos conversando sobre algumas coisas aleatórias e estou descobrindo um pouco mais sobre ele. Apesar de ser sério ele é muito agradável e gentil comigo, o que é péssimo pra me deixar confusa.

Todo domingo minha irmã e eu fazemos um café da manhã lá em casa. Em geral eu só compro as coisas aqui na cafeteria e arrumo a mesa. Simples, eficiente e delicioso. Infelizmente o café requentado não fica bom, acreditem, eu testei, então faço um em casa mesmo.

Eu amo essa tradição que criamos. Nossos pais faleceram quando éramos muito novas e fomos criadas por nossa Avó. Quando viemos para a cidade decidimos morar juntas, afinal era mais econômico e nos damos muito bem. Foram anos incríveis. Mas eu conheci o babaca número 6 e decidi ir morar com ele. Meu primeiro grande erro. Quando terminei, minha irmã já estava saindo com Jorge novamente. Eles foram namorados na faculdade e lembro que terminaram porque Jorge foi fazer uma pós-graduação fora do país, então quando se reencontraram não quiseram perder mais tempo e já foram morar logo juntos.

Eu não podia atrapalhar essa felicidade. Foi assim que aluguei meu apartamento atual e para não nos afastarmos mais inventamos o domingo de café e fofoca.

As vezes quebramos as regras e convidamos o Jorge, mas ele passa o tempo todo no vídeo game enquanto fofocamos. É ou não é o cunhado ideal?

Eu fiquei um pouco distante quando fui morar com o babaca número 6. Não é algo do qual me orgulho, mas aconteceu. Se eu marcasse algo com minha irmã ele se sentia mal, ou dizia que preferia ficar em casa e ainda inventava uma briga que me deixava culpada por querer sair sem ele. Então isso foi gradativamente me afastando dela e hoje eu sei o quanto a magoou.

Eu não percebia como as coisas eram enquanto estava com ele. Lembro que assim que terminamos, eu estava na minha casa nova, praticamente vazia mexendo no celular, quando vi um "Quiz" desses de clickbait com o título de "Em que categoria se encaixa o seu relacionamento". Na mesma hora a resposta veio na ponta da minha língua.

- Na categoria dos cornos.

Seria bom se a resposta fosse essa. Mas sem ter muito o que fazer respondi, e algumas das respostas eram exatamente como o meu ex.

 ✅ Desincentiva suas realizações e objetivos.

Ele dizia bastante que eu devia desistir da escrita. Não gostava dos meus textos que envolviam sexo e por causa disso eu escrevi muitos livros sem esse tipo de descrição.

✅ A culpa por como ele age.

Isso realmente acontecia. Nas vezes em que brigávamos ele dizia que só estava fazendo isso porque eu o instigava. E eu fui parando de respondê-lo com o tempo.

✅ Te afasta de parente e amigos.

✅ Faz você se sentir incapaz de tomar decisões.

✅ Te diminui.

A cada check marcado eu refletia sobre a nossa relação. Quando veio o resultado eu fiquei olhando para o celular por 10 minutos, tentando absorver o que dizia.

"Você está em um relacionamento abusivo. O melhor é se afastar e buscar a ajuda de um terapeuta profissional. Relações abusivas são difíceis de serem detectadas. Perceber que você está nesse tipo de relação é o primeiro passo."

Um único QUIZ me fez repensar dois anos de namoro. Quando consegui voltar a mim, tentei negar, pensar que não era esse o nosso caso e comecei a procurar no Google sobre o assunto. E com as buscas a realidade só pesava mais.

Em uma dessas buscas achei uma postagem da Mariana, que atualmente é minha terapeuta e desde então tenho tentado limpar a minha mente dos pensamentos que me foram impostos.

É muito difícil descobrir o que é realmente um pensamento seu ou o que te foi imposto, mas estou trabalhando nisso incansavelmente.

Depois da terapia consegui me abrir com minha irmã e falar um pouco sobre o que acontecia. Isso a fez entender o que eu tinha passado e buscar nos manter ainda mais próximas. Então esse café de domingo é a nossa promessa de nunca mais nos afastar. E eu estou comprometida a isso.

O movimento começou a diminuir na cafeteria agora de tarde e recebo uma mensagem da minha irmã.

LAURA: Liv, amanhã eu vou bem cedo com o Jorge fechar o contrato dos bem-casados. Posso levar meu acompanhante para o nosso café?

LÍVIA: Só se vocês vierem com alguns bem-casados escondidos na bolsa.

LAURA: KKKKKK fechado! O Marcos deve dormir na sua casa hoje né? Eles fazem companhia um para o outro enquanto a gente fofoca.

- Puta Merda! - Falo alto demais e lembro que ainda estou na cafeteira.

Marcos olha para mim meio assustado achando que fiz alguma besteira no caixa.

- Está tudo bem? O que deu errado aí? - Diz enquanto se aproxima.

- Laura.

- O que aconteceu com ela? Ela está bem? - Seu desespero é palpável e isso aquece meu coração. Ver que ele se preocupa com a minha irmã mesmo a tendo visto apenas uma vez.

- Ela está bem, não é nada disso. A gente toma café da manhã todo domingo juntas e dessa vez o Jorge vai também.

- Ok, ainda não vi o problema.

- Ela deduziu que você, como meu namorado... eh... - Tento criar coragem pra completar essa frase. - Você... - Decido jogar tudo de uma vez. - Dormiria lá em casa hoje e por isso participaria do café da manhã.

- Oh – Diz com os olhos meio arregalados, quando entende o que digo.

- É... - Falo meio triste.

- Que horas vai ser esse café? - Não consigo disfarçar a surpresa dessa pergunta.

- Marcamos as 10 horas amanhã.

- Posso chegar um pouco antes e fingimos que eu passei a noite lá.

- Você faria isso?

- Você trabalhou bem aqui essa semana, nada mais justo.

- AI MEU DEUS! - Dou um gritinho o abraçando e vejo Amanda atrás dele levantar as sobrancelhas e sorrir, o que me faz perceber que me excedi novamente – Desculpe, juro que vou parar com os abraços.

- Melhor. - Fala meio baixo e eu gostaria de abraçá-lo novamente pelo favor e socar o seu rosto por essa última frase.

- Vou avisar à Laura, valeu mesmo.

Ele sai andando sem responder enquanto eu mando mensagem para a minha irmã.

LIVIA: Tá ótimo. Até amanhã mana.

Prefiro não dizer que ele vai dormir lá em casa, assim eu estaria apenas omitindo e não mentindo. Isso parece um pouco melhor para a minha consciência.


☕☕☕

Reserva na mesa 08Onde histórias criam vida. Descubra agora